Arquivo
2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008
jan | fev | mar | abr | mai | jun | jul | ago | set | out | nov | dez |
Encontrados 32 textos de julho de 2010. Exibindo página 2 de 4.
21/07/2010 -
Bafafá
Podem criticar, falar mal e até maldizer meus escritos. Podem repudiar, ignorar e até desfazer das minhas linhas. Podem fazer cara feia, sapatear e até vomitar diante dos meus versos. Faço questão de informar aos descontentes com a minha poética que nada disso vai me impedir de continuar. Continuar a escrever independentemente se vão ou não gostar da minha prosa. Tenho em mim a certeza de que é muito melhor ser lido pelos olhos fundos das gavetas do que pela ignorância que reina por aí.
...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
20/07/2010 -
Cheio
Estou cheio. Cheio de tanta interferência, de tanta indecência, de tanta falta de clemência. Estou cheio como um copo vazio está cheio de ar. Estou cheio de lamentações, de falsos perdões, de traduções baratas do sentimento. Estou cheio de problemas e de outros ecossistemas. Estou cheio de tremas, não-poemas e quedas de sistema. Estou cheio de buracos e sorrisos opacos. Estou cheio de conversa fiada, de estrada que leva ao nada.
Estou cheio. Cheio de realidade, de tarde e de saudade. Estou cheio de mentiras, de viver sob miras. Estou cheio de assombrações, porões e outros grotões. Estou cheio de luar como céu escuro caído nas ondas do mar. Estou cheio de gastrites, artrites, sinusites. Estou cheio de pranto e espanto. Estou cheio de pó e de nó. Estou cheio de insensatez, de lucidez e de água como um rio correndo em sua aridez....
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
19/07/2010 -
Morredura
Morre a tarde. Morre o dia. Morre o sol. Morre o padre. Morre a dicotomia. Morre a sonata. Morre a dança. Morre o alarde. Morre a peça. Morre o caminho. Morre o prazer que não cessa. Morre a cascata. Morre o beijo... Porque a saudade precisa nascer.
Morre o horizonte. Morre o desejo. Morre a esperança. Morre o apelo. Morre a linha. Morre o trem. Morre a estrela. Morre a chama. Morre o afeto. Morre a vinha. Morre o neto. Morre o pelo. Morre o mar. Morre a semente... Para uma nova vida brotar....
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
18/07/2010 -
Ovos
A gema era tão vermelha quão o sangue da terra em que lavorava o dono daquelas galinhas. Os galos eram furta-cores, coloridos, índios de canelas alongadas e esporas afiadas. Cristas em riste, eles cocoricavam por aquelas terras descortinando o véu da noite e livrando suas noivas do açoite. Noivas de tantos vestidos e matrimônios. Com suas penugens pretas, marrons, brancas, ruivas e carijós desfilavam pelo terreiro arrancando suspiros dos frangos num amor praticamente impossível. Afinal, o destino dos frangos não era tão romântico assim: ou fariam companhia a uma boa polenta ali no sítio mesmo, ou viajariam até a cidade para conhecer outras bocas, ou ainda, se dessem sorte, substituiriam algum dos galos naquele galinheiro. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
17/07/2010 -
Lacunas de mulher
Quem é a mulher com olhos acortinados? Cortinas estas que escondem pátios espaçosos decorados por fontes de águas cristalinas e imponentes colunas. Será fruto da mitologia ou de outra ciência não exata. Nas praças interiores dessa mulher, estátuas de heróis sem pátria e mulheres nativas de saias coloridas e longas tranças. Que espírito de Rapunzel arrependida é esse que povoa os ares tristonhos dessa mulher que tem medo de jogar seus cabelos para algum forasteiro? Que mulher é essa que deita sua boca em dunas e se faz de lacunas por entre o doce e o austero? Será o fogo de Nero ou o demônio de Lutero? Será mulher de lacunas ou lacunas de mulher essa que quer como eu quero? ...
continuar a ler
Comentários (1)
16/07/2010 -
A madurez da mulher amada
Entre uma estação e outra, a mulher amada pode surpreender pela madurez de sua fruta, notada pela exuberância de elementos maduros, com o rosado e o perfume característicos, ao longo de seu corpo e espírito. Nesta fase, que pode durar um dia ou anos a fio, o ritmo da mulher amada tem outra compreensão do tempo e uma fineza e elegância dignas de sua missão: fazer apaixonar.
