Daniel Campos

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Encontrados 254 textos. Exibindo página 8 de 26.

15/10/2010 - Pé de arara

Há árvores que dão mangas, castanhas, jabuticabas, flores, sementes, sombras e araras. Araras? Isso mesmo. Uma árvore seca lá de casa depois de morrer deu pra dar araras. Araras azuladas, araras cobertas com plumagens verdes, araras de peito avermelhado. Não sei de onde esses papagaios coloridos surgem, tampouco pra onde vão. O que sei é que elas se dependuram nos galhos como frutos e explodem em cores como uma floração primaveril. E mais: elas cantam e conversam entre si enquanto escorregam pra lá e cá num balé morfológico, biológico e comportamental capaz de deixar qualquer um boquiaberto. ...
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16/06/2008 - Pé de Graviola

Por ter sido criado com um pé no sítio, sempre achei que conhecia tudo de fruta. Mas me enganei ao ver Marilene chegando em casa com uma sacola pesada em uma das mãos. Estranhei o que ela trazia. Afinal, era uma fruta verdolenga, de casca fina e falsos espinhos, com mais de cinco quilos. O nome desta preciosidade? Graviola. Ora, ora, desde que quando existe graviola do tamanho de jaca? Desde sempre, segundo minha amada mineirinha

Fiquei encabulado com aquilo, afinal, para mim, graviola era fruta pequenina e não um monstro daquela proporção. O que ela tinha de pesada, tinha de perfumada. Em poucos segundos, seu cheiro se alastrou pela casa. Quando parti a fruta desconhecida, a minha surpresa. Seu interior era como uma grande pinha, branco neve com sementes pretas guardadas em gomos. E o gosto, difícil de explicar, era de um doce azedinho. ...
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23/07/2013 - Pé de joaninha

Os olhos se pintaram de lágrimas quando a menina encontrou uma joaninha morta na beira de um vaso. Era daquelas vermelhas com pintinhas pretas que ela estava acostumada a ver somente nos desenhos animados da televisão. Colocou o bichinho na mão, ainda com receio dele se mexer. Ela queria que a joaninha ainda estivesse viva, porém, ao mesmo tempo, arrepiava-se só de pensar naquele inseto andando pela sua mão. Para tristeza ou alívio da menina, o milagre não aconteceu e a joaninha continuou morta, sendo velada pelos olhos pintados de luto. ...
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08/10/2013 - Pé de saudade

Meu vô, a chuva chegou... Já é tempo... Vamos, vamos plantar. Vamos preparar a terra. Arar, gradear, roçar, carpinar, adubar... Vamos, como pés de vento, sair semeando por ai. Vamos marcar a terra vermelha com nossos passos. Passos riscados, bailados, passados entre as ruas da lavoura que ainda não nasceu.

Meu vô, minhas mãos estão prontas... Vamos, vamos semear a pé ou a trator... Vamos semear milho, algodão, painço, arroz, feijão, abóbora... Vamos, vamos dar de comer à terra... De semente em semente, de muda em muda... Vamos plantar café, laranja, limão, manga, abacate... A chuva chegou, vamos plantar quantos pés de saudade?


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25/03/2015 - Pe(r)dição

Ela me pede um beijo, não dou. Ela me pede para ser seu super-herói, não sou. Ela me pede um abraço, passo. Ela me pede uma cena obscena, faço cinema. Ela me pede o proibido, dou como lido. Ela me pede um cachorro, corro. Ela me pede “não solta”, dou volta. Ela me pede resposta, dou as costas. Ela me pede em casamento, entrego ao vento. Ela me pede uma oportunidade, falo em saudade. Ela me pede uma dança, digo “não cansa?”. Ela me pede um sorriso, peço juízo. Ela me pede colo, amolo. Ela me pede estrada, dou em nada. Ela me pede atitude, fico amiúde. Ela me pede futuro, depuro. Ela me pede um sonho, proponho. Ela me pede tamarindo, vou indo. Ela me pede minha boca, chamo-a de louca. Ela me pede afeto, veto. Ela me pede para deitar em seus seios, volteio. Ela me pede um toque, digo “não provoque”. Ela me pede miragem, eu aragem. Ela me pede sementes, faço-me ausente. Ela me pede trégua, vou a léguas. Ela me pede choro, quebro o decoro. Ela me pede presença, peço licença. Ela me pede carinho, aninho. Ela me pede cumplicidade, dou realidade. Ela me pede desordem, sou pela ordem. Ela me pede casa, só tenho asas. Ela me pede um canto, espanto. Ela me pede cupuaçu, dou umbu. Ela me pede que a deixe descalça, vou numa valsa. Ela me pede o que não espero, faço-me bolero. Ela me pede mambo, sou tango. Ela me pede para me ver nu, desligo o abajur. Ela me pede companhia, dou poesia.


