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Encontrados 2480 textos. Exibindo página 141 de 248.
Cantiga do mato
Não sei onde vai dar essa sua estrada
Tudo é deserto, incerto, é nada
Deve haver algum lugar além desta caminhada
Onde caminha a minha fé
Eu vou andando, cantando, marchando a pé
Contido até onde você quiser
Sou teu boi, teu gado e tua boiada
Sou tua rés, tua vez, teu coro, teu mouro
Sou tua cruz, tua espada, teu rebanho, tua hibernada
Sou teu perfume, teu estrume
Pra me chamar basta aboiar
Fecho as minhas porteiras
Me alimento do capim ciúme...
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Cantilena
A cada dia, a felicidade parece mais distante (se é que ela ainda se mostra possível).
A cada dia, o amor parece encabeçar com mais votos, a lista dos extintos.
A cada dia, as preocupações aumentam.
A cada dia, os beijos flertados diminuem.
A cada dia, a alegria simples escorre pelos ralos.
A cada dia, as coisas sem importância ganham importância.
A cada dia, as dores de cabeça são mais fortes.
A cada dia, as músicas parecem ser tocadas mais longe.
A cada dia, as amantes impossíveis são mais impossíveis....
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Capadócia
Pois
Límpida e bela
A lua nua a lua
Vai minguando
Pela janela
Dos teus olhos
E menstrua
Como que chorando
Em cordões
De suspensórios
Que seguram nossos
Olhos corações
Ah! E vem as orações
Pelo amor de deus
E vem as tentações
De um jorge da turquia
Que dá adeus
A tua lua crua a lua
Como que no alto da rua
Já não mais a via
E mia
Soluçante...
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Capuzes
Cortinas de sombras
Escondem seu rosto
Quando lhe cerco em olhares
Capuzes recaem sobre os traços
Que constroem sua face
Alguns nascem à luz
E logo se acabam
Numa poça escura
Onde nada se encontra
A fuga é o esconderijo
Dos aflitos que se acovardam
Em atos banais
Querer vedar-me as suas reações
É mais que o fato incrédulo
Que tripudia na face maleável
Ir longe, ir para sempre
É questão de não poder ficar...
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Cardeal
Cardeal cantou
No galho do ipê
Olho correu pra vê,
Mas no ipê não tinha flor
Nem sombra
Da milonga
De um primeiro amor.
Cardeal feito cobra coral
Corria preto branco vermelho,
Cardeal lá no quintal
Cantou
Mais um dia que acabou
Com um sol a se propor
Por entres os cabelos
De uma lua furta-cor.
Cardeal pedia esmola
Ganhava farelo
Voava na escola
Fugia da vara de marmelo...
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Carne e costela
Eu sou
Tua carne
Nasci da tua costela
Sou teu homem
Teu crime e teu dolo
Teu sonhador
O poeta da tua janela
E o pássaro
Que se aninhou em teu colo
Ah! Eu lhe imploro
Corte as minhas asas
Queime a minha casa
Enterre-me em cova rasa
Mas não me abandone
Neste céu azul
De Olorum
Sem teu zunzunzum
Eu não sei mais voar
Sem você
Eu não quero chegar
Em lugar algum...
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Carregos
Sol sem vontade
Chuva sem pressa
Amanheceu nublado
E uma gente sem saudade
Caminha de birita
Em birita.
Uma gente sem promessa
Ou qualquer outra certeza
Deixa a cidade
Trocando passos
Nos percalços da solidão.
Uma gente maldita
Que saqueia
Os traços sérios
De uma tristeza
Que tonteia.
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Carretel de maranhão
Está cada vez mais longe o dia
Da gente se encontrar
O calendário anda ao contrário
Quando se vê encurralado
Ameaçado
De se acabar
Antes do fim.
Antes do fim
Eu risquei dias sem lhe ver
E apaguei
Quando vi que riscava
O dia de amanhã
Eu programei o despertador
E o alarme disparou
Ontem.
Ontem
Eu acordei anteontem
Pensando que era futuro
Futuro do passado
E mais uma vez
Nós dois...
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Carta de inverno
Se eu, minha querida,
Soubesse que você pegaria o último vôo
Do inverno
Com destino ao que não lhe destina
Eu jamais teria a deixado
Partir...
Mas eu não sabia
Soube disso dias atrás
Quando me dei conta
De que o inverno acabou
Que a primavera não veio
Por uma razão ainda não conhecida...
Ai, é tão frio pensar
Que o verão é só o ardume
De uma estrela de 4,5 bilhão de anos
E você, toda dona de si,
Nem me avisou...
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Carta de Pero Vaz de Caminha
Nobre rei de Portugal
Escrevo-te esta carta
Para dizer e bendizer:
A mulher recém descoberta
É terra pura
Virgem e fértil,
Todos seus sonhos
Nascem, brotam, vingam
Pelo seu corpo
Abençoado
Por deus
E todos os santos.
Eu, capitão-mor da frota
Descobri-lhe
Desbravei-lhe
Gritei alto do alto do convés:
Amor à vista,
Eis aqui o súdito
De vossa alteza
Depois de voltear as Canárias...
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