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Encontrados 261 textos. Exibindo página 11 de 27.
04/08/2013 -
Secura
Jardim desbotou. Estrada empoeirou. Sol abrasou. Mundo esquentou. Pássaro avisou. Fogo queimou, fogo queimou. Miolo fritou. Senhora abanou. Vento secou. Plantação amarelou.
Cachorro emagreceu. Gado morreu. Criança se perdeu. Chuva se esqueceu. Estômago tremeu. Mar ferveu. Esperança adormeceu. Vida enfraqueceu. Peixe entristeceu. Urubu se atreveu.
Árvore desfolhou. Fruto madurou. Formiga trabalhou. Rosto suou. Roupa enxugou. Sertão avançou. Flor murchou. Coração tostou. Piscina acabou. Espírito-verde calou. Céu avermelhou. ...
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13/07/2013 -
Sereias nucleares
É preciso chorar pelas sereias radioativas, nadando por entre o iodo e o césio que vazam da usina de Fukushima. Sereias essas que estão sujeitas à extinção e diversas mutações. São milhares e milhares de toneladas de água contaminada afetando algas, animais e lendas marinhas. A candura, a brancura e a harmonia das sereias não vão resistir a essa inundação nuclear. A mistura ideal entre a mulher e o peixe está sob risco.
Soube que elas nem empunham mais a lira, as flautas e as gaitas, pois deixaram de cantar. A radiação fez com que perdessem a voz. Também não andam mais empunhando espelhos, pois seus rostos sofrem com os impactos da poluição nuclear. Poseidon, que sabe de tudo o que passa em seus domínios, deve levantar seu tridente contra essa situação deveras criminosa. Previsão de maremotos e tremores à vista. ...
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06/05/2013 -
Seu nome, Marilene
Hei de dizer seu nome por onde quer que eu vá. Hei de dizer seu nome próximo e longe de ti. Hei de dizer seu nome sobrepondo desejos. Hei de dizer seu nome pelos caminhos da saudade. Hei de dizer seu nome com minha boca, com meus olhos, com meus braços. Hei de dizer seu nome para não me perder de ti. Hei de dizer seu nome bendizendo tudo o que me fez, tudo o que me trouxe, tudo o que me quis. Hei de dizer seu nome como proteção e invocação.
Hei de dizer seu nome sempre de um jeito nunca dito. Hei de dizer seu nome em línguas (des)conhecidas. Hei de dizer seu nome mesmo quando distraído. Hei de dizer seu nome num assovio. Hei de dizer seu nome em dias de lua em noites de sol. Hei de dizer seu nome ao longo de um sorriso. Hei de dizer seu nome como que fazendo uma poção mágica. Hei de dizer seu nome flertando com as estrelas. Hei de dizer seu nome marilenenado por aí.
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04/05/2013 -
Sapo, sapo
Nunca fui amante de estádios de futebol, que também nunca foi meu esporte favorito. Pelos vãos da minha memória, ecos de uma torcida vestida de vermelho e branco gritando “sapo, sapo”, em incentivo ao time do Mogi-Mirim, que leva o mesmo nome da minha cidade natal. Por entre esses gritos, surge a imagem de meu pai sentado nas arquibancadas de madeira que viraram de concreto com o passar dos anos ou em pé junto ao alambrado, em uma das laterais do campo ou no fundo de algum dos gols. Independentemente do lugar, lá estava ele com os olhos dentro de campo e o ouvido colado em um radinho de pilha, acompanhando a partida. Na maioria das vezes, sozinho no meio da multidão ou de alguns gatos pingados, conforme a campanha do time. As lentes daqueles óculos já testemunharam gols de tirar o fôlego, passes mágicos, lances maiores que o tempo. ...
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17/04/2013 -
Saudade enraizada
Por onde quer que eu vá, por aqui ou em qualquer lugar, levarei saudade. Saudade de um tempo não nascido. Saudade de um desejo proibido. Saudade de um sonho adormecido. Saudade de um sentimento banido. Saudade do que não pode ou não quis acontecer. Saudade do que eu fui impedido de viver. Saudade do que não hei de fazer. Saudade de um mundo paralelo. Saudade do gosto de marmelo. Saudade de um dia rosa-amarelo. Saudade de uma boca. Saudade de uma louca. Saudade do que sempre será pouca.
