Daniel Campos

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Encontrados 58 textos de fevereiro de 2016. Exibindo página 1 de 6.

29/02/2016 - O povo

O povo fala que isso e aquilo, cantando igual grilo. O povo inventa, aumenta, atenta. O povo conta com o ovo antes da galinha. O povo bisbilhota com alma de vizinha. O povo futrica, leva e traz, se beija e não se bica. O povo dá o braço, mas não dá a mão. O povo quer sim, outro sim, e mais um sim, mas só fala não. O povo alfineta, não se aquieta, fala mais do que profeta. O povo prevê e não crê. O povo atormenta, provoca e não aguenta. O povo dá língua, dá íngua, dá mingua. O povo se busca e não se encontra. O povo se afasta e não se dá conta. O povo quando apedreja tem braços de polvo. O povo golpeia, enteia, machuca e ainda quer açúcar. O povo inveja, esperneia, troveja e dá às costas. O povo devora o sonho do outro, não dá nó solto, e nem chora ao servir o coração do outro em postas. O povo seduz, induz, conduz e depois corre. O povo se joga e não se socorre. O povo finge, mente, promete e não age diferente. O povo nasce, vive e morre cuidando da vida alheia. O povo caminha de duas pernas, mas na verdade serpenteia.


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29/02/2016 - Lua dos nossos lençóis

Lua que se expande sobre nós
Manchando os nossos lençóis
Lua mensageira, lua violeira
Lua que nos fisga com anzóis
De encantaria, versa lua poesia
Lua dos terreiros e dos quintais
Lua dos coretos e das marés
Lua dos solteiros e dos casais
Lua de feitiço, da reza e da fé
Lua das matas, das cachoeiras
Lua que corre pelos rios, riachos
Ladeiras, ribeirões, igarapés
Lua de Iara, Iemanjá, Olorum
Lua dos pássaros e dos passos ...
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28/02/2016 - Leva meus bois

Oô Oô carreiro, leva o que restou dos meus bois junto das suas juntas porque de agora em diante vou esperar pela vida, pois a morte eu já bem conheço vestida ou despida. Oô Oô vou sentir saudade do meu gado andante, do meu carro ligeiro que geme e chora, do sereno campeiro, mas minha lida daqui até outrora será pela minha senhora, a vida. Eu já duelei no norte, provei que fui mais forte, já morri e renasci inúmeras vezes, mas cansei, entrego os pontos, viverei de contar meus contos a quem quiser escutar. Toma toda a minha rês. Leva meus bois, ô leva carreiro, e daqui para frente pode me chamar de violeiro. Oô carreiro, das dez linhas do destino que já atravessei, do menino ao homem, fiz dez cordas de viola que selei junto ao peito em sinal de respeito aos bois que eu te dei. E agora toda vez que eu canto cada corda vibra, a boiada solta aquela mugida, o carro estica a gemida e lá vem a vida.


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28/02/2016 - Vinil, tizil, rio...

Um momento,
Sei que o tempo
Como um vinil
Na velha vitrola
Vai girando anil
Vai pulando
Feito um tizil
Vai correndo
Em feitio de rio
E passa um segundo
Uma hora, um dia
Uma vida, um mundo
E o tempo está
Onde não há
Mais tempo


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27/02/2016 - Esquinas e porta-retratos

Porta-retratos são como espelhos do passado. É como o ontem me olhando, dizendo o quanto fui feliz. É um tempo que existiu, que me sorriu e depois seguiu. O que eu quis foi o passado no futuro, fazendo do presente um lugar pouco seguro. E eu me olho e me perco nessas fotografias do ausente. Podia ter sido, podia ser tão diferente. Caminhos cruzados deviam seguir lado a lado. Por que as ruas cruzam e depois correm em separado. Cada esquina é um porta-retratos, um cruzamento concreto e abstrato que dura para sempre num tempo que existe ali, ali somente. Logo ali à frente a esquina terminou, o homem, olhando para a lua, se perde e segue por uma rua e a menina que o beijou, flutua por outra. E a história tão amarrada naquela esquina se vai tão solta. Do encontro do tempo e do espaço nas esquinas, nos porta-retratos nasce o desencontro de homens e meninas que ainda andam tontos à mercê do que tudo isso os destina.


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27/02/2016 - Não sei mais nada

Não sei por onde anda
Nem sei mais o que quer
Não sei o que chama
Se ainda me quer e ama

Não sei o que (des)manda
O seu coração agora
Não sei se ri ou chora
Se sonha ser minha mulher

Não sei mais seu paradeiro
Se sou príncipe ou palhaço
Se o que sou segue inteiro
Ou em milhões de pedaços

Não sei se me esquece
Um pouco mais a cada hora
Não sei se já me ignora
Ou me coloca na sua prece...
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26/02/2016 - O trem do hoje