Na boca alheia, os lábios da mulher amada pedem uma espera longa. Entre o equilíbrio e a austeridade, os olhos de ameixas pretas têm uma maciez e um brilho sempre úmido. Tem um toque floral no aroma, bastante envolvente. De seus poros emanam notas de um marmelo cuidadosamente tostado na madeira. Caudalosa em seus atos e pensamentos, ela está sempre pronta a inebriar. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
15/07/2010 -
O mundo de Hanna
Você soube do centenário de nascimento de William Hanna completado esta semana? O nome desse norte-americano pode soar desconhecido aos seus ouvidos, mas tenho certeza de que lembra de pelo menos de um de seus mais de dois mil personagens produzidos em parceria com Joseph Barbera. Personagens de novela, de romances, de teatro, de cinema? Quase. Personagens de desenho animado assistidos por pais e filhos. Afinal, quem não conhece Scooby-Doo?
Além do famoso companheiro do Salsicha, minha infância se mistura aos cachorros Dom Pixote, Bib Pai e Bob Filho, Mumbly, Dino, Hong-Kong Fu, Ruivão, Goober, Dinamite e Oscar, todos criados pelo estúdio Hanna Barbera. Depois da escola, passava as tardes em companhia da extinta Rede Manchete e da Bandeirantes deixando-me envolver com as aventuras de Zé Colméia, Família Adms, Tartaruga Tuchê, Formiga Atômica, Homem Pássaro, João Grandão, Leão das Montanhas, Manda-Chuva, Os Herculóides e tantos outros. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
14/07/2010 -
Sopros do tempo
Muitos de meus textos nasceram ao som de um trompete, de um saxofone, de um clarinete. Foi como se a inspiração se manifestasse por meio de sopros. Lembro de passar longas horas em meu quarto ouvindo parte da coleção de discos de meu pai. Aqueles álbuns dedicados à música brasileira instrumental sempre me provocaram. Muito do que escrevi, naquelas ocasiões, foi no sentido de preencher aquela falta de voz. Saindo do meu quarto e ganhando o mundo, o vento me soprava canções de sax, a chuva caia dedilhada no braço de um violão e a estrada se alongava em feitio de um solo de piston....
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
13/07/2010 -
A copa de Paul
Passados os trinta e um dias da overdose futebolística, uma única certeza: quem ganhou a copa foi o polvo alemão. Paul, apelidado de Nostradamus, conseguiu prever os resultados decisivos da Fifa World Cup South Africa. Com nove cérebros e uma intuição digna do reino feminino, o molusco colocou a ciência em xeque e provou o fascínio da humanidade pela instituição do mistério. Ao contrário dos estádios sulafricanos, o olhar coletivo se voltou ao aquário marinho de Oberhausen, na Alemanha, casa do polvo de origem inglesa. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
12/07/2010 -
Grilagem
Era só o que faltava: grilos falantes e cantantes invadiram minha casa. Na cozinha, na sala, no banheiro, no quarto... No sapato, na geladeira, no guarda-roupa. Há uma epidemia de grilos. Os orientais dizem que eles são sinônimos de boa-sorte. Por alguns minutos tudo é festa, mas confesso que ficar sem dormir por conta deles é, no mínimo, um atestado de azar. Mau-humor, indisposição, náuseas. Que cantoria de uma nota só é essa pelo amor de Deus?
De onde vieram os insetos ortópteros, da subordem ensifera, da damília dos grilídeos? Será que vieram das nuvens ou das ferrugens do chão. Mas aqui só tem plantação de sonhos e mais nada. Não sei se gostam de sonhar, mas agora que eles acharam direitinho a minha estrada só resta pedir ajuda às fadas, aos duendes, aos elfos... É um reco-reco nascendo sem parar desses bichos esverdeados. Minha esposa já arrumou as malas......
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar