15/05/2010 - Raiz caipira
Há quem tenha raiz francesa, clássica e até mesmo fincada na nobreza. Não é o meu caso. Eu tenho raiz caipira. Raiz esta assumida e vivida por inteiro. Meu relógio é um galo, meu chapéu é de palha e meu carro é de boi. Minha cozinha é caipira, com direito a ovo caipira, frango caipira, porco caipira, tomate caipira... e fogão à lenha, colher de pau, caçarola de ferro. Até mesmo amar amo caipiramente, de forma tímida e sincera.
Para quem tem raiz caipira, muro é arame farpado; roupa se passa com ferro à brasa; palavra dita é como documento lavrado em cartório; semente lançada no roçado é um pedaço da gente. Coração caipira é igual cancela e porteira, basta pegar o jeitinho para abrir. Meu segurança é um espantalho, minha colcha é de retalho, minha flor é de algodão. Tem água de mina, telhado que pinga e sonho que vinga depois do primeiro chuvisqueiro.
Meu rádio toca viola, minha previsão do tempo fica por conta da dona lua, minha festa é ao redor de uma fogueira. Minha fé também é caipira, daquelas de rezar ajoelhado, de cantar chorado, de beijar a imagem da santa. E por falar em santa, que seja bendita essa vida roceira de meu Deus com o sol avermelhando lá no estradão feito pimenta de cheiro, com a criação correndo pelo terreiro e a mulher se fazendo amada num olhar brejeiro.
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