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Encontrados 79 textos. Exibindo página 7 de 8.
16/06/2010 -
Raios e trovões
Zapeando pela televisão noturna descobri que o SBT resolveu reprisar, 20 anos depois, “A História de Ana Raio e Zé Trovão”, telenovela originalmente produzida pela extinta TV Manchete. Para além da trama, em si, e da qualidade das imagens, chama a atenção o espírito interiorano da obra. Impressiona o Brasil de Tom Jobim e Chico Buarque ser o mesmo país de Almir Sater e Irmãs Galvão. O Brasil litorâneo se mistura ao pantaneiro e o resultado disso é uma bela diversidade de cores, sabores, perfumes e ritmos. ...
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15/05/2010 -
Raiz caipira
Há quem tenha raiz francesa, clássica e até mesmo fincada na nobreza. Não é o meu caso. Eu tenho raiz caipira. Raiz esta assumida e vivida por inteiro. Meu relógio é um galo, meu chapéu é de palha e meu carro é de boi. Minha cozinha é caipira, com direito a ovo caipira, frango caipira, porco caipira, tomate caipira... e fogão à lenha, colher de pau, caçarola de ferro. Até mesmo amar amo caipiramente, de forma tímida e sincera.
Para quem tem raiz caipira, muro é arame farpado; roupa se passa com ferro à brasa; palavra dita é como documento lavrado em cartório; semente lançada no roçado é um pedaço da gente. Coração caipira é igual cancela e porteira, basta pegar o jeitinho para abrir. Meu segurança é um espantalho, minha colcha é de retalho, minha flor é de algodão. Tem água de mina, telhado que pinga e sonho que vinga depois do primeiro chuvisqueiro. ...
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30/03/2010 -
Rei dos sem reinos
Quando a noite chegar, vou-me embora. Vou-me embora para um reino sem rei. Chega de duelar, de trabalhar, de matar dragões. Chega de ser plebeu de brasão. Chega de escutar histórias de feiticeiros. Chega de viver de masmorra em masmorra. Chega de guerra e de guerrear. Chega de távolas redondas, quadradas ou triangulares. Chega de coroas e cetros dizendo para eu fazer isto e aquilo. Chega de calabouços. Chega de forjar espadas nos ossos da morte. Chega de, no meio do caminho, haver sempre um rei de pedra. ...
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06/03/2010 -
Ratoeira para quem?
Poucas coisas são tão dramáticas quanto uma ratoeira armada e vazia. Como é aflitivo o silêncio que repousa naquele enredo explícito de morte. Só mesmo um rato no alto de sua natureza ambiciosa para se trair a ponto de cair no enredo dessa armadilha. E pensar que aquela mola comprimida divide o ser-vivo do ser-não-vivo, que, morto, já não é. Um simples golpe e está acabado. Aquele rato ou ratazana não roerá mais nada.
Humanos não diferem de ratos. Quantos os que não correm riscos diários por muita ou pouca coisa? Há sempre uma busca, um limite a ser ultrapassado, um quê de pecado em muita coisa que fazemos. Nós nos alimentamos do perigo que há ao nosso redor. Quantas mortes idiotas caídas em nosso cotidiano? Quantas vezes nos esquecemos e quantas outras desafiamos essas ratoeiras por puro prazer? ...
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16/11/2009 -
Receitas para uma vida saudável
Para ter uma vida saudável é preciso viver além de dietas e pensamentos positivos. É preciso se valer de algumas simpatias e mandingas. Começando pelo trivial, pode começar a carregar uma pata de coelho no seu chaveiro e tomar um belo banho de sal grosso. Cuidado com as faxinas excessivas, afinal aranhas, grilos e lagartixas são bem-vindos para trazer boa sorte. Ter um elefante evita falta de dinheiro. Mas atenção: ele precisa estar sobre um móvel, com a tromba erguida e de costas para a porta de entrada. Caso contrário, nada feito. ...
