20/11/2010 - Rachel, ainda moderna, aos cem
Cem anos depois, Rachel de Queiroz continua moderna. Se naquela época ela já falava que escrevia só por dinheiro e preferia o jornalismo à literatura o que não seria capaz de dizer nos dias de hoje. Sua maternidade continua inesgotável cem anos depois de seu nascimento. Rachel que chorou para sempre, de um jeito próprio, a morte da filha aos dois anos de idade. Rachel continua seduzindo, continua improvisando. Mulher nascida em solo de mulheres fortes. Mulher do sertão, açude de coração pulsando no meio da paisagem seca.
Seca assim como a escrita objetiva e clara que Rachel de Queiroz recheou seus livros. O romantismo de suas personagens tinha cunho social, aguerrido, transformador. Ao contrário de chá com amigas, freqüentava as reuniões do partido comunista. Leciona, separa, ama, fuma, pensa, fala, viaja de um canto para o outro como se o espírito da liberdade forjasse seu corpo. Se houvesse oportunidade, quantos a teriam eleita presidente da República ao longo desses cem anos? Ao contrário dos segundos do tempo cronológico, o tempo de Rachel de Queiroz é estruturado em crônicas.
Quantas lendas, lembranças, sentidos e personagens cabem no calendário de Rachel? Um calendário dinâmico, que muda a cada folha. Pudera, sua produção não cessa. É um fogo que a queima por dentro com toda dor e beleza de um fogaréu. Por não se contentar com alegrias tímidas e com amores sem orgasmos múltiplos, ela viveu a vida de forma cru e bela. Por ter ido muito além da superfície das coisas, cem anos depois, Rachel de Queiroz continua moderna. E como toda modernidade, viva e inspiradora.
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