Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 30 textos de setembro de 2010. Exibindo página 1 de 3.

30/09/2010 - A vida é a vida e...

A vida é a vida e nada mais. Aos que sonham, a possibilidade de viver um pouco fora da realidade. Aos que tudo aceitam, a certeza de um sofrimento menor. Ou seja, todo sonho tem um preço, toda resignação tem um bônus. Sonhar é encantador, no entanto, a dor que surge ao acordar é algo insuportável, explicação para inúmeros suicídios e crises de depressão. Ninguém pode viver absolutamente de sonhos. O sonho é chama que se apaga, é luz que fraqueja, é estrada que cessa.

Viver sonhando é viver negando a própria existência. É sempre querer mais, é nunca se dar por contente, é ir pra trás quando se quer ir pra frente. O sonho é deveras bonito, mas o ser que sonha é definitivamente ausente. Ausente de concretude, ausente de solidez, ausente de plenitude. Quem sonha sempre tem medo de acordar. Por isso, por detrás do sonho, a vida é a vida e nada mais. Já para os céticos, que levam dia após dia sem criar expectativas, viver é uma conta sem graça, porém satisfatória. ...
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29/09/2010 - Trégua

Ter a mulher amada nos braços traz uma sensação de poder e de fragilidade difícil de compreender. Um estado físico, psicológico, espiritual que pode se desestabilizar a qualquer minuto. A respiração dela, ali, tão perto. Os olhos dela, abertos ou fechados, numa sensação de cumplicidade extrema. Os pensamentos dessa mulher, sempre tão secretos, saindo pelos folículos pilosos, deixando-se se descobrir. Um momento único. Vontade de gritar, de chorar, de sorrir, de se dar. É o êxtase, a overdose, o clímax. ...
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28/09/2010 - O vento virou

O vento virou. Demorou, mas o vento virou. A chuva vem aí. Salve São José e São Benedito dos quilombos de Zumbi. Daqui um pouco ela chega. Benditas sejam as águas do céu, canta o bem-te-vi. Bendita seja a senhora das águas do céu, que torce o pranto de seu véu sobre nós. Que a partir dele, as sementes possam vingar, que os doentes possam se curar, que as bocas possam se alimentar. Santa ceia, santíssima chuva. Bendito seja aquele que transforma água em uva, que multiplica os pães, que manda chuva....
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27/09/2010 - Cajus do oriente

Como são belos os cajus do oriente, nascidos e amadurecidos numa vermelhidão pungente. Doces adstringentes, vermelhos penitentes, delicados e ardentes. Como são belos os cajus do quintal, tão esperados, tão encantados, tão vestidos de vermelho quanto o velhinho do Natal. Como são belos esses frutos, benedictus frutos, que conseguem transformar a seca em açúcar, poeira em mel. Pássaros e abelhas: abusai dos cajus do oriente, que mancham os céus como estrelas cadentes.

Como são belos os cajus que surgem coloridos por entre os ruivos cabelos de Iansã. Cajus que causam inveja na maçã do paraíso. Cajus que nos fazem perder o juízo a cada manhã. Cajus que colorem o riso de acauã. Cajus das castanhas e das castanholas. Cajus do oriente miscigenados na paixão espanhola. Cajus perfumados como mulher amada em noite de núpcias. Cajus abocanhados como mulher amada em um momento de astúcia. Cajus de sentimentos caudalosos, de argumentos poderosos. ...
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26/09/2010 - A naturalidade da mulher amada

Não existe sinal de solenidade nem de formalidades na mulher amada. Ela é de uma espontaneidade típica do amor verdadeiro. Para além do mistério natural, ela tem olhos arejados e iluminados, fonte eterna da renascença. Por entre os silêncios da mulher amada, corre um certo burburinho. Dizem que esse barulho provém da mistura de dois coros: o dos anjos adorando a criação e o dos demônios marmanjos entoado a partir de cantadas baratas. Entre o céu e o inferno, no centro de uma bagunça metodicamente ordenada, está a mulher amada. Nem santa, nem pecadora, mas tudo ao mesmo tempo. ...
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25/09/2010 - A lua, o sol e as expressões populares