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21/10/2009 -
Renoir e a mulher do futuro
Caro Pierre-Auguste Renoir, para o deleite de seus olhos e pinceladas, a era das mulheres anoréxicas está chegando ao fim. Chega de modelos esqueléticas que se alimentam de luz e folhas de alface. O padrão de beleza está sofrendo uma mudança gradual que levará as novas gerações femininas a terem mais carne e menos ossos. Um terreno propício para suas pinceladas largas, fragmentadas e frívolas. E olha que isso não é coisa de revista de fofoca, mas de um estudo da "New Scientist". Você, que sempre deu muita importância à forma e buscou uma obra agradável aos olhos, deve estar ansioso. ...
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23/09/2008 -
Ratatatá
O rato roeu a roupa do rei de Roma e agora está roendo uma bandeira verde e amarela que encontrou debaixo da linha do Equador. O rato roedor vai roendo o verde das matas que ainda restam em pé e o amarelo ouro das carteiras e bolsas dessa gente de fé que trabalha de suor a suor. O rato não poupa nem mesmo os azuis daqueles que ainda sonham com estrelas, céu e horizonte. E a faixa com a inscrição ordem e progresso já foi rasgada, triturada, tombada pelo rato que ora tem cabelos grisalhos, ora tem barba, ora tem óculos, ora veste saias e atende pelo nome de ratazana. Rato mora em palácio, come queijo suíço e faz ninho em linho egípcio. ...
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03/09/2008 -
Ramadã
Adilah olha para o céu de Ramadã, perdido entre o dia e a noite, e navega por milênios no ar. Quando não consegue distinguir mais uma linha branca de uma linha preta no horizonte é o sinal do começo de mais um jejum. Assim como Adilah, mais de um bilhão de muçulmanos já se entregaram aos rituais do mês sagrado, onde quase tudo é proibido em nome do sacrifício, da reafirmação e da aprovação da fé. Ninguém come, bebe, fuma ou namora do nascer ao pôr-do-sol. É hora de lembrar o envio dos céus do Alcorão a Maomé como meio de salvação de um povo que ora cinco vezes ao dia, dá esmolas e vai a Meca ao menos uma vez na vida. ...
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15/06/2008 -
Rua Mato Grosso, número 43
Rua Mato Grosso, número 43. Bairro da Santa Cruz. Foi em uma casa simples de paredes brancas e grade verde, que conheci um universo de perfumes. Não sei o que dona Ofélia e seu Antônio, os proprietários daquela casa, aprontaram para ela ter ficado impregnada em minhas narinas. Já no jardim, por entre um cimentado com alguns canteiros circulares despontava um pé de coqueiro, daqueles rechonchudos, que exalava um cheiro que até hoje não saiu de mim. Um cheiro doce e forte. Não sei se vinha de suas folhas, daquele seu fruto alaranjado que nascia em formato de abacaxi ou das orquídeas que ficavam amarradas em seu tronco. Podia vir também dos muitos pássaros, inclusive dos beija-flores, que vinham em busca de água com açúcar e quirela de milho. ...
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24/05/2008 -
Re-consagração
Um menino acordou contente e nem sabia por que havia de estar tão sorridente. Pulou da cama, se benzeu, tomou café e agradeceu pelo sol, pelo sal, pelo farol que lhe guiava e por estar protegido de todo mal que o rondava. Ficou com vontade de correr e gritar ao mundo que hoje era o dia, o dia da alegria, o dia onde todos, dos anjos aos escaravelhos, dobram os joelhos e oram diante de uma senhora que por nós, sorri e chora.
De forma ardente o menino e a menina num mesmo beijo numa mesma re-consagração do amor, do amor presente em cada coração. Apaixonado e abençoado pelos céus, pegou a mão da menina como se pega um papel e numa troca de alianças escreveu um poema de bonança, unindo terra e céu. Versos de amor e ave-marias foram se misturando ao longo do dia em uma mais que completa fantasia. ...
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