23/04/2011 - Retratos de Minas, de A a Z
Alda e Zélia, pão e vinho, luz e caminho, celebração e comunhão. Senhoras de uma prosa à mineira que nos leva a embarcar num daqueles trens sem fim, repletos de vagões pintados de carmim e recheados de histórias e tradições. Senhoras de glórias e brasões, damas remanescentes da fina flor da sociedade de Minas Gerais. Sem mais perceber, os olhos de Alda falam tanto quanto a boca de Zélia. Do amanhecer ao anoitecer, a brancura dos cabelos de Alda e a vermelhidão dos de Zélia lado a lado como lua e sol, canto e rouxinol.
Alda, imperatriz da liberdade, postura firme e gestos nobres. Zélia, divindade do trovão, espontaneidade e força em corpo de mulher. As valsas de Alda e os sambas de Zélia no mesmo passo, no mesmo espaço. Personificações femininas do verbo educare, mestras da arte de preparar pessoas para o mundo. Segundo a segundo, variações de uma mesma realidade. Matizes da saudade de um tempo que já não há. Divas da dinastia Christo, duas Marias em uma mesma aparição, em uma só anunciação.
Damas de vestidos e saltos, de jóias e sobressaltos. Damas de costumes e estampas e de uma fé que se agiganta. Quantos filhos e filhas passeiam por seus cancioneiros mineiros? Quantos estribilhos e redondilhas ecoam pelos seus jardins de cetim? Protagonistas do bairro de todos os santos, das ruas de pedra, do céu polvilhado de estrelas. Damas dos afrescos da matriz, do barroco da catedral, dos sabores do mercado municipal. Dobra de esquinas, exemplo às meninas... Damas das quitandas, das varandas, dos conservatórios, dos oratórios, das críticas e de uma essência cítrica.
Alda das viagens e paisagens, Zélia dos perfumes e maquiagens. Senhoras do casarão, donas de baús de lembranças e tuiuiús de conhecimento. Senhoras de tratamento sério, do império do afeto, do cultivo de netas e bisnetas doutoras sob o mesmo teto. O som dos violinos de Alda e dos bandolins de Zélia afinados no mesmo tom. Dueto perfeito. Mulheres de respeito, de argumento e acalento. Damas da disciplina que inovam e se renovam cada vez que o cotidiano abre suas cortinas.
Senhoras suaves, delicadas e de personalidade marcante como as montanhas que rodeiam a cidade. Damas influentes, sementes do São Francisco. Damas monteclarenses das liras de Beto Guedes, dos saberes de Darcy Ribeiro, das cores de Konstantin Christoff, dos folclores de Hermes de Paula, das lutas e honras de José Alencar... Senhoras plurais e singulares, tradicionais e à frente do tempo. Ares da revolução e pares de um mesmo sentimento.
Mulheres de fibras e bordados, de pinturas e penteados. Professoras de lições e aprendizados. Das noções de boas maneiras aos cálculos matemáticos, o destino é enfático quando entrelaça Alda e Zélia como almas gêmeas, princípio e fim de um mágico dicionário, faces de um relicário de significados tão caros, céus e véus se encontrando no mesmo horizonte de Montes Claros.
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