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Encontrados 31 textos de março de 2012. Exibindo página 3 de 4.
11/03/2012 -
Prosa de bijuteria
Entre olhares de pedrarias e beijos de miçangas eu lhe encontro no colo dos colares. Sigo em seu corpo como um pingente folheado de desejo. Contas de saudade, fios de esperança. Uma sequência de pequenos detalhes. Cada argola é uma nova aliança, um novo voto, um novo casamento. E que nosso tempo não tenha fecho. Mas se tiver, que o fecho esteja quebrado. Abraços de couro. E uma paixão semipreciosa, presa em nós e mais nós de marinheiro.
Que nossos genes se cruzem nos emaranhados dos colares que seguem em seu colo. Que nosso destino seja o destino das pérolas brancas, negras, rosas, madrepérolas que laçam seu pescoço. Que nos casemos tão bem quanto as pedras e as fitas. Que as sementes de ilusão despertem num futuro próximo. Que haja equilíbrio perfeito entre o brilho e o fosco, entre o rústico e o sofisticado, entre o bruto e o delicado assim como entre você e eu....
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10/03/2012 -
Sansão ganhou o céu dos cachorros
Sem você não há mais sentido passar na padaria. Para quem eu vou dar pão cedinho? Não acredito que não vou mais lhe ver correndo de olhos fechados pelo jardim em busca do seu pão. O quintal está num silêncio difícil de aceitar. Por que foi partir assim tão rápido? Ainda tínhamos tanto a viver, a correr, a cantar juntos. Lírico, uivava à lua. Místico, conversava toda meia-noite com criaturas invisíveis. Tinha algo de humano e de sobrenatural em sua existência canina.
Sansão, o nome do guerreiro com o qual foi batizado não combinava com você. Embora fosse grande, era frágil e medroso. O típico cão que ladra e não morde. E a força não estava em seus cabelos, mas em seu estômago. Comia de um tudo e sem parar, numa ânsia, numa intensidade, numa capacidade constante de se superar a cada prato. E tinha o coração maior que o mundo. Um solitário apaixonado pela vida e com uma insegurança de dar água nos olhos....
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09/03/2012 -
Preto velho adorai, saravá!
Preto velho que me acompanha para lá e pra cá, saravá! Preto velho que veio de Luanda, vamos pro Congá ao lado do nosso orixá! Preto velho que trabalha nas linhas das almas, ampara, oi, ampara a minha fé. Preto velho que é meu protetor, com cachimbo na mão, axé, ô ô. Preto velho é, Preto velho é Egun no Candomblé. Preto velho que é do batuque e do canjerê, bate tambor, oi bate tambor que eu quero ver. Adorei as minhas almas, as minhas santas almas, preto velho chegou na batida das palmas.
...
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08/03/2012 -
Mulher, Mulheres
Parabéns à mulher-poesia versada pelos poetas e cantada pelos menestréis, à mulher-objeto vendida em reclames publicitários e à mulher-bandeira, que defende sua liberdade, seus direitos, sua felicidade. Parabéns à mulher-nuvem, que está sempre acima de tudo e de todos. Parabéns à mulher oceano navegada e saqueada por piratas, à mulher-de-ninar rodeada de sonhos e à mulher alfazema que chega trazendo uma primavera de cheiros e cores.
Parabéns à mulher-bem-te-vi que canta alardeando sua presença, à mulher-divina sempre onipresente, onisciente e onipotente e à mulher-quântica que nunca se mede. Parabéns à mulher-humana e à mulher-sobre-humana. Parabéns à mulher-papel que se dobra em tantas dobras e ainda forma um lindo origami. Parabéns à mulher-destino que nunca se destina. Parabéns à mulher-pirofágia que está sempre brincando com fogo sem jamais se queimar. ...
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07/03/2012 -
Caminhante da noite
Ah! Se eu pudesse abrir a janela da noite e sair caminhando em direção à linha do horizonte. Seguiria meu destino pisando em nuvens, tropeçando em vagalumes, desviando de teco-tecos. Tiraria a roupa e os sapatos porque os astros e as estrelas andam nus. Deus também anda nu, tanto que assim nos entregou à Terra e assim nos recebe de volta. Por falar no divino, caminharia roçando os pensamentos os anjos do baixo clero. Flutuaria, planaria, boiaria, volitaria, voaria, ascenderia...
Sentir-me-ia como uma antítese de Apolo. Ao contrário do sol, a minha carruagem traria os encantos noturnos. Pisaria metaforicamente nas cidades iluminadas. Velejaria pelas luzes e velaria com atenção os jantares à luz de vela, as rezas em torno de uma vela, a vela sobre um bolo de aniversário, o samba da vela e as velas que margeiam um corpo já sem vida. Se eu pudesse abrir a janela deixaria a noite entrar em mim e nessa sala de modo que ela varresse dos nossos organismos todo resquício de sol.
