Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 30 textos de abril de 2010. Exibindo página 1 de 3.

30/04/2010 - Os chás e a mulher amada

Assim como um bom chá, a mulher amada tem um dado amargor em seus pensamentos e atitudes. Mas tem também doçura e adstringência de sobra. Dependendo de tempo e espaço, ou seja, do momento, esses sabores estarão ou não equilibrados na composição química, física e transcendental da mulher amada. Porém, o resultado depende da preparação, ou seja, da fase de conquista ou das preliminares, como quiser. Por isso há pelo menos dez tipos de mulher habitando a mulher amada.

Há dias em que ela surge com sabor suave e a fragrância de folhas frescas e jovens. Em outros, é seca. Em outros ainda, sintética e rápida como um sache. E pode surgir também ausente de sabor, apenas envolta de um buquê fantástico de aromas. Sem dúvida alguma a mulher da primeira colheita, colhida na primavera, é a mais cobiçada. No entanto, para além das flores, a mulher de inverno tem sabor mais intenso e encorpado. Isso sem contar que ela pode vir fria ou quente, ainda em ebulição, aos seus olhos e boca. ...
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29/04/2010 - Mulher querubim

Porque o amor é o caminho, vivo assim: mergulhado no vinho de sua boca em busca do anjo querubim que lhe habita e, quiçá, palpita meu humano coração. Por ser assim uma criatura sobrenatural, mulher amada, busco suas asas por entre as casas dos seus botões entreabertos. Como são secretos seus caminhos, caminha em meus desalinhos. Leva-me à Árvore da Vida, ao lado oriental do Jardim do Éden. Leva-me já amanhã pela manhã para além do pecado da maçã.

Menina alada arqueia seu corpo e flecha meu peito com suas sete setas. Que desse ferimento sangre uma paixão desenfreada, um amor sem limites. Porque o sentimento é a sina dos viventes, vivo assim: tomado por essa guerra ardente que me domina com doses de sofrimento e ungüento. Invento um tempo e não agüento e suplico por um beijo bento e pecador de sua boca querubim. Eu amo lhe caçando pelos céus com balas de festim sabor cereja. Beija-me!


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28/04/2010 - Dia da Sogra

Hoje é o dia da sogra. Por si só, a nomenclatura “sogra” é pesada. Pudera, há uma infinidade de sogras por aí vivendo para atrapalhar o romance de seus filhos e filhas. A maioria entra de sola no que considera uma disputa, fazendo chantagem e outros joguinhos no melhor estilo “mãe dedicada”. Existe até a penterofobia, que é o medo de sogra. Por esse histórico, o dia de hoje é pouco festejado. Azar do comércio que lucra bem pouco com a data. No entanto, há exceções. Este escritor, graças aos bons deuses, vive uma delas....
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27/04/2010 - É o circo da vida

Olha. Olha lá. Lá vem vindo o circo dos palhaços tristes, dos equilibristas desequilibrados, das bailarinas descalças. É o circo da vida, de tantas chegadas e despedidas. Olha. Lá vem o circo com lonas rasgadas, com bichos feridos, com salários atrasados. Olha. Olha lá. Lá vem o circo dos leões cansados de apanhar, dos mágicos loucos para acertar um truque, da contorcionista se contorcendo de fome.

Cadê os risos, os aplausos, a pipoca? Cadê a luz, o espetáculo, as arquibancadas cheias? Cadê o circo dos fogos de artifício, dos desfiles na praça, da serragem cheirando à diversão? Olha. Olha lá. Lá vem vindo o circo da vida, de tantas chegadas e despedidas. O que se vê é o circo dos acrobatas do sinal vermelho, dos cavaleiros a pé, dos macacos repetindo as mesmas velhas macaquices. Olha. Olha lá. Lá vem vindo o circo das piadas sem graça. ...
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26/04/2010 - Um espantalho, pelo amor de Deus

O que você quer do milharal? Milho de pamonha, de cural, de pipoca? Pois eu não. Eu quero o espantalho. Um espantalho, pelo amor de Deus, para espantar os corvos que me cercam. Eu quero um espantalho que seja capaz de proteger a minha plantação de sonhos e esperanças. Quero colocar esse espantalho no meu quintal, no meu trabalho, na calçada da minha casa, na minha sala de estar. Melhor, quero levá-lo nos meus ombros, carregá-lo dia e noite afora como arma ou amuleto sagrado. Pelo amor de Deus, um espantalho, por favor. ...
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25/04/2010 - Cartilha amorosa

Ama à parte de qualidades ou defeitos. Ama defendendo o direito de amar. Ama sem fazer contas ou regras. Ama em desobediência à razão. Ama numa espécie de magnetismo capaz de atrair até você uma progressão aritmética ou geométrica, como preferir, de amor. Ama ouvindo o que diz o horóscopo quando este lhe for favorável, mas ama, sobretudo, seguindo as estrelas do céu e do mar. Ama num jogo, num vai e vem, um aconchego que não sossega.

