Daniel Campos

Prosas

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13/05/2017 - Ame evitando o refluxo do passado

Ame sem checar antecedentes e, principalmente, sem invocar o passado de quem quer que seja. Não importa o que a pessoa amada já foi, mas o que ela é no tempo presente. Não traga o passado de ninguém de volta, nem o seu. O que ficou é altamente tóxico para as relações, pois tem alta concentração de erros. O que deve ser levado em conta é o momento atual da pessoa, o que ela se formou a partir das falhas que experimentou. Jogar na cara os mau-passos dados por seu parceiro é uma atitude que não vai fazer nada bem para uma caminhada conjunta. Ajude para que os passos do outro sejam firmes, acertados, conscientes daqui para frente se quiser cultivar uma relação, deixando para trás o que não vai levar ninguém adiante. Caminhar para trás é suicídio evolutivo. ...
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05/02/2017 - Ame sem cobrar amor

Ame. Ame sem pedir nada em troca, pois o amor, por si só, já estabelece uma troca natural e simultânea. Mais do que uma troca de beijos e abraços, de sonhos e desejos, de medos e ciúmes, o amor cria uma troca de energia. Por isso, tem dias que estamos mais próximos ou mais distantes do nosso parceiro, como se algo nos atraísse ou repelisse, ou ainda, como algo nos realizasse ou nos faltasse em termos de relação.

Quando amamos nos ligamos ao outro. Não há fios, mas imagine inúmeros fios luminosos ligando você ao seu parceiro. O que você sente, de certa forma, ele vai sentir e vice-versa. O campo eletromagnético formado ao redor do nosso corpo físico interage com o campo de quem amamos, abrindo caminhos enérgicos entre aqueles que estão conectados. ...
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04/11/2009 - Americabacaxi

Por detrás de sua casca dura e áspera, uma doçura de dar inveja às moças românticas. Para além de sua coroa de espinhos, uma espécie de salvador dos vegetais, amado por muitos e crucificado por outros como um sinônimo para expressões negativas. No dicionário, abacaxi também significa coisa complicada, embrulhada, trabalhosa e, pessoa maçante, desagradável, inconveniente. Descascar um abacaxi é o mesmo que sair de uma dificuldade, de um problema. O abacaxi se tornou uma contradição, é um gostar que não se gosta, um querer não quisto, um prazer indesejado. ...
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14/09/2014 - Amo e de tanto amor

Amo e de tanto amor lhe quero perto. Amo e de tanto amor faço-lhe oásis do meu deserto. Amo e de tanto amor lhe quero bem. Amo e de tanto amor quero ser seu também. Amo e de tanto amor lhe quero mais. Amo e de tanto amor ainda nos vejo por entre os casais. Amo e de tanto amor lhe quero feliz. Amo e de tanto amor declaro que você é tudo o que eu quis. Amo e de tanto amor lhe quero apaixonada. Amo e de tanto amor entro em seus sonhos em plena madrugada. Amo e de tanto amor lhe quero viva. Amo e de tanto amor faço-lhe imperatriz, estrela, diva. Amo e de tanto amor lhe quero sempre. Amo e de tanto amor busco uma de suas sementes. Amo e de tanto amor lhe quero infinita. Amo e de tanto amor eu lhe ponho aflita. ...
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09/09/2014 - Amor a ferro e fogo

Eu preciso aprender, a cada dia ou noite, a ser um pouco mais do que eu não quero ser. Tenho de me controlar para não fazer o que eu tenho vontade. Ah! E são tantas vontades. Sou obrigado a abrir mão das minhas asas para rastejar por um sonho que me virou as costas. Por algum desses mistérios do amor transformo migalhas em banquetes. Por amor, e somente por amor, pela grandeza desse sentimento, não tenho vergonha ou receio de me sacrificar. Assumo que parei no tempo. Sou como uma mensagem de socorro boiando no mar alto dentro de uma garrafa ou um coração de lata que se desprendeu de um foguete e hoje navega sem rumo e perdido pela galáxia. Vivo me acostumando a ser sozinho, a me perder de quem amo, a me alimentar de sobras de um coração. Eu que não tenho medo fui me apaixonar por quem não tem coragem. Eu que me realizo caminhando nas nuvens fui me apaixonar por quem precisa sentir o chão grudado na sola de seus pés. Eu que por amor sou capaz de deixar tudo para trás fui me apaixonar por quem só consegue me deixar. Eu que tenho espírito afoito e impulsivo, vejo-me cada dia mais preso ao mesmo do mesmo do mesmo. Vivo de ilusão, de fantasia, de imaginação, de poesia, de abstração... Vou estocando tanta coisa em mim que mais dia menos dia será inevitável o meu transbordamento. Brigo, e brigo muito comigo mesmo para eu ter motivos para levantar da cama todos os dias. Brigo para viver porque viver é motivo, motivação, movimentação. Como é difícil ao vento aceitar moldes e limites. Ai, que desejo de ser vendaval, de fazer tempestade, de libertar o furacão que sou. Estou todo podado, limitado, atrofiado. Como é difícil abortar esperanças... Desabafo com as estrelas, choro com uma boa música, soluço nos braços do tempo colocando pra fora de um jeito ou de outro que o meu amor não pode ser em vão. Recorro aos papeis e me faço palavras vivas que doem como se fossem de carne.


