Daniel Campos

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Encontrados 207 textos. Exibindo página 11 de 21.

24/02/2013 - Doramento

Dói saber que a dor do mundo lhe corrói numa doração sem começo, sentido ou fundo. Dói não compreender a razão de se estar nessa vida a esperar por milagres, por surpresas ou pela própria morte. Dói estar aqui e a ali ao mesmo tempo e, na verdade, não estar em lugar algum. Dói ter os pés presos ao chão e a cabeça nas nuvens. Dói ver o tempo, com oportunidades e saudades na bagagem, passar e se perder da sua vista. Dói o florista passar direto por sua porta. Dói toda descrença. Dói saber que ninguém se importa com sua dor. Dói saber que se pode viver perfeitamente sua presença. Dói terem o amor como um vírus, uma cólera, uma doença....
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18/02/2013 - Doutor, meu cachorro...

Doutor, meu cachorro conversa numa língua estranha. Doutor, meu cachorro anda feito gente, totalmente ereto apoiado apenas em duas patas. Doutor, meu cachorro dança rodando para lá gingando para cá. Doutor, meu cachorro me fecha do lado de fora de casa. Doutor, meu cachorro quer tomar café antes de mim. Doutor, meu cachorro tem um quê de extraterrestre. Doutor, meu cachorro fica pendurado no telefone. Doutor, meu cachorro dá risada.

Doutor, meu cachorro tem visão de raio-x. Doutor, meu cachorro sonha alto. Doutor, meu cachorro fala dormindo. Doutor, meu cachorro tem olho que muda de cor. Doutor, meu cachorro é voyeur. Doutor, meu cachorro come tempero. Doutor, meu cachorro comete os sete pecados capitais. Doutor, meu cachorro vê televisão. Doutor, meu cachorro tem um caso de amor com o poste de luz. Doutor, meu cachorro tem medo de ladrão.


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15/02/2013 - De em de

De guerra em guerra, o mundo fica em paz. De seca em seca, a semente se guarda pra chuva. De casamento em casamento, faz-se a viúva. De tapa em tapa, o amor se refaz. De sufoco em sufoco, o alívio chega. De rotina em rotina, nasce um tempo louco. De palavra em palavra, ele a beija. De adeus em adeus, há o recomeço de tudo. De fantasia em fantasia, cresce um mundo paralelo. De espelho em espelho, o reflexo fica mais belo. De espada em espada, procura-se um escudo.

De cão em cão, acha-se um gato. De queijo em queijo, faz-se o rato. De vento em vento, trocam-se as estações. De sonho em sonho, encomenda-se um pesadelo. De rua em rua, um atropelo. De novelo em novelo, a velha tece uma cidade. De canções em canções, inverte-se a realidade. De reza em reza, um apelo. De distância em distância, um entrevero de saudade. De centavo em centavo, dá-se uma fortuna. De paixão em paixão, forja-se o sentimento escravo.


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04/02/2013 - Dedicatória

O ator dedica a cena mais emocionante do espetáculo a sua amada. O jogador dedica uma aposta de alto risco a sua amada. O jardineiro dedica um jardim de primavera a sua amada. O folião dedica uma fantasia de amor a sua amada. O violeiro dedica um ponteio enluarado a sua amada. O artilheiro dedica um gol de placa a sua amada. O arquiteto dedica uma fachada romântica a sua amada.

O marinheiro dedica seu vai e vem no mar a sua amada. O feiticeiro dedica uma mandinga a sua amada. O escritor dedica as linhas da sua mão de papel a sua amada. O bêbado dedica uma dose a sua amada. O criminoso dedica um assalto ou um assassinato a sua amada. O político dedica um escândalo a sua amada. O cozinheiro dedica um prato bem apimentado a sua amada. ...
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20/01/2013 - Dia de São Sebastião

São Sebastião do meu Rio de Janeiro, eu estou aqui, bem aqui, pronto para conhecer Oxóssi guerreiro. Sou filho de Oxóssi, o grande caçador. Meu coração solitário depois da solidão da floresta encontrou um amor. Eu me cubro de verde, do verde de Oxóssi que colore o mar. Eu mato a minha sede nas rezas do meu padroeiro. Sou de Oxóssi e de Oxóssi é o meu cancioneiro.

