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Encontrados 28 textos de fevereiro de 2013. Exibindo página 1 de 3.
28/02/2013 -
Chorante
Chora o sabiá na dobra da janela. Chora o sol nos quartos da lua. Chora o serrote no cerne do jequitibá. Chora o tempo nas voltas do relógio. Chora o grilo em roçadas de pernas. Chora o broto rompendo o chão. Chora a cortina que fecha o espetáculo. Chora o buquê pela separação da noiva. Choram as paralelas por viveram lado a lado e não se cruzarem nunca. Chora a garrafa vazia nas mãos de um bêbado. Chora a cigarra esperando a chuva. Chora o violão nos braços dos desafinados.
Chora o lavrador no meio da estiagem. Chora a amora lágrimas de sangue doce. Chora as palavras a cada investida da borracha. Chora o pescador pelos peixes que não pescou. Chora a bailarina condenada ao silêncio. Chora o peito flechado de solidão. Chora a saudade em cada uma de suas camadas. Chora o destino que não vingou. Chora o mar no balanço das ondas. Chora a cebola na ponta da faca. Chora o sereno no hálito da madrugada. Chora o galo fechando o dia no alto do mourão.
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27/02/2013 -
Senitudes
Sem rumo, sem passo, sem prumo. Sem nada, sem tudo. Sem abraço, sem esculacho, sem acima ou abaixo. Sem estrada, sem som, sem parada. Sem veludo, sem agenda, sem fundo. Sem prenda, sem mundo, sem renda. Sem preço, sem merenda, sem tenda. Sem endereço, sem venda, sem direção. Sem apreço, sem lenda, sem sim ou não. Sem jardim, sem canção, sem camarim. Sem tela, sem novela, sem tramela. Sem solidão, sem fim, sem essa ou aquela...
Sem folha, sem vinho, sem escolha. Sem caminho, sem sorriso, sem juízo. Sem luz, sem ser preciso, sem cruz. Sem ninho, sem friso, sem brilho. Sem trilho, sem moradia, sem fantasia. Sem dança, sem volta, sem esperança. Sem nota, sem alegria, sem rio. Sem mio, sem nostalgia, sem vazio. Sem rota, sem plurais, sem casais. Sem ar, sem gostar, sem falar. Sem dinheiro, sem praia, sem coqueiro. Sem cheiro, sem saia, sem estar inteiro. Sem adeus, sem deus, sem ateus...
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26/02/2013 -
Olhações
Olhos de fumaça que não me enxergam. Olhos de garça que se abrem para o céu numa envergadura de deixar qualquer um boquiaberto. Olhos de pirraça que só enquadram o que bem querem. Olhos cheios de graça que brilha e encantam, e cantam e brilham. Olhos no meio da praça entre sombras, coretos e árvores. Olhos de massa de modelar ganhando formas nas mãos de criança. Olhos de arruaça e de pintanças, cheios de meninices e danças. Olhos de amaçam, que de repente cercam como cortinas de teatro. Olhos de massa, servidos como um prato de espaguete....
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Comentários (3)
25/02/2013 -
Bis
Bis. Bis com aplausos. Bis de cantorias. Bis de chocolate branco, preto, de limão, de caramelo, de frutas vermelhas. Bis de sonho. Bis de tuti-fruti. Bis de romance. Bis de beijo. Bis de afago. Bis de pecado. Bis de bons momentos. Bis de salário. Bis de leitura. Bis de liberdade. Bis de vontade e de força de vontade. Bis de bombom. Bis de sorte. Bis de final-de-semana. Bis de cura. Bis de cachaça. Bis de parto. Bis de novidade. Bis de recomeço. Bis de folclore. Bis de festa. Bis de abraço. Bis de colo. Bis de deus. Bis de nuvem. Bis de drama. Bis de trama. Bis de cama. Bis de comunhão. Bis de saudade. Bis de ternura. Bis de expectativa. Bis de luz. ...
