Daniel Campos

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04/11/2009 - Americabacaxi

Por detrás de sua casca dura e áspera, uma doçura de dar inveja às moças românticas. Para além de sua coroa de espinhos, uma espécie de salvador dos vegetais, amado por muitos e crucificado por outros como um sinônimo para expressões negativas. No dicionário, abacaxi também significa coisa complicada, embrulhada, trabalhosa e, pessoa maçante, desagradável, inconveniente. Descascar um abacaxi é o mesmo que sair de uma dificuldade, de um problema. O abacaxi se tornou uma contradição, é um gostar que não se gosta, um querer não quisto, um prazer indesejado.

A pobreza, a fome, a violência e o abismo social fizeram a América Latina ser vista como um grande abacaxi. Não é à toa que inúmeros políticos se deram bem prometendo descascar tal fruto. Há exatos 516 anos, um ano após descobrir a América, no dia 4 de novembro de 1493, o navegador genovês Cristovão Colombo descobriu o abacaxi. Encontrou a fruta na Ilha de Guadalupe, na segunda de suas quatro viagens ao novo mundo. E a Europa passou a cobiçar, a roubar, a sugar, a querer e a desquerer o abacaxi.

Ao mesmo tempo em que foi adorado por sua suculência e perfume, foi tido como algo depreciativo. Ao mesmo tempo em que foi cobiçado por sua natureza rica, foi encarado como algo barato oferecido aos colonizadores como prêmio de consolação à moda Chacrinha. Ao mesmo tempo em que foi tido como objeto de desejo, foi visto com temor. Ao mesmo tempo em que foi considerado padrão de beleza, reproduzido em esculturas e quadros em razão de sua forma exótica, foi recebido como algo primitivo, inferior, selvagem.

Colombo dizia que suas viagens ao paraíso eram parte de um plano divino que resultaria no último julgamento e no fim do mundo. Será que ao contrário da maçã o abacaxi é a fruta proibida?


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