Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 30 textos de junho de 2012. Exibindo página 3 de 3.

10/06/2012 - Bêbado de sonhos

Sonho que é sonho não perde a validade. Corre rio, quebra mar, cai chuva, passa tempo e o sonho, que é de verdade, continua valendo. Há sonhos que ralham, que perdem a vitalidade, mas, que com um pouco de cuidado e boa-vontade crescem do dia para a noite. Sonhos não precisam ter aparência inteira, perfeita, impecável, para serem fortes. Basta ver a lua minguante, que mesmo faltando um pedaço, é soberana no céu.

Há sonhos que com o avançar dos anos ficam mais encorpados como bons vinhos. E é sempre válido se embebedar de um ou de outro sonho. Bêbado de sonhos, eis o ápice da existência. Dizem que sonhar não custa nada. Porém, sonhar custa tempo, espaço, energia exterior e interior. Mas quem se importa em entregar tudo o que tem e o que é para viver um sonho? Sonhar é fabricar o seu próprio mundo, manipular seu destino, existir pra valer....
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09/06/2012 - Botox da alma

Nunca mais quero ser tão só. Ser tão sozinho. Ser tão eu sem você. O amor é uma espécie de botox da alma, preenche todos os espaços vazios. O amor é a completude do ser, a integralidade das coisas, a extensão do corpo em outro corpo. Não existe melhor remédio contra a solidão e suas consequências do que uma generosa dose de amor. O amor é prova e contraprova de sentimento. O amor são milhões de palavras em meio segundo de silêncio. O amor é a canção espontânea, semente instantânea de loucura. O amor liga destinos, soma vontades, subtrai saudades, une pontos em comum, ou não. ...
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08/06/2012 - Louco de pedra

Alguém me interne, por favor! Eu estou surtado. Uivo quando vejo a lua, choro com a chuva e viro pedra ao sol. Já espalhei meus retratos falados pelas esquinas. Minhas pupilas giram, giram, giram como bailarinas. Já pulei da ponte. Já rasguei dinheiro. Já passei pro outro lado do espelho. Mais do que conversar, eu bebo com deus. Corra da polícia, enfrento ladrão. Durmo de ponta-cabeça. O remédio é a minha doença. Já me benzi com as rezas dos ateus. Caio em pé. Corro atrás da minha própria sombra. Sou um sonho-bomba, explodo a qualquer hora, em qualquer lugar. Eu recebo a bala. Eu sou o ponto final na capa do livro. ...
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07/06/2012 - Aconselhamentos

Não medre além de seus medos. Não fale além de sua língua. Não corra além de seus olhos. Não planeje além de seu fôlego. Não dance além da música. Não voe além da última estrela. Não provoque além da conta. Não conte além dos segredos. Não destine além do seu destino. Não queime além de sua chama interior. Não coma além de sua fome. Não beba além de sua mágoa. Não perdoe além dos seus limites. Não comemore além da vitória. Não floresça além de seu tempo.

Não chova além da sua tempestade. Não volte além de seus receios. Não brinque além do seu gosto. Não clareie além da sua sombra. Não responda além das perguntas. Não bata além do afeto. Não leve além do que trouxe. Não durma além do sonho. Não grite além do silêncio. Não deseje além do impossível. Não condene além da culpa. Não confie além do blefe. Não problematize além dos problemas. Não abrace além dos braços. Não se arrisque além do risco. Não espere além da esperança....
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06/06/2012 - Funcionalidades...

Pássaro que não voa. Viola que não canta. Trem que não apita. Boca que não beija. Bruxa que não pragueja. Telefone que não toca. Sol que não acende. Mar que não quebra. Fruta que não amadurece. Faca que não corta. Planta que não cresce. Fofoca que não se espalha. Segredo que não se esconde. Cachorro que não morde. Fé que não consola. Vela que não queima. Paixão que não dói. Promessa que não se cumpre. Porteira que não se rompe. Caminho que não caminha.

