Daniel Campos

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07/11/2015 - A parte pode ser o todo

Se o rio encher, transborda. Se o olho crescer, vira olho-gordo. Se a banana viçar demais, empedra. Se o ciúme passar dos limites, sufoca. Se a música se alongar, cansa. Se o doce passar do ponto, açucara. Se o medo ganhar asas, vira pânico. Se o choro for além, alaga a alma. Se colocar muito limão, azeda. Se a cruz dobrar, não se pode carregar. Se abusar do ouro, passa-se de chique à brega. Se o sono for mais que o bastante, a vida passa. Se fritar um minuto a mais, queima. Se mais pensar do que escrever, perde o poema. Se a poda for severa, mata. Tudo nesta vida tem a sua conta, a sua medida, a sua receita. O segredo está em sabermos a hora exata de parar isso ou aquilo para que fiquemos com o melhor de cada coisa, de cada pessoa. Nem sempre mais é o melhor. Precisamos saber dosar para que a nossa insaciedade não ponha a perder o perfeito está. Se o sabiá tivesse três asas ou dois bicos não iria voar ou cantar melhor ou mais bonito do que já canta. Encanta-se com o fato de que a parte pode ser o todo, eis a arte.


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10/04/2008 - A poesia corre em linfas

Ser casado com esteticista é, como se diz por ai, tudo de bom. Recentemente, minha bem-amada além de advogar e assessorar um parlamentar decidiu abrir uma clínica de estética. E melhor, resolveu fazer cursos e mais cursos para se tornar esteticista. Mesmo sem ter cabelos brancos e olhos vermelhos, como os tradicionais ratinhos de laboratório, eu fui pego para cobaia.

Como grande incentivador de seu sonho adolescente, eu não tive como fugir dos experimentos. Lá fui eu - uma criatura que vive em estado absoluto de tensão durante boa parte das 24 horas - tentar entrar em alfa ou beta ou ômega ou em algum outro estágio de meditação por meio de suas mãos. Eis que com todo amor que há, mergulhei nos braços do desconhecido entre o verde e o vermelho da Quant`è Belle. Ah! Deixa-me explicar. Minha esposa tem um pé na terra da torre Eiffel, por isso o batismo da clínica foi na língua de Jean-Paul Sartre. Nacionalidades à parte, eu descobri que a poesia em nosso corpo, assim como nas árvores, corre em linfas....
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18/12/2008 - A política do dito pelo não dito

Palavra dada deve ser cumprida a qualquer custo. Eis um legado que forjei junto ao meu avô em anos de convivência. Cumprir o que foi dito é mais do que uma obrigação, é um motivo de honra. Se eu digo que vou estar em algum lugar tal horário, pode ter certeza de que estarei lá minutos antes, vivo ou morto. Se eu digo que vou fazer algo, fá-lo-ei nem que isso me prejudique por inteiro. Assinaturas, fiadores, gravações não têm o mesmo valor de uma palavra empenhada. No entanto, nesse caos chamado sociedade moderna, o que impera mesmo é a política do dito pelo não dito....
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27/01/2017 - A porta que importa

Volta e meia alguém me pergunta: devo lutar por quem amo? A minha resposta é sempre a seguinte: sim, mas lute até o necessário. Ah?! Quanto é esse necessário? Essa medida está na consciência de cada um. Eu mesmo já passei do ponto nessas lutas por amores não correspondidos e só me prejudiquei. Por muitas vezes, ignorei minha intuição, insisti além da conta, perdi muito e por muito pouco não morri. Se você cozinha demais o brigadeiro vai queimar ou açucarar. Portanto, tudo tem o seu ponto, isto é, a hora certa de parar....
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27/08/2014 - A primeira de muitas quartas sem Dona Ofélia

Quarta-feira. Justamente no dia em que a senhora se sentava sempre no terceiro banco da direita da igreja com sua garrafinha de água e seu leque para acompanhar a Novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Hoje, os sinos da Matriz de São José estão se dobrando mais tristes. Dificilmente a gente se encontrava às quartas-feiras, justamente porque era o dia dedicado pela senhora à prática de um dos compromissos mais importantes que tinha com sua fé. Gostava de chegar cedo à igreja para participar da reza dos mistérios do terço. Perdi a conta de quantas vezes vi aquele terço de caroços de azeitona enrolados na sua mão. Quando criança, a senhora me benzia passando o terço três vezes pelo meu corpo. Desajeitado como sou, o terço volta e meia enroscava em meus pés. Fui crescendo, crescendo, crescendo até que fcou impossível eu passar dentro do seu terço. Mas a senhora continuou me benzendo pessoalmente ou à distância até que eu mesmo desse conta de lidar com minhas energias. A católica que acreditava em vida após a morte e reencarnação ficou orgulhosa deste neto aqui ter encontrado seu caminho espiritual e ter começado a trabalhar espiritualmente para o bem dos outros como ela sempre o fez. Desde seu AVC no finalzinho da última semana tenho procurado retribuir toda a dedicação que sempre teve para comigo, manipulando energias para que pudesse continuar sua jornada em busca da evolução do espírito. Dediquei e dedico muitas preces e mantras em favor da iluminação de seus caminhos. Não é fácil se desapegar da matéria, como conversei mentalmente com a senhora nesta última madrugada, mas é necessário ter a consciência de que a missão foi cumprida dando continuidade a nossa caminhada em outros planos. Por mais difícil é preciso praticar o desapego seja com nosso corpo físico seja com pessoas que amamos para podermos seguir o que nos é confiado. Não foi por acaso que nossas últimas conversas foram marcadas pelo assunto “morte”. E agradeço muito de a senhora, minha vó, ter confiado a mim parte da sua preparação para passar por esse desencarne. Foram longas e ricas conversas. E foi uma honra poder aconselhar quem passou a vida dando conselhos. Para além das cores e sabores que vivi com a senhora, guardo comigo esse mundo espiritual que dividimos de forma muito bonita nos últimos tempos. A felicidade de me ver encontrado e fortalecido espiritualmente me fez muito bem. Afinal, sempre admirei muito a sensibilidade que a senhora sempre demonstrou em diversos campos da vida, principalmente em relação à arte. Seja a arte de cozinhar, de bordar, de plantar, de viver a literatura, em especial a minha poesia, e de encarar e praticar a fé. Estou de luto sim, mas hoje não visto preto. Visto branco. Afinal, para além do choro da nossa separação neste plano físico, celebro a beleza de uma passagem sem sofrimento como a senhora sempre desejou. Nada de ficar numa cama, de dar trabalho a ninguém, de perder sua independência. A senhora, dentro de sua simplicidade, sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Está certo que a vida nunca lhe deu muitas oportunidades de a senhora realizar seus sonhos, mas seu modo de pensar e agir foram coerentes com sua natureza sonhadora. Nunca vou me esquecer das suas mãos envolvidas por aquele terço que hoje provavelmente estará mais uma vez junto delas, só que já sem vida, em sua despedida. E por falar em mãos, de mãos espalmadas ao tempo, envio a energia deste que por muitas vezes foi mais que neto, foi filho, em agradecimento e auxílio à jornada de seu espírito. Nem nesta nem em outras quartas vamos mais nos encontrar fisicamente, mas tanto eu quanto a senhora sabemos que há outras formas de continuarmos juntos. E como a senhora já se despedia de mim ao telefone: Salve Deus!


