Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 28 textos de fevereiro de 2011. Exibindo página 3 de 3.

08/02/2011 - Cidade do Samba em chamas

De repente, as lágrimas de Pierrô lavaram a avenida antes mesmo da chegada oficial do carnaval. Sem ser convidado para a festa, o fogo chegou e queimou plumas e lantejoulas. O sapato da passista virou cinza e nem era quarta-feira. Queimaram-se tudo, da saia rodada da baiana ao estandarte da porta bandeira. Amores de carnaval, extremamente inflamáveis e guardados a sete chaves nos barracões, alimentaram o incêndio. Agora, chora a mulata o próprio destino chamando a vida de ingrata.

De algumas escolas não restou nada. Carros alegóricos foram devastados. Pandeiros e tamborins se calaram. O puxador de samba gritou para os céus mandarem chuva. Mas os deuses estavam sambando em outro terreiro. Sem máscaras os rostos ficaram expostos atravessando o enredo. Não há mais o que esconder, acabou o segredo de qualquer apresentação. A velha guarda chorou de corpo presente. Os sambistas do amanhã choraram pelo hoje. A bateria fez uma paradinha e até agora não voltou. ...
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07/02/2011 - Um território chamado mulher amada

Abençoada por temperaturas agradáveis e cercada por belezas exuberantes, a mulher amada é o destino preferido de caçadores de paraíso e de poetas mochileiros, que sonham em mergulhar em suas trilhas e relevos. Tranqüila e vibrante, assim é essa mulher que está localizada ao norte do imaginário popular. Ao decorrer de seu corpo, relicários e objetos sagrados, templos e estrelas cadentes. Tem aspecto único, com linhas marcantes, românticas e intensas. Percorrer o perímetro da mulher amada é uma tarefa tanto poética quanto árdua, em razão dos muitos obstáculos e perigos que a compõem. ...
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06/02/2011 - Estorieta

As matilhas dos seus olhos vão me caçando milhas e milhas ao sul. Vamos correndo, se escondendo e se vendo como amor proibido do primogênito do sol com as filhas da lua azul. E no peito da gata blue um coração movido a pilha palpita, grita, triplica a emoção de um blues .

E pela trilha das ervilhas e tortilhas tudo se transforma em canção. Na canção de redondilhas que ganha o céu a partir do uivo dos lobos que a habitam, a incitam e volitam seus desejos de mulher numa partilha de pétalas carnívoras de bem ou mal me quer. ...
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05/02/2011 - O mundo rodou

O mundo rodou e Tóquio é apenas uma vila de pescadores e samurais; Paris ainda não teve sua revolução e Nova Iorque não passa de uma colônia inglesa. O mundo rodou e a Alemanha ainda não foi dividida, a Suíça é o relógio do planeta e Roma luta contra os gauleses. O mundo rodou e a Índia ainda não encontrou os índios. O mundo rodou e o Mar Morto ainda pulsa.

O mundo rodou e os poetas de Atenas se casam com as guerreiras de Esparta. O mundo rodou e Espanha é o nome de uma arena onde touros e toureiros se enfrentam com passos de dança. O mundo rodou e as viúvas dos navegantes de Portugal alimentam de sal o Oceano. O mundo rodou e Cuba espera por Che e Fidel. O mundo rodou e o Egito caminha ao som dos faraós. ...
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04/02/2011 - Grita que fica

Se for falar de separação, por favor, não fale agora. Não é hora de lhe perder. Quer porque quer me fazê-la esquecer de um modo que ainda não pude. Mulher,baixe a guarda, esse jeito rude não combina com você. Quem nasce pra fada não tem porque se praguejar tanto assim. Tem pena de si, tem dó de mim. O nosso amor não merece chegar ao fim.

Ao fim dos beijos. Ao fim dos ensejos de nós dois. Ainda há muito pra se fazer depois. Depois de hoje, depois de amanhã, depois do tempo que vem, não lhe convém pegar o primeiro trem. Não lhe convém dar os braços à solidão e sair às ruas sozinha , tão livre e quão minha. Ah! Mulher não me deixe aqui com esses ais, o que vou fazer com os sonhos, costumes e retratos de casais?...
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03/02/2011 - Dito e Nina

Solitários em seu castelo, a princesa Nina foi deixando cair mantos e coroas até se transformar na gata borralheira de uma história que não tem final feliz. O príncipe Dito, da dinastia dos rochedos, cavaleiro altivo, matador de dragões, de mocinho passou a bandido, sendo vilão de si próprio.

Podiam viajar em carruagens pelo mundo afora. Podiam desfrutar de serviços e riquezas. Podiam ser humanos como outros quaisquer se não fizessem tanta questão de viver lustrando e agigantando títulos de nobreza. De nada serviam as jóias de Nina, os vestidos de Nina, as pompas de Nina se Nina vivia a lamber o chão dia e noite até que ele ficasse limpo o bastante para refletir seu rosto. Seu sofrido e castigado rosto. ...
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02/02/2011 - Anúncio de carnaval

Quem é a mulher que entra no carro como se fosse Cinderela. Ao ritmo de Phill Collins, joga suas tranças pela janela. Assim, sonhos e poesias trançados em sua cabeça vão ganhando estrada. Conversa de leis, quebra normas, escreve uma nova constituição enquanto dá trela à bela que reflete no espelho. Será mulher ou a materialização do verso de um poeta esta que agora pede carona e se ajeita na poltrona e ressona. Em poucos minutos se torna dona dos meus enredos e medos.

Quem é a mulher que escorre as pernas pelo assento, que se alimenta de vento como cata-vento? Quem é a mulher que canta uma canção enquanto verseja que sim e que não? Quem é a mulher que cruza o meu caminho no meio da rua e fala de destino no signo da lua? Quem é a mulher que não fala de onde vem nem para onde vai? Ela se torce, se contorce, toma posse dos meus olhares. Ela está ao meu lado, à frente, atrás, enfim, em todos os lugares. ...
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01/02/2011 - Cartas para Julieta

Julieta, como uma dessas santas de altar ou tal qual atriz de novela das oito, recebe cartas e mais cartas diariamente. A mocinha que enfrentou tudo e todos por conta de um grande amor foi transformada ao longo dos séculos em uma espécie de referência feminina para assuntos do coração. Transformou-se em esperança, em milagreira, em oráculo. Cartas de vários tamanhos e línguas são deixadas todos os dias por entre as pedras da parede que sustenta o mais famoso balcão da história. O balcão de Julieta e dos amores impossíveis. ...
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