Que a paixão por Iansã sopre o vento das minhas velas, a que queima iluminando o peito aberto de São Sebastião e a que vence as ondas velejando rumo às matas de Luanda. Se São Sebastião é carioca, o meu Rio de Janeiro invoca Oxóssi de Aruanda. Eu quero a fartura e a riqueza que Oxóssi traz, que Oxóssi dá. Para lá ou para cá, levo e me levo na flecha do meu orixá. ...
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17/01/2013 - Detrás do muro

Detrás do muro há um mundo desconhecido. Sereias e feras convivem entre belezas e garras detrás do muro. Detrás do muro existe tudo o que lembre o inferno e também o paraíso. O permitido e o proibido se oferecem de diferentes modos detrás do muro. Detrás do muro há uma enorme caixa contendo seus perdidos. Fama, poder e destruição lhe esperam detrás do muro. Detrás do muro reina um tempo novo, capaz de lhe envolver como nunca dantes foi envolvido por nada, por ninguém.

Bruxas e fadas, heróis e vilões, luzes e sombras lhe aguardam detrás do muro. Detrás do muro há plantação de sorrisos e desertos de dor. Deuses rígidos e deusas carentes murmuram detrás do muro. Detrás do muro há desejos de todos os tipos se desejando de todos os jeitos. Há esperanças grávidas e sonhos estéreis detrás do muro. Detrás do muro existem estrelas que não brilham, mas que pulsam e rodopiam como bailarinas. O destino é controlado pelas meninices das meninas, em especial, detrás do muro....
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15/01/2013 - Dormindo

Dormindo, a mulher amada se aninha em braços não menos amados. Dormindo, a mulher amada se veste de cobertas ao mesmo tempo em que se despe como uma lua adormecida. Dormindo, a mulher amada fala baixinho uma série de coisas que só o amor é capaz de entender. Dormindo, a mulher amada fecha os olhos para abri-los em outro universo. Dormindo, a mulher amada exala um perfume poético que inebria o quarto em todas as suas frestas.

Dormindo, a mulher amada se alonga em profundidade. Dormindo, a mulher amada é um retrato fora do porta-retratos. Dormindo, a mulher amada é feita de fogo, de brisa, de algodão-doce. Dormindo, a mulher amada caminha, flutua, volita por outras e novas dimensões. Dormindo, a mulher amada se reencontra com suas faces e facetas. Dormindo, a mulher amada se faz repleta de significados. ...
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20/12/2012 - Divania e Sofia

Com o mesmo nome das princesas de Walt Disney e da Grécia, da capital da Bulgária e de uma região de Madagascar, a pequena Sofia reina nos braços de Divania. Sofia espreguiça, estica, encolhe, esgarça, revira seu corpo pequenino com toda graça no colo da mãe. Recém-nascida, recém-sonhada, recém-descoberta, porém despertadora de um amor milenar. Sofia dos olhos azulados que tentam vencer a claridade de um céu não menos azul. Sofia, miniatura da branca de neve, tão clara, tão doce, tão mágica, tão feliz para sempre como nos finais dos contos de fada. ...
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12/11/2012 - De Zé Pilintra eu vou, com ele estou...

Estou vestido com as roupas, com as armas e com os símbolos de Zé Pilintra da cabeça aos pés, por dentro e por fora, do começo ao fim. Levo a figura do mais malandro dos Exus, no bom sentido, à frente do peito como um escudo. Que toda inveja, que toda maldade, que toda maldição lançadas contra mim sejam quebradas e devolvidas para seus donos, de direito e de fato. Com Zé Pilintra ao meu lado, eu não corro, eu enfrento, eu aguento, eu mato.

Levo minhas guias vermelhas e pretas de Exu volteadas no pescoço. Vou de chapéu panamá e de bengala pelas encruzas cantando: Zé Pilintra na minha vida é Mojubá! Bem vindo à roda da minha vida, Exu. Bote meu destino pra girar meu pai, Laroyê. Salve a malandragem que verga, mas não quebra. Com Zé Pilintra não tem caminho fechado, não tem tempo ruim. Seja para curas, defesas ou conselhos de amor, Zé Pilintra é meu doutor. ...
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09/11/2012 - Diário de bordo

Expulse os fantasmas do seu sótão. Tire as pedras do seu sapato. Encare suas dívidas e pendências. Ilumine seu porão. Cicatrize suas feridas. Tranque as portas do passado. Não chore por quem não merece. Estanque essa sangria desatada. Não pense duas vezes. Tenha cuidado e atitude ao mesmo tempo. Engula o orgulho, por mais ferido que ele esteja. Tente uma, duas, três mil vezes até conquistar o que quer. Quando não sentir mais os pés no chão tenha certeza de que deve estar perto uma mulher.
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