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25/02/2015 - A princesa dos corvos

No seio da civilização, nos campos de Roma, uma garotinha flerta com corvos, alimentando-os com amendoim. Ao contrário de flores, o jardim de sua casa é salpicado por asas negras. A pequena corre por entre as aves, que não se assustam com suas peripécias. Ela e os corvos dançando aos olhos dos pais admirados com aquela troca de afeto. Para retribuir o amor e os amendoins, os pássaros começaram a presentear a menina com presentes, em sua maioria presentes reluzentes. Tudo o que brilhasse aos olhos dos corvos traziam-na. E assim, a pequena romana ganhou botões, parafusos, brincos, pedrinhas, clips de papel, lampadinhas, pingentes... As aves negras traziam o colorido em seus bicos à menina que os mimava como se fossem suas bonecas encantadas. Mesmo sem querer recompensa alguma por aquele amor passou a guardar aqueles mimos sentindo-se princesa de um reino de corvos. O seu castelo era a própria natureza, com árvores e sentimentos vivos capazes de deixar até a mais cética criatura boquiaberta com tamanha magia. Como flores negras, aqueles pássaros enfeitavam o jardim e bailavam ao vento diante da menina que sonhava voar com eles. Quem sabe um dia eles a levariam para além das nuvens. Quem sabe um dia eles a trariam uma estrela. Quem sabe um dia algum deles se casaria com ela virando homem após ter seu feitiço quebrado. Quem sabe...


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06/12/2008 - À procura de uma ama-seca

De camisa listrada, sem levar canivete no cinto ou pandeiro na mão, saí por aí. Também não bebi chá com torrada, tampouco tomei parati. Mas escutei muita gente dizendo: "sossega leão, sossega leão". Pudera, como ficar calmo diante de um mundo que virou de ponta-cabeça? Você pode ainda não ter reparado, mas tem acontecido de tudo ultimamente. É como se o grão-vizir tivesse decretado carnaval por tempo indeterminado e ninguém estivesse nem aí para nada nem ninguém. Não é a toa que um cabeludo gritou: "todos estão surdos". ...
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06/02/2017 - A receita do amor

Amor não tem receita. Simplesmente, acontece. Quando você menos espera, pronto, está apaixonado ou tem alguém te amando.

Daí então, surge o ponto chave: o que você vai fazer com isso?

O amor é uma escolha. Você não escolhe por quem ou quando vai se apaixonar, mas escolhe se vai avançar ou não em uma possibilidade de amor.

Sim, porque até você escolher se vai alimentar ou combater um determinado amor ele é apenas uma possibilidade, que pode ou não ser concretizada....
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10/07/2008 - A revolta dos ratos

Não imaginava que as prisões de ratos banqueiros, ratos políticos, ratos mega-investidores, ratos adpetos das Ilhas Cayman iriam despertar a fúria de roedores pelo mundo afora. Até na terra de Hollywood, esses mamíferos estão revoltados. Eis que, caro leitor, uma multidão de ratos, praticamente uma facção criminosa e com alto poder de destruição, rumou determinada a invadir o trailer de uma mulher, de 43 anos, no norte da Califórnia. Talvez quisessem comida, espantar o frio, tomar um drinque, ter uma noite de amor em uma cama macia ou, simplesmente, vingar a operação que colocou atrás das grades alguns de seus amigos brasileiros. ...
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22/11/2012 - A saudade corta

Por mais que meu corpo fique quarando sob sol e chuva, a saudade continua impregnada. Eu me lembro, com nitidez, da senhora estendendo as roupas vindas da roça no cimentado do quintal formando um jardim de tecidos e cortes. Uma arte tão abstrata em sentidos quão concreta em perseverança.

Manchas de terra, de óleo, de comida sendo tiradas por meio de uma receita tão antiga quão nossa identidade. De quando em quando, as mãos, também manchadas, jogavam punhados de água com sabão sobre aquelas peças. Um, dois, três dias quarando, as roupas soltavam toda a sujeira, por mais pesada que fosse....
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