Árvore que não dá sombra. Comida que não enche. Cavalo que não pula. Lápis que não escreve. Noiva que não atrasa. Janela que não espia. Dobradiça que não dobra. Sino que não bate. Coberta que não esquenta. Café que não cheira. Mundo que não gira. Avião que não decola. Cheque que não cai. Primavera que não floresce. Livro que não termina. Relógio que não se movimenta. Ponte que não volta. Perfume que não cheira. Começo que não recomeça. Amor que não sofre. ...
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05/06/2012 - Tempo soberano

Iroko I Só! Eeró! O tempo é o senhor de tudo. O tempo é o senhor de todos. O tempo é quem governa. O tempo é maior que a vida, o tempo é a maior que a morte. O tempo é Iroko. Iroko I Só! Eeró! Iroko é a primeira árvore plantada, a árvore pela qual todos os orixás desceram a Terra. Toda criação está relacionada ao tempo e às temporalidades. Iroko manda no tempo, no espaço e no destino de todos nós. Aos seus pés, são colocadas oferendas às feiticeiras. Aos seus pés, pede-se cura e proteção. Aos seus pés, entregamos-nos ao tempo. Que o tempo faça justiça. Que o tempo melhore as coisas. Que o tempo nos seja brando. Que o tempo nos seja fértil. Que o tempo nos receba de braços abertos. Iroko I Só! Eeró!...
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04/06/2012 - Sem-nada

Sem-terra. Sem-cor. Sem-vida. Sem-dor. Sem-expectativa. Sem-teto. Sem-sossego. Sem-fé. Sem-dinheiro. Sem-esperança. Sem-dó. Sem-misericórdia. Sem-pecado. Sem-culpa. Sem-canção. Sem-poesia. Sem-amor. Sem-luz. Sem-roupa. Sem-hipocrisia. Sem-história. Sem-juros. Sem-promessa. Sem-remédio. Sem-nuvem. Sem-solução. Sem-perdão. Sem-sistema. Sem-segurança. Sem-educação. Sem-vida. Sem-beleza. Sem-corte. Sem-bilhete. Sem-vela. Sem-gosto. Sem-sinal. Sem afeto. Sem-liberdade. Sem-vento. Sem-sorte. Sem-fundo. Sem-rumo. ...
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03/06/2012 - Nanã salubou

Nanã trouxe a chuva quando tudo era sertão. A chuva, sangue de Nanã, apagou o fogo, apagou o pó, apagou a morte. A chuva de Nanã devolveu a cor às almas desbotadas. Chuva lilás. Chuva arroxeada. Chuva ametista. A chuva de Nanã veio sem avisar, sem pedir licença. Chegou e choveu. Chegou chovendo. Assim é Nanã, a velha ousada que mora no pântano e governa a chuva. Não foi tempestade de Iansã. Foi chuva mansa, que cala fundo na terra e forma a lama de Nanã que molda novos homens, novas mulheres.
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02/06/2012 - Boca fechada

A duras penas, aprendi a viver em silêncio. De tanto falar a ouvidos não gratos, hoje caminho de lábios serrados. Minha língua não fala a língua dos homens, mas a língua das pedras. Somente as pedras estão a salvo de fofocas, invejas, calúnias e outros males causados pela língua. Hoje eu falo mais comigo do que com qualquer outra pessoa. A quietude é minha nova identidade. Meus verbos vivem às sombras e minhas canções são entoadas caladas como a lua.

Não há outro remédio para evitar o mal do que silenciar. Cale-se de manhã, de tarde, de noite. Os ouvidos alheios têm espinhos que quase sempre ferem suas palavras. Falar demais é se despir totalmente. E criaturas despidas são frágeis, vulneráveis, mortais. A fala em demasia empobrece o espírito, porque a tendência daqueles que lhe escutam é roubar o conteúdo e o significado das suas palavras. Ouça um bom conselho: guarde suas palavras antes que se perca delas. Palavras perdidas são vidas caídas....
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01/06/2012 - Dez anos sem Mário Lago

Há dez anos perdemos o artista que conseguiu unir com maestria o popular e a elegância em um mesmo palco. Há uma década estamos órfãos daquele que foi traído pelo tempo, com o qual tinha um acordo de viver eternamente. Perdemos o artista do coloquial, do improviso, do riso engajado. Há dez anos a partida do ator, do compositor, do jornalista, do escritor, do militante da política e da poesia nos deixou um vazio não preenchido. Sem Mário, sofremos de uma espécie de enfisema que não nos causa falta de ar, mas falta de arte. ...
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