16/06/2010 - Raios e trovões
Zapeando pela televisão noturna descobri que o SBT resolveu reprisar, 20 anos depois, “A História de Ana Raio e Zé Trovão”, telenovela originalmente produzida pela extinta TV Manchete. Para além da trama, em si, e da qualidade das imagens, chama a atenção o espírito interiorano da obra. Impressiona o Brasil de Tom Jobim e Chico Buarque ser o mesmo país de Almir Sater e Irmãs Galvão. O Brasil litorâneo se mistura ao pantaneiro e o resultado disso é uma bela diversidade de cores, sabores, perfumes e ritmos.
Eu sempre fiz a ponte entre a Ipanema de Vinicius de Moraes e o pantanal de Renato Teixeira. É como se nossa miscigenação fosse além da questão racial. Há dias em que estou para um amor bossa-nova, outros para um amor em toada caipira. Que bom poder amanhecer o dia vendo uma boiada correndo pela estrada batida de terra e anoitecer vendo um veleiro se perder entre mar e lua. A mulher que caminha pelas pedras da metrópole tem os mesmos mistérios da mulher que cavalga a pelo pelos sertões.
O melhor de tudo é saber que as estrelas que desfilam pelas coberturas de hotéis de luxo são exatamente as mesmas que enchem o olhar caboclo acomodado em uma rede. E há uma busca mútua nisso tudo. Os cosmopolitas buscam pelos prazeres do campo e os sertanejos buscam pelos mistérios da cidade grande e, em meio a essa busca, buscam-se. Pode parecer confuso, mas só quem já viveu essas duas realidades de perto sabe quanta beleza há perdida por aí.
O sabiá, passarinho que assovia tanto no brejo quanto no asfalto, sabe como ninguém que a inspiração barulha no mar da cidade e no céu do sertão com a mesma intensidade. Que o diga os raios e trovões.
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