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Encontrados 31 textos de dezembro de 2011. Exibindo página 2 de 4.
21/12/2011 -
Primavera das sombras
A primavera se vai cheia de dor, carregada pelas águas das chuvas. A primavera corre pelas enxurradas e é engolida pelas bocas de lobo e se mistura ao barro, ao esgoto, ao lixo. No final das contas, a primavera, mesmo sem querer, causa mortes e medo e pranto. Será que a primavera não é tão boazinha quanto parece? Será que há algo de Alfred Hitchcock na primavera ou tudo não passa de um mal entendido. A pergunta é coerente, pois o período da primavera está cada vez mais associado a desastres naturais do que propriamente a jardins floridos e perfumados. ...
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20/12/2011 -
Luislinda Desembargadora
Saravá desembargadora Luislinda Valois, saravá! Luislinda da Luz, saravá! Luislinda Dias melhores, saravá! Luislinda de todos os Santos, saravá! Depois de anos e anos de preconceito, de perseguição, de guerra, a justiça foi feita. Feita como filha de santo, da cabeça aos pés. Kao Kabiesilê! Salve Xangô! Eu, cavaleiro verde, que acompanhei de perto muitas vezes as chibatadas do racismo, do desrespeito e da diferenciação que estalaram sobre essa baiana, lavo, com essa nomeação, as escadarias da minh’alma em águas salgadas para acabar de vez com todo mau-agouro. O doyá Iemanjá! Carrega todo esse período de tristeza pro fundo do mar. Começa uma nova época. A riqueza tão sonhada finalmente chegou para um povo cansado de sofrer. Arroboboi Oxumarê!...
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19/12/2011 -
O futuro caminha
O futuro caminha na corda bamba de sombrinha. Qualquer descuido ele pode vir ao chão. E se quebrar. E se atrasar. E tomar outro rumo. O futuro caminha de olhos vendados. Ele já sabe o que vai encontrar. Ele já sabe onde vai chegar. Ele não pode se distrair pelo caminho e de repente fugir do seu destino. O futuro é menino. Vive afoito demais. Vive aprontando demais. Vive inocente demais. O futuro é pequenino, cabe na palma da mão, num canto do olhar, numa palavra. O futuro é sim e não, é o que grita e o que cala, é metade amor e metade solidão. ...
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18/12/2011 -
Pelo avesso
O que eu quero, desquer. Troca meu gosto pelo desgosto. Se eu vou, não sai do lugar. Quando salgo, adoça. Qunado avanço, blefa. Transforma meu sonho em pesadelo e vice-versa. Se eu beijo, morde. Se eu mordo, assopra. Se eu mordo, assopro. Se eu sopro, chove. Se eu chovo, não molha.
O que eu busco, já tem. Se eu mio, late. Sofre quando sorrio. Gargalha a cada pranto meu Se despe quando visto. Quando sou verdade é mentira. Quando recuo, provoca. Quando pego, foge. Quando rolo, enrola. Enquanto colo, rasga. Quando morro renasce. Na hora que acordo, hiberna. ...
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17/12/2011 -
Lua de sal
Muitos dizem que a lua é feita de mel ou de queijo. No entanto ela tempera a noite de uma forma toda peculiar como se fosse um punhado de sal. Sem lua, a noite é completamente insossa. Isso sem falar que a lua cheia faz subir a pressão dos amantes. Porém, como apreciar com moderação um daqueles luares que tomam conta de todo o céu? A lua nova, translúcida, é como um sal marinho com cristais mais leves. A lua crescente é de mesa, cai bem em todos os pratos da noite. Já a lua minguante é forte e bruta como o sal grosso. ...
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16/12/2011 -
Me diga
Me diga o que fazer daqui pra frente, me diga o que buscar nesse tempo ausente, me diga como quebrar essa corrente. Me diga como combater a saudade, me diga qual o caminho para a anti-realidade, me diga qual o segredo que habita a cidade. Me diga o que há por trás deste mundo, me diga como curar um coração moribundo, me diga como ir ainda mais fundo. Me diga como encontrar a palavra perdida, me diga como estancar a seiva dessa ferida, me diga como ultrapassar novamente a nossa medida.
Me diga uma forma de descobrir o ponto fraco do medo, me diga como ser para sempre cedo, me diga como encontrar uma árvore no meio de um arvoredo. Me diga como terminar o que não começou, me diga como ir sem dizer para onde vou, me diga como saber se o sonho que sonhei foi o mesmo sonho que sonhou. Me diga como correr sem olhar pra trás, me diga como me livrar do “mas”, me diga que eu ainda sou capaz. Me diga uma cantiga, me diga uma novidade antiga, me diga que nosso amor ta de barriga.
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15/12/2011 -
É preciso ter fé
É preciso ter fé no vôo do pássaro para que ele continue suspenso no ar. É preciso ter fé na chegada da primavera como começo dos milagres. É preciso ter fé na chuva para ter a alma lavada. É preciso ter fé no que há lá fora para que possamos cultivar o que há aqui dentro. É preciso ter fé no que existe detrás do espelho. É preciso ter fé no que ainda não foi dito, escrito e feito. É preciso ter fé nas imagens que não se apagam da nossa memória. É preciso ter fé que a tristeza um dia vai se alegrar. É preciso ter fé de que mais dia menos dia seremos parte de uma história que outros vão querer contar. É preciso ter fé no senso de humor divino. É preciso ter fé no novo que há no velho. É preciso ter fé na escuridão para que o brilho das estrelas não seja em vão. É preciso ter fé em cada batida de um coração. ...
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14/12/2011 -
Infeliz aniversário
Olha lá aquela menina que não sabe para onde vai. Hoje ela completa três anos de idade e ainda não ganhou sequer um abraço. Há três dias a mãe está sumida. Talvez na cadeia, talvez caída drogada. Ao contrário de bolo e docinhos aquela menina sonha com um pedaço de pão amanhecido. Afinal, é o que seu estômago conhece. Caminha com os pés sujos, com os olhos de remela e a cabeça cheia de piolhos e medos. Ela chora por um prato de comida, por um pouco de colo e afeto. O que ela recebe mais próximo de um beijo são as lambidas de um cão sarnento. O sol e as estrelas são o teto daquela menina que cresceu sem mamadeira, sem fraldas, sem canções de ninar, sem o mínimo do mínimo do mínimo de cuidado....
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13/12/2011 -
Tudo por um fio
Ao final de cada ano tudo fica por um fio. As tensões aumentam. As cordas se arrebentam. Os laços se soltam. A dor, a quebra de expectativa e o estresse acumulados durante os doze meses dão nisso. A vida em dezembro, seja ela no campo profissional ou pessoal, fica por um fio. A morte parece estar em todos os lugares. E essa sensação está muito longe de um mero sentimento de perseguição. Trata-se de um fato concreto que a cada ano anula mais e mais o espírito natalino. Afinal, diante de consecutivas injeções de realidade, a magia fica por um fio....
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12/12/2011 -
Quanto tempo antes?
Quanto tempo antes dos créditos subirem encerrando mais um romance de cinema? Quanto tempo antes de a chuva desmanchar o penteado da madame? Quanto tempo antes das promessas do promesseiro serem para sempre promessas? Quanto tempo antes das sapatilhas das bailarinas rasgarem? Quanto tempo antes de o fruto amadurecer? Quanto tempo antes de o inverno chegar? Quanto tempo antes de o cachorro comer o gato, de o gato comer o rato, do rato comer o queijo, de o queijo comer a fome de alguém sem nome.
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