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07/10/2009 - Amor a la Honduras

Que tal nós nos refugiarmos em um território inviolável. Do lado de fora, cães e fuzis. Do lado de dentro, somente nossas bocas se buscando e se encontrando e se redesenhando. Se nosso abrigo for uma embaixada estrangeira, nossas línguas terão uma nova maneira de se tocar. Agora, se a opção for por uma embaixada que fale português, vamos viver o amor de Pessoa, de Drummond, de Vinícius. Jogue a chave fora e vamos fazer dessa embaixada a porta de entrada oficial para o nosso mundo. O revolucionário pede bis e eu me torno seu embaixador ò embaixatriz....
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22/07/2013 - Amor amargo

Não me encanta o doce do chocolate, mas o seu amargo. Aqueles bolos com recheios caudalosos e coberturas coloridas em nada me servem se não tiverem a nítida presença de um amargor, que dá sabor justamente pela quebra de açúcar. Quero distância dos chocolates brancos e pardos. E que confeiteiro algum chame isso de discriminação, mas devo confessar que só sinto prazer com chocolates pretos. Não querendo ser careta, mas minha boca nega e renega todos os impuros. E como pureza é fundamental, nada do meu chocolate sendo misturado com leite ou com qualquer outra coisa que não seja a minha saliva. ...
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06/05/2012 - Amor bailarina

O amor é como bailarina, caminha na ponta dos pés quando chega e quando se vai. O amor não diz a que veio e nem justifica sua despedida. Como pássaro pode se aninhar perpetuamente ou migrar de estação em estação. O amor não dá satisfação, pois é livre por natureza. Amor acorrentado, parasita, xiita, dependente, submisso, caído não é amor. Amor é quente mesmo quando frio, é corrente como água de rio, é o constante arrepio.

O amor é como vento, parece não ter direção ou sentido, mas sabe muito bem seu itinerário. Amor que é amor não tem horário, não se prende a calendário, não vive num aquário, tampouco num relicário. Amor é explosão, é canção, é sublimação. Amor que é amor não se limita a uma cruz, é metade sombra metade luz. Amor é que delira, o eclipse que vira e desvira a alma. Amor é a pressa que se dá com calma, é a linha que se esconde na palma. ...
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22/01/2010 - Amor cabeça dura

Entre a ternura e a agrura, vive o amor cabeça dura. Tão cabeça dura é o amor que tanto atura. Amor cabeça dura atura dores e desalinhos, espinhos e flores extrapolando limites de altura e largura. Um amor cabeça dura ninguém segura. Amor cabeça dura perde, ganha, bate e fura e deixa se furar pelas flechas de um cupido destemido.

O amor é cabeça dura, pois não tem remédio nem cura. Amor cabeça dura que é falta e fartura. Amor cabeça dura é candura que não se apura. O amor cabeça dura faz da loucura sua formosura. Ai amor cabeça dura que mesmo entre tantas provas é coisa insegura. Amor que mesmo diante de frase mais pura, não esconde a ferradura....
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29/08/2008 - Amor caymminiano

Velho Caymmi, capitão do mar, nem bem se passaram dez dias de sua passagem para o plano espiritual e seu coração já voltou a bater com força total novamente. Isso porque dona Stella Maris já foi ao seu encontro. Por aqui, dizem que sua morte foi antecipada em razão dos problemas de saúde enfrentados por sua bem amada, que nem pode ir ao seu enterro porque estava em coma. Ah! Só mesmo o amor caymminiano para fazer da morte uma aventura romântica.

Ela deixou de respirar por você, Caymmi! Não é toda mulher que faz um sacrifício desses em nome do amor. Vocês que se conheceram em um programa de calouros na antiga Rádio Nacional, agora vão poder cantar eternidade afora. A mineira dona Adelaide, que adotou Stella Maris como nome artístico, foi amor de vida inteira. O casamento chegou aos 68 anos. Fato raríssimo nos dias de hoje. Digno de se aplaudir de pé por uns 15 minutos e ainda pedir bis. Penso na surpresa que foi reencontrar o grande amor para você que já cantava por entre os anjos-pescadores: "ai sodade, ai sodade, ai sodade matadeira"......
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