Daniel Campos

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Encontrados 278 textos. Exibindo página 27 de 28.

20/03/2008 - O Calvário é logo ali

Você seria capaz de encontrar doze pessoas em sua lista de amigos para cearem com você hoje? Caso os encontre, você repartiria o pouco de seu pão e de seu vinho com eles? Durante a ceia, você teria coragem de entregar seu corpo e seu sangue para esses doze? Vou um pouco mais longe: você conseguiria se ajoelhar e lavar os pés dos que acredita serem seus amigos? Você seria capaz de fazer tudo isso sabendo que um deles, o mesmo que comeria do seu prato, iria promover uma traição que lhe levaria à morte? E mais, você perdoaria esse alguém? ...
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15/03/2008 - O Cristo Redentor que se cuide

Roubar galinha, carteira, carro e eletrodomésticos é démodé. Também já está desvalorizado o contrabando de animais e plantas silvestres, o confisco da poupança da classe média e o assalto a esperança de milhares de eleitores. Também se engana quem pense que o roubo de segredos industriais, de órgãos humanos e de telas famosas de museus clássicos está na moda. O frisson agora, entre os ladrões, é roubar múmias. Múmias? Isso mesmo, nesta semana a polícia egípcia apreendeu quatro múmias roubadas que seriam vendidas no mercado negro por um grupo de contrabandistas....
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06/03/2008 - O mundo não se acabou

"Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão"

Há exatos cinquenta anos, o autor desses versos saiu por aí para nunca mais voltar. O baiano Assis Valente não sossegou e conseguiu nos deixar em sua terceira tentativa de suicídio. Mas não foi porque ele era mantido em regime de escravidão pela própria família, ou pela vida que levava no circo ou pelo trabalho de lavar vidrinhos em uma farmácia que ele decidiu se matar......
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23/02/2008 - Os seis primeiros meses

"Nossa vida é decorrência dos seis primeiros meses". Quando ouvi esta frase do doutor Dioclécio, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, eu, simplesmente, emudeci. É como se eu mergulhasse em queda livre horas e horas a fio. Mas, no tempo real, foram alguns segundos. Percebendo o meu silêncio, ele frisou: "Daniel, a vida do ser humano é conseqüência direta do que aconteceu nos seus primeiros seis meses de existência".

É nessa fase que ocorre o maior e mais intenso desenvolvimento cerebral. É o período em que as células nervosas estão se ligando, construindo nossa inteligência, nosso comportamento, nosso emocional. Estudos científicos ratificam que as pessoas que tiverem alimentação correta (aleitamento materno) e uma boa dosagem de estímulos afetivos (contato com mãe e pai - entenda-se: carinho) são mais tranqüilas. Os bebês que sofreram, durante os seis primeiros meses, algum tipo de prejuízo em relação a essas necessidades básicas serão, provavelmente, jovens violentos e agressivos. ...
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22/02/2008 - O blábláblá da CPMF

No final do ano passado, o debate sobre a CPMF triturou nossos cérebros. Hoje, podemos constatar que aqueles discursos inflamados de que a população não podia mais ser prejudicada em nome da arrecadação do governo não passavam de blábláblá. A oposição derrubou a contribuição provisória, mas e daí? Nada melhorou em nossos bolsos. Aliás, já tem gente sentindo saudade da CPMF.

Não é para menos. Ao contrário de ficarem mais baratos, os produtos subiram de preço. E não sou eu quem escreve isso só para polemizar. Já há um estudo da Fundação Getúlio Vargas qie comprova que até agora os consumidores não viram nenhum benefício com o fim da taxação. O preço do automóvel devia cair 1,69 por cento (que era o valor da CPMF), mas acelerou 0,26 por cento. No café, o peso da CPMF era o mais alto, correspondendo a 2,25 por cento. Ao contrário de ficar mais barato, subiu 0,16 por cento. Nas farmácias, onde a CPMF pesava 1,49 por cento, os remédios aumentaram 0,15 por cento. ...
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O abismo da vergonha

O abismo é cada vez maior. De um lado os que ficam na piscina com taças de champanhe e de outro, os que catam comida no lixo. De um lado os que nem sabem onde acabam suas fazendas e de outro, os que não tem sequer uma cova rasa. De um lado os que têm direito às leis (às brechas da lei) e de outro, os que não mais acreditam em justiça.

Quando os olhos chegam perto do abismo, o medo faz com que se volte para trás. Ficar pasmado não leva para lugar algum. O abismo que parece infinito não é recente. Às vezes, pode ter outro nome. Pode ser um muro (Berlim), uma fronteira (EUA x México), um embarco, acima de tudo econômico, (Cuba, Iraque), uma indústria da seca (Brasil)......
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O ato de acreditar

Brasil: três milhões de crianças que, hoje, trocam as aulas pelo trabalho. Brasil: 50 mil crianças trabalhando no lixo. Revirando, revolvendo, remoendo o lixo. Brasil, quantas as suas crianças que não sabem o que é ser criança?

Crianças violentadas. Crianças abandonadas. Crianças desenraizadas. Crianças prostituídas. Crianças sem fantasias. Crianças vitimadas. Crianças fora de contexto. Crianças de uma vida favelada. Crianças no exílio das letras. Crianças entregues à maldição de ver a infância e não poder sentir o seu sabor. E o que será do adulto gerado a partir dessa falta de criança? Será esse o retrato de cidadão que o Brasil quer ter?...
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O desejo entre o byte e a carne

O corpo ainda quente tomba na cama. O sexo tatuado nos lençóis é a prova mais insignificante do que acontecera ali. Ela ainda tem calma o suficiente para tomar um banho com um sabonete esfoliante. Talvez porque quisesse tirar de sua pele qualquer vestígio de outra pele. Talvez porque quisesse ficar bonita para a próxima vítima. Talvez porque quisesse demorar um pouco mais debaixo do chuveiro. Talvez porque não tivesse acontecido nada para se preocupar. Afinal, não é o primeiro e nem seria o último. ...
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O dono do mundo

O dono do mundo não é um livro. O dono do mundo não é uma novela. O dono do mundo não é um apelido. E "mundo" não é o nome de um cachorro. O dono do mundo fala inglês e usa chapéu de vaqueiro.

O dono do mundo faz o que bem quer. Invade, bombardeia, arrasa e inventa desculpas. O dono do mundo comete os sete pecados e quantos mais houver. O dono do mundo quer o último spot de luz de uma noite escura. Não há papa, rei, bacharel que o derrube.

O dono do mundo não pede conselhos ou dá satisfações. Para o dono do mundo, nada importa além de seu umbigo. Nem civilizações nem culturas nem sentimentos, o que importa é conquistar fincando sua bandeira em cada milímetro quadrado de mundo....
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O Gosto de uma época

Um vento forte e sem direção. Acordo numa espécie de transe. A vista confusa. O corpo meio zonzo. Caminho. Os meus passos seguem outros passos. Não sei se são passos desgarrados, se são passos guardados, eu só sei que são passos passados. Não me pergunte qual é ou era o mundo. Só sei que, está ali diante dos meus olhos. Os rastos ora mais fortes, ora mais fracos rabiscam a estrada. E lá vão os passos, e lá vai um tempo, e lá vou eu.

Por hora, caminho ao som de uma música. Não sei de onde vem, mas conforme caminho, ela, a música, fica mais próxima. É a minha única guia. Não vejo o cantor, mas deve estar usando colares, paletó de veludo e calça-boca-de-sino. A vida, como uma amante, remexe os seus calendários como quem remexe os guardados das gavetas. ...
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