Ama sem importar se ela é romântica, simbolista ou modernista. Ama sem perguntar se ela conhece aquela do Chico Buarque. Ama pelos olhares ainda não vistos, ama pelos cheiros ainda não sentidos, ama pelas palavras ainda não ditas. Ama pelo mistério. Ama pele a pele, olho a olho, língua a língua. Ama pedindo paz e exigindo tempestades cíclicas para afastar um possível tédio. Ama provocando e se deixando provocar. Ama sem conhecimento prévio, mas sempre fazendo uma fezinha em suas previsões. ...
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24/04/2010 - Ladainha lírica

Mãe dos ares perfumados, perfumai minha estrada. Mãe dos jardins crescidos dentro d’alma, florescei em mim santas sementes. Mãe dos ventos suaves que afagam a face dos filhos seus, ventai um tempo novo. Mãe dos mantos azuis e vermelhos, guardai-me. Mãe de olhares de açúcar, olhai-me com mansidão. Mãe nuvem e céu, descei cá na Terra. Mãe de asas imensas e brancas, levai-me a sua morada. Mãe das luzes incandescentes, iluminai meus passos. Mãe das chamas mais ardentes, queimai meus medos. Mãe guia das estrelas, guiai-me. Mãe da igreja, renovai a minha face. Mãe das velas que iluminam os caminhos de dentro e de fora, clareai os pensamentos. Ò Mãe de tantos nomes, ò auxiliadora, auxiliai-me. ...
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23/04/2010 - Salve Jorge

Salve Jorge. Salve Jorge, senhor da sétima cavalaria. Salve Jorge, patrono da Catalunha, da Geórgia, da Lituânia e do Rio de Janeiro. Salve Jorge, do cavalo marchador. Salve Jorge, caçador de dragões. Salve Jorge, altar dos cristãos. Salve Jorge, armas e fogo. Salve Jorge, nosso protetor e guia. Salve Jorge, das igrejas e dos terreiros. Salve Jorge, das baladas medievais. Salve Jorge, dragão tatuado no peito. Salve Jorge, cruz de sangue cravada no braço. Salve Jorge, santo e herói. Salve Jorge, dos corintianos. Salve Jorge, de canções e orações de fecha-corpo. Salve Jorge, salve-nos. ...
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22/04/2010 - Alice no Brasil das maravilhas

Assim como Alice, cada um de nós tem um mundo maravilhoso. Um mundo onde nos refugiamos. O da personagem da literatura é habitado por um coelho preocupado com o relógio, por um gato listrado de rosa, por um chapeleiro maluco e por outras criaturas fantásticas. Com seres mais ou menos mágicos, cada um tem um lugar encantado para subverter a ordem, para quebrar as regras, para burlar a realidade. Um lugar onde o sonho não só é permitido como vivido por inteiro.

Para Pedro Álvares Cabral e outros portugueses esse mundo se chamava Brasil. Um mundo de terras infinitas, de comidas exóticas, de nativas nuas. Quando os ventos e as correntes marítimas do destino desviaram as naus do grande navegador, Pedro viu nascer diante de seus olhos um continente perdido entre a fantasia e a realidade. Pensou estar sonhando. Chegou a perguntar a Pero Vaz de Caminha se aquilo tudo, de fato, existia ou se ele havia caído, assim como Alice, nos confins da toca de um coelho apressado. ...
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20/04/2010 - Carta endereçada à Lady Laura

Lady Laura,

O tempo passou e seu filho Zunga continuou sempre menino. Um menino que na hora do desespero continua gritando por você. O homem dos carrões, dos brotos, das jovens tardes de domingo continua lhe pedindo para que o abrace, para que o leve de volta para casa, para que lhe conte uma história bonita e o faça dormir. Se fosse dono de um último pedido, certamente Roberto Carlos quereria ouvir sua voz mais uma vez. Mais do que nunca, hoje ele se lembra das vezes que você lhe pediu para aproveitar o tempo, pois ele era só um menino. Um menino jovem, de vanguarda, enfim, da jovem guarda. ...
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