Daniel Campos

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Encontrados 79 textos. Exibindo página 6 de 8.

26/06/2011 - Reinventando a noite

De repente, ela reinventou a noite. E então as estrelas ganharam cabelos e blush. E então o vestido negro do céu foi customizado por nomes da alta costura. E então os vagalumes abusaram dos perfumes. E então a lua calçou sapatos altos e pisou no coração do sol. E então os sentimentos noturnos foram renovados. E então as flores, contrariando a própria natureza, abriram-se. E então as criaturas que vagam pela noite encontraram mais motivos para se apaixonar do que para assombrar alguém.

De repente, ela reinventou a noite. E então sussurros, suspiros e gemidos se abraçaram debaixo das cobertas. E então o sereno abençoou os amantes, que assumiram seus sonhos e desejos. E então palavras foram esculpidas em rochas de silêncio. E então os pecados foram praticados e confessados. E então os carregadores da noite tiraram das costas os fardos. E então os cometas foram cavalgados e as estrelas cadentes tomadas em drinques. ...
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24/06/2011 - Rezando alto

Nossa Senhora de todas as cores, de todas as línguas, de todos os credos, de todos os povos, roga por nós. Auxiliadora da luz, do perpétuo socorro, do santíssimo sacramento, proteja-nos. Mãe que me guia, que me orienta, que me induz, abençoa-nos. Rainha de todos os reinos, terrenos e espirituais, temporais e atemporais, conhecidos e secretos, ampara-nos. Senhora das onze mil virgens e das coroas de doze estrelas, dos apóstolos e dos patriarcas, governa-nos.

Nossa Senhora de muitas súplicas, de muitas preces, de muitas rezas, de muitos silêncios, escuta-nos. Auxiliadora da vida e da boa morte, da sagrada família, das dores e das graças, consagra-nos. Mãe que tudo pode, que tudo vê, que tudo sabe, passa em nossa frente. Rainha que enfrenta o dragão, que expulsa o demônio, que dobra os joelhos dos pecadores, reina sobre nós. Senhora dos mantos azuis, dos anjos aos seus pés, das chuvas e dos sóis, defenda-nos. ...
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23/04/2011 - Retratos de Minas, de A a Z

Alda e Zélia, pão e vinho, luz e caminho, celebração e comunhão. Senhoras de uma prosa à mineira que nos leva a embarcar num daqueles trens sem fim, repletos de vagões pintados de carmim e recheados de histórias e tradições. Senhoras de glórias e brasões, damas remanescentes da fina flor da sociedade de Minas Gerais. Sem mais perceber, os olhos de Alda falam tanto quanto a boca de Zélia. Do amanhecer ao anoitecer, a brancura dos cabelos de Alda e a vermelhidão dos de Zélia lado a lado como lua e sol, canto e rouxinol. ...
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24/03/2011 - Reza de menino

Quando eu dormir, ò mãe, permita que a tua luz afugente as sombras que se escondem na escuridão. Impeça que criaturas ruins se aproximem de mim ou habitem meus sonhos. Por mais que eu tenha cobertas sobre o meu corpo, cubra-me com teu manto. Se puder, deixa ao menos um de teus anjos aos pés da minha cama. Antes de ir, ò dama das damas, recolha as contas do terço que rezei em teu nome e a flor que coloquei aos pés da tua imagem. Aquece-te à chama da vela que acendi e faça em mim, se me julgar merecedor, os teus milagres. ...
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03/01/2011 - Reza mulher

Reza mulher de crenças e ritos. Reza mulher que em nome da fé rompe conflitos, interesses, etnias. Reza mulher que nega a própria emancipação em favor de um Deus dominante. Reza mulher de tantas feridas e quantas saudades não vividas. Reza mulher numa reza que poda suas asas de pássaro. Reza mulher entre a angústia e o bucólico. Reza mulher e mostra-se mulher perfeita de joelhos ao chão e lábios ao crucifixo.

