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Encontrados 31 textos de março de 2012. Exibindo página 2 de 4.
21/03/2012 -
Morando no espaço
Moro na noite. Meu jardim é feito de flores de escuridão. Guardo meus sonhos nas fendas da lua. Respiro galáxias e faço compras em Júpiter. Namoro em Vênus me enroscando nos anéis de Saturno. Tropeço em vários objetos astronômicos. Brinco com forças gravitacionais e giro em torno de um centro de massa comum. Sou vizinho de Andrômeda. Viajo a anos-luz cavalgando em cometas. Pulo asteroides e me deito com estrelas cadentes. São milhões, bilhões, trilhões de estrelas. Cada qual com um desenho e um brilho diferentes. ...
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20/03/2012 -
Toda molhada
Ela chega molhada em casa cheirando à chuva. Seu cabelo escorre como um rio doce. Veleiros velejam pelas tempestades de seu corpo agitado. Suas palavras quebram como ondas. Sua boca está mais viva, trazendo o viço das plantas depois de uma noite de chuva. Chega aliviada como nuvem depois de descarregar seus raios e trovões. Dispensa sombrinhas e sapatos. Vem descalça pelas enxurradas, totalmente livre, dividindo as corredeiras com barquinhos de papel e olhares distraídos.
Sua pele vem úmida e semeada, como se cada pingo de chuva enterrasse a flor de seu tecido uma semente de desejo, ou de esperança, ou de felicidade. Brinca com as poças d’água. Em momento algum pensa em se esconder da chuva. Em determinado trecho, depois de absorver muito daquelas nuvens, ela passa a chover. E chove num contentamento de encher os olhos dos deuses da chuva. E quanto mais chove mais exala um frescor que causa suspiros e sons ainda não batizados. ...
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19/03/2012 -
Sal grosso
Sal grosso pra banho de descarrego. Sal grosso pra limpar o ambiente. Sal grosso pra cortar o mau-olhado. Foi Preto Velho quem falou, oi, foi Preto Velho quem mandou lavar meu corpo, minha casa, meus caminhos com sal grosso. A onda eletromagnética desse sal tem o mesmo comprimento da onda violeta. E violeta é de Nanã. O sal grosso é de Nanã, da velha que é do mundo desde que o mundo é mundo. Com o sal da manhã, com o sal em buquê, com o sal grosso, renovai-me, Preto Velho, Adorai, Nanã Buruquê, Salubá. ...
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18/03/2012 -
Deus customizado
Deus está de cara nova. Deus agora é paz e amor. Esqueçam aquele deus bíblico, das pestes do Egito, da crucificação de seu filho, do apocalipse. Deus deixou de ser rock’n roll e está mais light. Um deus manso, bossa-nova. Deus não anda mais com um trovão na mão, mas com uma varinha de condão. Deus não senta no trono, mas na geral, no meio da multidão. Deus deve até mesmo vibrar com algum time de futebol já que o mundo virou uma bola. Deus anda tão zen que não pega mais no pesado, tampouco arranca os cabelos por conta de suas criações. Deixou o mundo a cargo do livre-arbítrio, que funciona como uma espécie de piloto automático. ...
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17/03/2012 -
Apreendendo com as nuvens
O céu é uma aula à parte. A resposta que precisamos pode estar bem acima da nossa cabeça. As nuvens são espécies de professoras, de oráculos, de mensagens divinas. São bulas que dizem muito sobre os mistérios do mundo. As nuvens são a prova concreta e diária de que tudo passa. Nós, assim como árvores, animais e as próprias nuvens, estamos aqui na Terra de passagem, como os antigos gostam de dizer. As nuvens demonstram que tudo é passageiro e mutável. Cada hora elas estão de um jeito, adquirindo formatos diferentes. ...