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06/03/2012 -
Quero perder
Cansei de ganhar, agora quero perder. Quero perder a cabeça por entre as estrelas, perder o rumo na trilha da mulher amada, perder a noção do tempo jogando fora todo e qualquer relógio. Quero perder o passo num intervalo de tango, perder o tom imitando pássaros, perder a lógica num número irracional. Quero perder a fala numa boca recheada de silêncio, perder o horizonte ao abrir as asas, perder a consciência ao me entregar ao sonho.
Quero perder peso para caminhar flutuando em direção à lua rapunzel, perder o destino nas malhas das parcas, perder o riso na explosão do pranto. Quero perder a saudade a cada reencontro, perder a oportunidade de voltar atrás, perder a imagem que é um fardo para a memória. Quero perder o medo de não ter medo, perder a combinação dos segredos públicos e privados que carrego comigo, perder a crença no possível para crer apenas no impossível. ...
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05/03/2012 -
Seletas lembranças
Amanhã, eu não quero me lembrar das histórias que não vivi, das árvores que não plantei, dos sorrisos que não experimentei, dos livros que não escrevi, dos passos que não dancei, das lutas que não tentei vencer, das viagens que não me levaram a lugar algum.
Amanhã, eu não quero me lembrar dos caminhos que deixei, dos retratos que não estou, dos mares que não cruzei, das chuvas que não tomei, das dores sem remédio, dos doces que não roubei, dos abraços que não ganhei.
Amanhã, eu não quero me lembrar dos deuses que não chamei, dos sonhos que não me dei, dos espelhos que não me vi, das palavras que não entoei, dos segredos que não descobri, dos céus que não voei, dos destinos que eu queimei.
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04/03/2012 -
Quero-te-bem meu bem
Quero-te-bem meu bem por todo tempo que há e ainda houver entre nós. Quero-te-bem meu bem à flor da melodia. Quero-te-bem meu bem para sempre se sempre isso nos permitir. Quero-te-bem meu bem e não sei pensar ou dizer outro querer. Quero-te-bem meu bem pode confiar, acreditar e esperar nessa afirmação. Quero-te-bem meu bem em todo lugar, fazendo da lua, da rua, do eu corpo o meu lar. Quero-te-bem meu bem, amém...
Quero-te-bem meu bem em toda e sob quaisquer circunstâncias. Quero-te-bem meu bem num querer sem medida. Quero-te-bem meu bem para além de chegadas e partidas. Quero-te-bem meu bem em todas as escalas do sentimento. Quero-te-bem meu bem em fases adultas, adolescentes e infantis. Quero-te-bem meu bem sem respeitas limites, regras ou padrões pré-estabelecidos. Quero-te-bem meu bem a cada pecado ainda não cometido. ...
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03/03/2012 -
É Eliana Calmon
Quem é aquela mulher de palavras tão afiadas quão o machado de Xangô? Quem é aquela mulher forjada no fogo e no vento dos orixás? Quem é aquela mulher que mais parece uma Santa Bárbara de toga? Quem é aquela mulher temporal de sentimento? Quem é aquela mulher, guerreira por natureza, que não se desvia um milímetro sequer de suas ideias e de seus ideais? Quem é aquela mulher que casa as buscas por sabedoria e justiça de forma tão perfeita?
Quem é aquela mulher que seduz pela força de suas palavras, pela intensidade de seus atos, pela paixão que exterioriza em suas batalhas? Quem é aquela mulher que não se esconde por detrás de um título ou de um cargo? Quem é aquela mulher que abraça os rituais processuais e místicos? Quem é a mulher que transcende aos reinados de Oyó? Quem é aquela mulher que quebra as demandas judiciais e destranca o caminho da esperança? Quem é aquela mulher múltipla?...
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02/03/2012 -
Variações sobre Érika Jucá Kokay
Érika Kokay poderia ser Érika Kokar, em referência ao cocar dos indígenas, das linhas e falanges que a acompanham. Salve os caboclos índios e caboclos de penas, salve as caboclas de Iemanjá. Caboclas Yara, Jandira, Sete Conchas... Érika é árvore, Jucá, a árvore de madeira dura e de flores amarelas que os indígenas usavam para fazer tacapes e curar feridas.
Érika é rio, rio Jucá, que sangra doce pelo solo árido do Ceará. Rio em cujas margens viviam diversas etnias Tapuias, dentre elas os Jucá. Érika é a força, a luz e a energia que estão em toda parte. Érika está em plena comunhão com as forças vivas do planeta. Érika é o movimento, o fluxo contínuo, a jornada permanente de um cometa. ...
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