Eu caí nesse mundo como um anjo apaixonado e cheguei até aqui com asas quebradas, chamuscadas, alvejadas pelo amor que ainda tropeça para ser amor. Não, não me peça clemência. Paciência com tudo o que nasce e cresce. E não se desculpe, pois não há inocência. Há culpa por atos e omissões, reflita como tem amado. Não há modelos, apenas que tudo seja verdade e intensidade. Ama e aclama esse amor por todos os segundos de sua estrada. Ama, pois é só o amor verdadeiro, inteiro mesmo sendo em pedaços, que leva dessa experiência. A penitência dos que negam, maltratam ou fazem do amor uma brincadeira é lágrima após lágrima descendo pela ribanceira. Minhas flechas de amor à primeira vista muitas vezes disparadas por este anjo de espinhos caem pelos caminhos antes de alcançar os corações a que se destinam. Muitos acabam criando barreiras em torno de si para viver o sentimento por completo, em todas suas fases e ciências. É como se fosse criado um campo de força que não permitisse a chegada do amor puro, do amor sincero, do amor jurado antes mesmo dessa vida. Quantas flechas perdidas. Quantas oportunidades partidas. Quantas almas se desencontrando, aprontando consigo mesmas e se perdendo na incompreensão. Quantas dores se aproveitando dos corações vazios. Eu, um anjo torto, um anjo deveras apaixonado, judiado pela forma como tratam os amores do dia a dia, sem o mínimo de respeito, fé e poesia, caminho com o coração maltrapilho, com um pé no trilho do futuro e outro no do passado, tentando fazer do trem do hoje uma história de amor não previamente condenada à solidão.


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26/02/2016 - Quem sabe amanhã

Um dia, quem sabe, amanhã, tudo muda
E o nosso mundo volta a ser um só
Lá no fundo o meu coração pede ajuda
Você não percebe, mas há um nó
Amarrando o que eu quero do que não é
A falta de coragem, um tanto de bobagem
Coisas miúdas entre homem e mulher
Acabaram impossibilitando que o amor
Fosse o vencedor dessa história real
Desse romance visceral. Frutos, benditos
Frutos o que ainda amadurecerão
De tudo isso. A separação não é o fim ...
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25/02/2016 - A árvore e o vento

Impossível te esquecer, te apagar, não lembrar, não viver você. Está em meus pensamentos, pelos meus neurônios, indo pelos meus axônios, habitando as minhas partes e impregnando o meu todo. Seja como garotinha ou mulher, protagonista ou coadjuvante, marcante, você está lá no meio, bem no meio do meio, da minha cabeça. Está deslumbrante, estonteante, vibrante. Você me leva à frente e quando eu vou carrego você como o noivo carrega a sua noiva, como menino leva o coração da sua menina, como homem guarda as lembranças da sua mulher. Tudo o que eu faço tem uma digital sua. Tenho suas marcas em meu corpo, em minha alma, em minhas vidas. No que eu como, sonho, caminho, canto, falo, beijo, abraço, transo, voo, planto, leio, escrevo, toco, invoco, provoco está você. Em cada mordida, em cada arrepio, em cada música, em cada fantasia, em cada passo lá está você. Pode não acreditar, mas vive em mim de um jeito único e sagrado, sacramentado a cada fração de segundo. O meu mundo roda em torno do seu eixo, e se anda por tudo o que sou é porque eu deixo. Eu amo e não me esqueço. O perfume que eu uso, a roupa que eu visto, o retrato que eu vejo no espelho me trazem você. No meu querer, no meu ser, no meu fazer só dá você. Mesmo ausente fisicamente, você é plena e presente na minha história contínua. Meu romance, meu conto-de-fada, meu era uma vez que continua sendo mais e mais e mais uma vez. Tudo o que vivemos e o que não vivemos se casam em tantas variações e possibilidades. E se... e se.... e se... Tudo o que não aconteceu, acontece de um jeito ou de outro cá dentro. Há uma explosão de sentimento. E seu olhar, no fim do túnel, me traz o alento. Se eu ainda voo é porque conto com suas asas. Se eu ainda falo em casamento é porque tenho você unida em mim. Se eu ainda componho é porque proponho doses da sua poesia ao meu dia. Mulher. Menina. Anja. Colombina. Garota. Noiva. Musa. Amada. Estrada. Estrela. Princesa. Delicadeza. Tantas faces, qualidades e incertezas em uma mesma beleza. Face a face, você me olha e me tem. Corpo a corpo, o que somos um para o outro não se contém. E nessa mistura de saudades e expectativas, desejos e realidades, tenho você a todo o tempo, em qualquer lugar, no meu universo particular. Sou árvore verde e você o vento azul que chega e mata a minha sede, balança minhas folhas, entorta os meus galhos, dança pela minha copa, escorre pelo meu tronco, entra pelo meu oco, assovia e canta pelo meu interior. Chega ao meu coração e bebe da minha seiva fazendo-me florir e frutificar só para você, ventania, levar minhas flores e sabores que nunca deixei de te ofertar. Impossível te esquecer quando minhas raízes te buscam mundo adentro, quando minhas folhas escritas partem de mim tentando te encontrar. Impossível te esquecer quando estamos unidos pelos mistérios do verbo amar. E nessa verborragia toda que nasça e renasça a magia de sermos juntos numa espécie de pomar do paraíso, num quê de se apaixonar nunca perdido. Com ou sem juízo, o amor entre a árvore, enraizada na ilusão, e do vento, que varre a solidão, nunca estará esquecido.


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25/02/2016 - Sempre aqui

O que dou
Volta
O que sou
Solta
De mim
Cai, voa
E vai
Assim
Garoa
No olhar
Que chora
No amar
Que vai, vai
Mas não vai
Embora


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