03/03/2013 - São Caetano Veloso
Se eu fosse papa, santificaria, em caráter de urgência urgentíssima, Caetano Veloso. Um santo vestido com roupas de tropicália. Sua oração terminaria da seguinte forma: “amém, ou não”. Um santo de Odara, que pensa e reza pelo Haiti que existe dentro de cada um de nós. Um ser coroado de sensibilidade e consagrado à emoção. Caetano, o último santo romântico. O santo e a tigresa, o santo sem tradução, o santo que cruza a Ipiranga com a São João. Se cantar é orar duas vezes, caetanear é estar duas mil vezes mais próximo de deus.
Um santo filho de Oxóssi e de dona Canô. Um santo de violão, que emana a luz de um abraçaço. Que nas igrejas de Caetano, capelas, matrizes ou catedrais, a acústica seja perfeita para os seus milagres. Quem quer “alegria, alegria” na vida, no trabalho, no amor, recorre a quem? São Caetano. O santo da lua de São Jorge, de Beleza Pura, de Chuva, Suor e Cerveja. Um santo que ora aparece com caracóis nos cabelos ora com cabelos grisalhos. Um santo que anda pelos trilhos urbanos, entre a realidade e a imaginação.
Se eu fosse papa, daria, sem pensar duas vezes, a chave da igreja para Caetano Veloso. Um santo acima do bem e do mal, sem hipocrisia e em sintonia com o astral. Um santo que não quer velas ou flores, mas aplausos. Um santo para se aplaudir de pé, sentado, deitado e de joelhos. São Caetano, patronos dos poetas, dos sonhadores, dos revolucionários, dos apaixonados. Um santo que quando abre a boca, cala. Um santo feito de poesia e de prazer, de fantasia e de querer. Um santo com asas na língua.
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