Minhas mãos estão carregadas de adeus. Meu peito segue cravejado por partidas. Nos meus olhos as imagens de tantas e quantas despedidas. Meus pés tropeçam em tantas separações. O choro de perdas ainda chora em mim. O começo e o meio caindo no fim. A minha razão ficando mais e mais cega a cada ponto das malhas tecidas pelas ilusões. O sim e o talvez sendo sufocados por um sem número de nãos. O encontro e o reencontro nas garras dos desencontros. Uma sensação de velório que me deixa tonto. ...
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11/04/2013 -
Sobre a dor
Dói o tempo que sobra para não doer. Dói essa felicidade incompleta. Dói esse medo de viver. Dói, o nó da rotina dói. Dói a sina de enterrar tantos sonhos. Dói a falta de oportunidade. Dói o que não deu certo. Dói o que não era para ser. Dói a quebra da ilusão. Dói o silêncio doido. Dói o que nos é proibido. Dói o que nos foi vencido.
Dói a guerra que não cessa. Dói o remendo do coração. Dói a sombra que ronda. Dói a fiada do destino. Dói o olhar fundo, dói. Dói o parto da fantasia. Dói a saudade incontida. Dói a estrada do desencontro. Dói o susto da realidade. Dói o pesadelo não desvendado. Dói a construção descontruída. Dói o adeus anunciado....
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01/04/2013 -
Segunda-feira à moda
Angústia e pesar: será só isso a segunda-feira? Ninguém anda por aí cantarolando que a segunda-feira é belíssima? O primeiro dia útil da semana é pesado, odiado, rasgado. A composição da segunda-feira é densa, profunda, dramática. O ceticismo ronda a segunda-feira com doses de incredulidade. Há um olhar cego, de ódio e de esperança, debruçado sobre a segunda-feira. A segunda é o contraste da sexta, em cores, sentimentos e profecias. Enquanto a sexta é dos casamentos e dos flertes, a segunda é dos divórcios lavrados em cartório. ...
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19/03/2013 -
São José de Moji-Mirim
Hoje é feriado na longínqua Moji-Mirim, cidade onde nasci e cresci. Dia de o comércio fechar as portas, dos jovens dormirem até mais tarde sem compromisso de estudar, das mulheres capricharem um pouco mais no almoço. Dia de todos louvarem o padroeiro, São José. Dia da matriz, na praça central, suntuosa em curvas e lustres, estar em festa, recebendo fieis para missas e procissão. Dia dos sinos badalarem em alto e bom som. Dia de homens e mulheres, velhos e crianças, saírem pelas ruas da cidade carregando velas, terços e preces. Dia dos agricultores se voltarem ao céu pedindo chuva. Dia de simpatias e rezas fortes para o esposo de Maria. ...
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03/03/2013 -
São Caetano Veloso
Se eu fosse papa, santificaria, em caráter de urgência urgentíssima, Caetano Veloso. Um santo vestido com roupas de tropicália. Sua oração terminaria da seguinte forma: “amém, ou não”. Um santo de Odara, que pensa e reza pelo Haiti que existe dentro de cada um de nós. Um ser coroado de sensibilidade e consagrado à emoção. Caetano, o último santo romântico. O santo e a tigresa, o santo sem tradução, o santo que cruza a Ipiranga com a São João. Se cantar é orar duas vezes, caetanear é estar duas mil vezes mais próximo de deus. ...
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27/02/2013 -
Senitudes
Sem rumo, sem passo, sem prumo. Sem nada, sem tudo. Sem abraço, sem esculacho, sem acima ou abaixo. Sem estrada, sem som, sem parada. Sem veludo, sem agenda, sem fundo. Sem prenda, sem mundo, sem renda. Sem preço, sem merenda, sem tenda. Sem endereço, sem venda, sem direção. Sem apreço, sem lenda, sem sim ou não. Sem jardim, sem canção, sem camarim. Sem tela, sem novela, sem tramela. Sem solidão, sem fim, sem essa ou aquela...
Sem folha, sem vinho, sem escolha. Sem caminho, sem sorriso, sem juízo. Sem luz, sem ser preciso, sem cruz. Sem ninho, sem friso, sem brilho. Sem trilho, sem moradia, sem fantasia. Sem dança, sem volta, sem esperança. Sem nota, sem alegria, sem rio. Sem mio, sem nostalgia, sem vazio. Sem rota, sem plurais, sem casais. Sem ar, sem gostar, sem falar. Sem dinheiro, sem praia, sem coqueiro. Sem cheiro, sem saia, sem estar inteiro. Sem adeus, sem deus, sem ateus...
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