Pra inglês ou não ver, os burros deram n’água. O sol entrou com o pé direito e a lua foi dormir com uma baita dor-de-cotovelo. Os poetas fizeram vaquinha para comprar lunetas e outros apetrechos, mas se frustraram: o romance acabou em pizza. E o amor, guardado a sete chaves, chorou lágrimas de crocodilo. Agora, sóis e luas podem parar de rasgar seda e tirar os cavalos da chuva. Chuva e sol, casamento de espanhol. Sol e chuva, casamento de viúva. Viúva, a lua, escureceu entre estrelas lá pras bandas de onde Judas perdeu as botas. Na casa da mãe Joana, o sol ficou pensando na morte da bezerra jurando de pés juntos que tudo se resolveria no próximo eclipse. ...
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24/09/2010 - Auxiliar, o verbo de hoje

Pelos caminhos certos e tortuosos, tenha certeza de que Auxiliadora é o escudo que lhe protege de todos os males temporais ou atemporais, é a força que lhe anima a seguir, é a casa de portas sempre abertas. Auxiliadora é a chama que não se apaga, o cântico que não cessa e a semente que sempre vinga. Ela é santa e mãe daqueles que foram lavados pelo sangue de seu filho. Ela é santa e rainha daqueles que conquistam o reino dos céus. Ela é santíssima, puríssima, altíssima... flor que nunca se despetala, rio que nunca seca, profecia que não silencia. ...
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23/09/2010 - A frustração da primavera

Assim como as roupas dependuradas no varal, a lua cheia já não é tão branca assim. E o pior é que ela não foi pichada por algum apaixonado num ato de total desespero. Ela está fosca, como que coberta por uma camada de fuligem. Perdeu o brilho característico e agora adoece caída no céu. As estrelas foram todas queimadas. Não sobrou uma sequer para contar histórias sobre as constelações de aquário, de touro, de leão... O céu é de uma escuridão suja, como que coberto por cinzas. É isso, a noite virou uma eterna quarta-feira de cinzas, tão nostálgica quão triste das fantasias passadas. ...
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22/09/2010 - O amor cria micromundos

Já imaginou quantos micromundos existem dentro desse mundão? O mundo dos sentimentos é um deles. Cada casal apaixonado cria uma espécie de mundo particular. É como se a união de duas pessoas suprisse todas as necessidades físicas, mentais e espirituais a ponto de reinventar a existência humana. Nunca notou que os amantes falam uma linguagem própria, seja por meio de palavras ou sinais? Pois bem, duas pessoas apaixonadas formam um micromundo povoado por habitantes singulares, como a saudade, a insegurança, os sonhos. ...
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21/09/2010 - O segredo dos relógios

É o relógio pulsando no pulso de quem volteia pra lá e pra cá como ponteiros que se encontram e desencontram a cada volta. É o relógio de parede nos observando dos cabelos aos sapatos. É o relógio de bolso nos acorrentando ao que vai ficando. É o relógio digital mudando as horas como se fosse mágico. É o relógio no visor do celular, no canto da tela do computador, piscando no painel do carro. É o relógio no forno microondas, nos jornais da televisão, nas fachadas dos prédios, na torre das igrejas. É o relógio sendo cultuado como objeto de apreensão nos saguões do aeroporto, da rodoviária, das estações do trem. É o relógio de areia, de sol, de corda, de lítio. É o relógio marcando o tempo da vida, anunciando o início das refeições sobre a mesa, o horário de acordar, sonhar e dormir, o banho, o momento da chegada e da partida. É o relógio tiquetaqueando pela nossa cabeça dizendo que está na hora de ir, de vir, de fazer, de comer, de saber, de querer......
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