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22/08/2010 - Peão apaixonado

O boiadeiro vai rompendo o fim da madrugada pelos campos do sertão. Seus passos amassam o orvalho enquanto seu rosto leva as chibatadas do vento frio. O vento aberto da invernada chicoteia para lá e para cá. Que Deus e Nossa Senhora protejam aquele homem que tem o corpo coberto das marcas da vida, que enfrenta com peito aberto e um coração de boi. Com chapéu deitado na testa e olhos no horizonte o homem caminha entre a luz e a escuridão assoviando uma canção:

Ê boi, êê boiada estrelada...
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15/01/2016 - Peça da memória

Fruta do pé tem gosto de infância. Meus pés correndo pelas terras orvalhadas de uma chuva que invernava bem uns quinze dias. E as frutas, colhidas na hora, tem gosto, cor e cheiro maduros. Comer de se lambuzar. E a fartura, na cabeça criança, é de que aquele pé tem mais frutas do que se pode comer. Tira uma, nasce outra. Mágico. Lá se vão os anos e sempre que possível a memória me prega uma peça e me traz um perfume, uma textura, um sabor, um tom daquela época. Volto no tempo. Divirto-me novamente numa intensidade infantil. E depois sobra na minha boca um gosto indecifrável de saudade.


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12/03/2008 - Pecados modernos

Recebo com espanto a notícia de que o Papa Bento 16 modificou a lista de pecados capitais. De nada valeram as horas e mais horas que passei decorando -gula, luxúria, avareza, ira, soberba, vaidade e preguiça - para as aulas de catecismo. Como não foi Deus quem escreveu esta lista e sim outro papa (Gregório), o fato de vê-la alterada não é o mais gritante. Ainda mais quando o propósito é o de aproximar a igreja da realidade.

Achei louvável o papa dizer que poluir o ambiente é pecado. Afinal, o Planeta é uma espécie de divindade e toda vez que o agredimos, pecamos. Causar injustiça social ou pobreza também é digno de pecado, afinal, na teoria, somos todos iguais. Ainda neste sentido, tornar-se extremamente rico também virou motivo de confissão. Vale dizer que já há 18 brasileiros na lista dos mais ricos do mundo. O fato de usar drogas ser considerado pecado remete a idéia da destruição da vida, que é patrimônio celeste. É claro que pecar ou não é uma decisão do nosso livre arbítrio. ...
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19/11/2008 - Pechincha

Para quen é que eu peço um desconto nesta minha caminhada? Será para o Criador? Um abatimento na ordem de 20 por cento das pedras que rolam em meu caminho já me livraria de muita coisa desagradável. E este pedido deve ser legal, já que nesta feira livre chamada vida vale de um tudo. Muito é adquirido, muito é perdido, muito é passado para frente, muito é trocado... Na maioria das vezes, lucra quem grita mais alto, quem tem maior poder de ilusão, quem coloca tudo em liquidação ou, simplesmente, quem apele para a instituição da pechincha....
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16/06/2014 - Peço seu colo

Meu rosto pede seu colo. Meu rosto ao tempo, ao vento, ao sentimento pede seu colo. Meus olhos secos ou encharcados pedem pelas visões que só encontram em seu colo. Sem o perfume do seu colo sou incompleto, falta graça e a tristeza me enlaça. Ah! Não me maltrata assim sem a quentura do seu colo. Deixa-me sentir outra vez toda loucura e toda fartura do seu colo. Deixa-me perder pelas estrelas pintadinhas em seu colo como num céu iluminado de alento e desejo. Meus lábios pedem a candura de seu colo. Eu imploro pelo seu colo. Eu choro a ausência do seu colo. Eu olho seu colo pelas malhas da minha lembrança. Eu olho seu colo que entalha você em meus olhos. Eu olho seu colo que talha porquês em meus olhos. Eu olho seu colo em curvas num tempo reto. Eu olho seu colo e meu coração se põe em posição de feto. Eu olho seu colo como criança fitando seu doce predileto. Eu moro em seu colo fazendo da esperança meu teto.


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