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16/03/2012 -
Desburocratize-se
Descomplique o que não tem solução. Diariamente transforme pelo menos um de seus tantos não em sim. Desamarre a cara. Fale de felicidade como se ela – a felicidade – estivesse em suas mãos. Não perca tempo, tampouco se perca dele. Pelo contrário, encontre-se no tempo. Nem fale demais nem escute de menos. Respeite, na medida do possível, as medidas, as divididas, as partidas. Nem aceite tudo nem rejeito o mundo. Mergulhe fundo na alma humana e desdobre cada segundo.
Se for para sofrer que sofra com arte. Reinvente receitas de viver e de morrer. Deguste dose a dose de seu dia em diferentes cidades. Lembre-se: nem todo vinho é fácil. Transforme o ato de sorrir, mas sorrir com gosto, num fenômeno natural. Quebre as pedras de sal até encontrar um quê de açúcar. Convide seus dramas para uma dança. Absorva o mínimo necessário para viver. Quanto mais peso menos frequentes e mais baixos seus voos. Chacoalhe o silêncio até ele virar música; a sua música.
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15/03/2012 -
A dor segundo Schopenhauer
Schopenhauer tinha razão ao afirmar que o mundo não é mais do que uma representação. De um lado, o mundo-espaço, o mundo-tempo. De outro, o mundo-consciência íntima e subjetiva, que é mais profundo do que podemos imaginar. Nessa representação o homem se move por meio de suas paixões e aspirações. O homem como reflexo de sua vontade. Para o filósofo, nos realizamos e sofremos com nossas vontades. A humanidade refém de suas aspirações. O prazer é só a superação momentânea da dor. De fato, Schopenhauer, a dor é a única e verdadeira realidade. Tudo mais é ilusão, mentira, ópio. ...
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14/03/2012 -
O silêncio que mata
Depois do baile, os sapatos estarão no chão e os pés tatuados de notas musicais. Na planta dos pés, partituras inteiras. Pés com predominância de sol, de fá, de mi... Pés bailarinos silenciados de dor. Não da dor de calos ou bolhas de sangue, mas da dor do silêncio. Do silêncio nascido da ausência de música. Os músicos se perderam, os pares foram desfeitos e o salão ficou tão escuro quão noite sem vagalume. O corpo deserto e incerto como um eclipse que traz sempre a dúvida entre o temporário e o eterno. ...
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13/03/2012 -
Fale-me
Fale-me. Fale-me de suas esperanças, de suas danças, de suas crianças. Fale-me dos piratas e dos astronautas. Fale-me das suas manias e da sua anatomia. Fale-me das suas emoções, das suas proposições, das suas divagações. Fale-me dos seus roteiros, dos seus paradeiros, dos seus cruzeiros. Fale-me do que passa agora pela sua cabeça, da sua sentença, do que a faz propensa. Fale-me dos seus medos, dos seus segredos, dos seus passaredos.
Fale-me. Fale-me do seu céu, do seu papel, da sua torre de babel. Fale-me das suas dificuldades, das suas saudades, das suas calamidades. Fale-me das suas bebidas, das suas partidas e das suas faces proibidas. Fale-me dos seus desertos e do que a deixa por perto. Fala-me das suas encruzilhadas e das suas ciladas. Fale-me dos seus projetos, dos seus prediletos, dos seus fetos. Fale-me dos seus carnavais e dos seus temporais....
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12/03/2012 -
A essencialidade do sono
Frações de segundo antes de pegarmos no sono é como se nosso organismo fosse vítima de um blecaute de energia. Há um colapso temporário de consciência. Por excesso de atividade, a chave geral é desligada depois da queda de alguns disjuntores. O sono, sem dúvida, evita um curto-circuito de danos irreparáveis ao nosso corpo. O equipamento é poupado e as baterias são recarregadas.
Minutos antes de embarcarmos nas correntezas do sono há uma queda gradativa de linhas de transmissão. Cérebro e coração, mais do que nunca, nesses instantes críticos, não falam a mesma língua. Várias panes parciais do sistema são observadas causando distúrbios e alterações de distintas proporções. Há um apagão de sentidos....
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