Reza mulher de crenças e ritos. Reza mulher que em nome da fé rompe conflitos, interesses, etnias. Reza mulher que nega a própria emancipação em favor de um Deus dominante. Reza mulher de tantas feridas e quantas saudades não vividas. Reza mulher numa reza que poda suas asas de pássaro. Reza mulher entre a angústia e o bucólico. Reza mulher e mostra-se mulher perfeita de joelhos ao chão e lábios ao crucifixo. ...
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13/12/2010 - Receituário de amor e paixão

É mister diminuir a distância que separa nossos olhos, deixando de lado todos obstáculos e imbróglios da vida cotidiana. Que tal perder o medo de altura e se atirar desse penhasco que é a vida de forma insana. Usa as asas geradas pelos seus sonhos e plana. Plana sobre prédios e espinhais, sobre tédios e carnavais. Vamos amar pelos espirais do DNA da paixão mais louca já nascida. Vamos amar fazendo de casa encontro, a despedida; e da despedida, o reencontro.

Contudo, para se conseguir tudo isso, é fundamental que nossos olhos se casem de tal maneira que haja um só olhar sobre todos os aspectos, seres e teorias. Que nossos corpos habitem para além das fantasias e palpitem mil e uma poesias. A estrada já é curta, não há necessidade de atalhos, tampouco de retardos. Façamos de nossos corações alvos comuns de dardos cupidianos. Façamos de nossas profissões de fé a provação de nossos planos e a prova de nosso amor sobre-humano.


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12/12/2010 - Renda-se ao Natal

Franceses enfeitam a catedral de Strasbourg com luzes coloridas. Japoneses caminham entre a iluminação natalina do Shinjuku. Ingleses quebram o frio com as luzes da rua Oxford, no centro da capital inglesa. Os alemães compram decoração para suas árvores no mercado de Nuremberg, na Baviera. Chilenos suspiram diante da árvore instalada no centro de Santiago. Russos compram mel, grãos e frutas para a ceia. Italianos montam presépios gigantes em Gênova.

Argentinos já planejam o Natal com muito vinho, fogos de artifício e espumante. Os reis magos caminham trazendo os presentes das crianças. Norte-americanos passam cobiçando as vitrines das lojas da Quinta Avenida. Irlandeses desejam “Feliz Natal” em Dublin. O Papai Noel dinamarquês aparece nos jardins de Tivoli, o parque de diversões mais antigo da Europa, em Copenhague. Cariocas se amam tendo a árvore da Lagoa Rodrigo de Freitas como cenário. ...
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20/11/2010 - Rachel, ainda moderna, aos cem

Cem anos depois, Rachel de Queiroz continua moderna. Se naquela época ela já falava que escrevia só por dinheiro e preferia o jornalismo à literatura o que não seria capaz de dizer nos dias de hoje. Sua maternidade continua inesgotável cem anos depois de seu nascimento. Rachel que chorou para sempre, de um jeito próprio, a morte da filha aos dois anos de idade. Rachel continua seduzindo, continua improvisando. Mulher nascida em solo de mulheres fortes. Mulher do sertão, açude de coração pulsando no meio da paisagem seca....
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15/08/2010 - Restos do apocalipse

Todos correram. Todos fugiram. Todos sumiram das ruas e das luas de São Jorge. Não há ninguém por aí. Não há ninguém por aqui. Mataram todos os pardais, os rouxinóis e até o mestre bem-te-vi. Não há canto de pássaro, não há ninho de pássaro, não há céu de pássaro e não há ninguém a passar. Destruíram todas as flores. Borraram as cores. Saquearam as lojas. A comida acabou, a policia debandou, a festa acabou... e eu fiquei para trás acreditando no mundo, nas coisas do mundo...

Beberam todo o champanhe. Quebraram as taças de vinho. Sujaram a água da fonte. De avião, navio, carro, moto... todos se foram. Não ficou ninguém para dar notícias. A televisão saiu do ar. O rádio está mudo. Os bares estão vazios. A cidade é só uma massa de concreto e nada mais. Tudo está escuro. As árvores secaram, tombaram, queimaram. E não há qualquer sinal de brotos. Só as formigas continuam sua marcha prevendo um longo inverno. ...
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02/07/2010 - Redação de um órfão

Minha mãe morreu quando eu tinha quatro meses. Ou melhor, foi morta. Brutalmente morta. Não consigo me lembrar de seu rosto, de sua voz, de seu perfume. É como se eu nunca tivesse tido uma mãe. Arrancaram-me dela quando eu ainda nem sabia quem eu era. Tiraram-me de seus afagos, de seu leite, de suas expectativas. Só a conheci por fotografias. Aliás, há muitas imagens de minha mãe nos arquivos de jornais, revistas, televisão e internet. Minha mãe era modelo, mas, pelo que já li sobre ela, sua morte teve uma repercussão muito maior do que sua carreira. ...
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