06/03/2010 - Ratoeira para quem?
Poucas coisas são tão dramáticas quanto uma ratoeira armada e vazia. Como é aflitivo o silêncio que repousa naquele enredo explícito de morte. Só mesmo um rato no alto de sua natureza ambiciosa para se trair a ponto de cair no enredo dessa armadilha. E pensar que aquela mola comprimida divide o ser-vivo do ser-não-vivo, que, morto, já não é. Um simples golpe e está acabado. Aquele rato ou ratazana não roerá mais nada.
Humanos não diferem de ratos. Quantos os que não correm riscos diários por muita ou pouca coisa? Há sempre uma busca, um limite a ser ultrapassado, um quê de pecado em muita coisa que fazemos. Nós nos alimentamos do perigo que há ao nosso redor. Quantas mortes idiotas caídas em nosso cotidiano? Quantas vezes nos esquecemos e quantas outras desafiamos essas ratoeiras por puro prazer?
Imagino as ratoeiras sendo redimensionadas para uso humano. Ao contrário de um pedaço de queijo, carros ou vitrines ou notas verdes seriam presas àquela mandíbula de ferro. São tantos os atrativos para fazer homens e mulheres morrerem em nome do querer-mais. Agora, se fosse colocado ali um coração ou os olhos tristes de uma mulher, quantos poetas não seriam esmagados de amor?
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