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24/02/2013 -
Doramento
Dói saber que a dor do mundo lhe corrói numa doração sem começo, sentido ou fundo. Dói não compreender a razão de se estar nessa vida a esperar por milagres, por surpresas ou pela própria morte. Dói estar aqui e a ali ao mesmo tempo e, na verdade, não estar em lugar algum. Dói ter os pés presos ao chão e a cabeça nas nuvens. Dói ver o tempo, com oportunidades e saudades na bagagem, passar e se perder da sua vista. Dói o florista passar direto por sua porta. Dói toda descrença. Dói saber que ninguém se importa com sua dor. Dói saber que se pode viver perfeitamente sua presença. Dói terem o amor como um vírus, uma cólera, uma doença....
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23/02/2013 -
Liberte-se
Chega de escravidão, de submissão, de resignação. É hora de quebrar as correntes, de entortar os grilhões, de fugir as prisões reais e imaginárias. Basta de se curvar aos senhores de escravos, dos mansos aos bravos. Basta de ter seu destino traçado. Basta de viver feito pássaro engaiolado. Asas foram feitas para ser abertas. Liberdade foi feita para ser vivida e não mantida em cativeiro em constituições empoeiradas. A escravidão na vida, na religião, na rua, no trabalho, no coração, judia, castiga, chicoteia, esfola, mata......
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22/02/2013 -
Mojubá
Mojubá uma saudação, um louvamento, um título. Mojubá é uma expressão que faz referência ao começo de tudo e ao infinito. Mojubá está ligada ao mensageiro supremo, ao comunicador nato, ao falante. Mojubá indica grandeza, respeito, reverência. Mojubá redimensiona suas atitudes, sonhos e ações. Mojubá é uma expressão que quer dizer mil coisas: De “apresentando meu humilde respeito” a “bem-vindo à roda”. Mojubá é uma roda viva, movimentada pela força da criação.
Mojubá é onde está o axé. Mojubá é o vem em primeiro lugar. Mojubá é a ponte entre o material e o astral. Mojubá é a irreverência, a alegria, a sensualidade das coisas. Mojubá é o culto à fertilidade de ideias e sentimentos. Mojubá é sutileza e astúcia. Mojubá é o que provoca, o que inspira, o que constrói, desconstrói e reconstrói. Mojubá é o que lhe satisfaz, é o que lhe encontra, o que lhe liberta. Mojubá é o que abre, destranca e ilumina seus caminhos.
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21/02/2013 -
Acorda Mangueira
Mangueira, acorda Mangueira, cadê o tambor? O silêncio reina soberano na avenida sem o seu fervor, o seu fervor Mangueira. É hora de bater tambor. Tambor verde. Tambor rosa. O trem da fantasia precisa sair da Estação Primeira para o mundo, perdido em desamor e solidão. Está na hora do coração folião fazer a diferença, de Mangueira marcar presença, transformando a cidade num enorme barracão de alegorias e enredos. Que cada corpo branco, preto, mulato seja uma extensão da quadra de Mangueira, de segunda a segunda-feira....
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20/02/2013 -
Quero ser nada
Quero ser nada, como o vento da volta que sopra de mãos vazias depois de espalhar sementes e notícias pelos trópicos. Quero ser nada, feito folha que cai sem vontade de ficar presa a lugar algum. Quero ser nada, a exemplo da lua nova que submerge sem cor pela escuridão. Quero ser nada, feito agenda de preguiçoso. Quero ser nada, no melhor estilo de uma prece sem fé. Quero ser nada, seguindo por aí feito boca de quem não come há dias. Quero ser nada, como teoria que não leva a lugar algum.
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19/02/2013 -
Uma ilha, por favor
Todo sonhador sonha morar em uma ilha. E eu sonho em viver num desses pedaços de terra desconexos dessa massa continental. Independentemente da distância e do tamanho, uma ilha é sempre uma ilha. Por mais perto do continente que esteja, só de estar em uma ilha viverei a sensação de ter água por todos as lados, de estar isolado de tudo e de todos, de ser uma espécie de náufrago, de sobrevivente, de explorador do desconhecido.
O sonho de habitar uma ilha pode não ser original ou pertinente, mas tem estilo. De preferência, quero uma ilha antiga, dessas tradicionais, com coqueiros e mata virgem. Nada de ilhas badaladas, com festas e resorts. Quero uma ilha que seja cúmplice da minha poesia mais pura e dos meus sentimentos mais selvagens. Sonho com uma ilha com dias de sol escaldante, tardes de tempestade e noites com brisa por todos os cantos. ...
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