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Encontrados 30 textos de setembro de 2010. Exibindo página 2 de 3.
20/09/2010 -
Espinheira
Estresse. Agonia. O corpo entontece, pula, treme sob efeito da disritmia. É tudo tão desesperador. É muito espinho pra pouca flor. Que o deus do relicário tenha pena dessa gente que vive entre a vida e a morte, entre a pele e o osso, entre a ferida e o corte, entre o velho e o moço. Que o deus que anda na boca de tantos se una aos santos e ponha fim a esse alvoroço. Ninguém agüenta mais esse ritmo avassalador. É tanta informação e desinformação nos levando para os caminhos mais tortuosos, para os pensamentos mais pecaminosos, para o avesso dos amorosos... ...
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19/09/2010 -
Dito e feito
Meu avô, fazendo uso da sabedoria dos antigos, sempre dizia que em ano de eleição deus não manda chuva enquanto persiste essa pouca vergonha. Ano de eleição é ano de muita seca, de vacas magras, de destruição. Na televisão, no rádio, nas ruas é uma gente falsa com abraços falsos fazendo promessas falsas. É uma gente que se esquece de Deus. Pior, usa seu santo nome para pedir voto. O criador, desapontado, castiga a humanidade com estiagens e queimadas.
Para o lavrador não poderia existir ano pior do que ano de eleição, dizia meu avô. E pior que ele tinha razão. A semente não vinga, os brotos amarelam, os pés disso e daquilo vão minguando até secar. Enfim, a plantação vai morrendo no campo. Já na cidade, o preço do tomate dispara, as verduras deixam o nosso prato e as frutas perdem o gosto. Por culpa dessa politicagem, as árvores não agüentam segurar a carga, o pasto seca e as bocas se enchem de fome. ...
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18/09/2010 -
Suspiro e goiabada
Atire a primeira pedra quem nunca ficou com água na boca diante de um bolo de aniversário? Bolos recheados com chocolates negros e brancos, amargos e ao leite, com nozes e ameixas, com frutas da estação como morangos, kiwis e pêssegos. Bolos de muitos formatos, tamanhos e coberturas. Camadas e mais camadas de pão-de-ló se exibindo nas vitrines das padarias, das confeitarias, das confrarias das doceiras. Isso sem falar nas caldas molhando o bolo, escorrendo no prato, atiçando os sentidos.
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Comentários (1)
17/09/2010 -
Calado
Hoje não tem texto. De repente, roubaram-me de uma só vez todas as palavras, das mais genéricas as mais íntimas. É como se não existisse linha ou verso algum dentro de mim. Estou vazio de frases, de rimas, de concordâncias. Estou ausente de expressões, aliás, estou inexpressivo. E por mais que eu chame, implore, humilhe-me, a inspiração não dá o ar da graça. Não. Realmente não tem graça. Tento juntar pontos, vírgulas, aspas, mas há sempre uma interrogação em meu caminho.
Será que estou oco? Oco de vida. Oco de idéias e ideais. Oco de fantasia, de prosas e poesias. Oco de imaginação. Oco de realidade e ficção. Oco de sentidos. Oco de sons e vozes. Oco de estrelas e sementes. Oco de histórias e lendas. Oco de dramas, tragédias e romances. Oco de dores e saudades. Oco de caminhos. Oco de expectativas e lembranças. Oco de sonhos e pesadelos. Oco de contos e crônicas. Oco de chamas, conversas e corações....
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16/09/2010 -
(In)felicidade
Quer algo mais complexo do que a felicidade? Uma busca permanente, com doses caprichadas de sacrifício e adversidades. Pode parecer paradoxal, mas para ser feliz é preciso primeiramente ser triste. Viver a tristeza em todas as suas faces e fases até chegar a um período de contentamento. Porque, por natureza, a felicidade é efêmera, como um sopro. O sopro divino. Por essas e outras, ser feliz é algo que condiz com o terreno imaginativo e abstrato do eu que existe em cada um de nós. Tentar ser feliz é se dispor a uma queda livre infinita por poços sem fundo e submundos da (in)consciência. ...
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15/09/2010 -
Querer-me-ia
Se você soubesse o quanto eu lhe quero não me olharia com esses olhos de paralelepípedos. Se você soubesse o quanto eu lhe quero, querer-me-ia também. Se você soubesse o quanto eu lhe quero tomaria em seus braços os meus medos e me diria que nunca é cedo para morrer de amor. Se você soubesse o quanto eu lhe quero rasgaria sua agenda de compromissos e telefones e endereços e partiria agora mesmo para a nossa casinha lá no alto da serra.
Se você soubesse o quanto eu lhe quero não me condenaria a cada rompante do seu coração. Se você soubesse o quanto eu lhe quero colocaria seus tons primaveris mesmo quando inverno na minha boca. Se você soubesse o quanto eu lhe quero, querer-me-ia para sempre ao seu lado. Se você soubesse o quanto eu lhe quero nunca mais brigaria, desconfiaria, ignoraria o amor que guardo em mim. Se você soubesse o quanto eu lhe quero os dias seriam de um querer-perfeito....
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14/09/2010 -
Vamos que vamos
Vamos fugir. Vamos sair deste espaço, deste tempo, desta dimensão. Vamos correr mundo, mergulhar fundo na imaginação. Vamos, vamos, vamos. Vamos com toda pressa. Vamos que a hora é essa: não dá mais pra esperar, pra ficar, pra ignorar a estrada que se abre a nossa frente. Vamos, vamos, vamos. Vamos pegar a cauda do primeiro cometa, e vamos nos deixar levar pela água corrente e vamos tocar a sineta do mosteiro que se esconde atrás da montanha ausente. Vamos tocar a vida que a despedida já vem correndo feito uma bola de neve, feito uma avalanche, feito um sopro breve que nos move. I love. ...
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13/09/2010 -
Ai que coceira
Coça que coça que coça que coça. Será pó de mico? Mas cadê os macacos? O vento soprou. O fogo queimou. A mata acabou. Coça que coça que coça. Olha as unhas da moça coçando as costas do moço. Será cobreiro? Mas cadê as cobras? Elas não foram expulsas do paraíso? A coceira serpenteia e vai fazendo o corpo chacoalhar como guizo de cascavel. Coça que coça que coça que coça. Será coceira de nervoso, de molecagem ou de idoso? Prurido ou comichão, que coceira cruel. Coça que coça. Será terçol? E onde eu arranjo três luas? ...
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12/09/2010 -
Casarão
Perto do portão, um ramalhete de rosas plantado num punhado de terra. Orelhas e tramelas adornando as janelas que dão pra rua. Roupas quarando no cimentado do quintal. Na velha pia da cozinha, ovos de galinha, tachos de doce e uma colher de pau. Uma réstia de alho pendurada pra espantar possíveis vampiros. A colcha de retalhos coloridos deitada sobre a cama. Num canto do quarto que já não dorme ninguém, a máquina de costura vai pedalando solitária entre linhas, agulhas e pontos. O piso range e o telhado arqueia a cada lua que ponteia. ...
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11/09/2010 -
Prosa perguntadeira
De quantas decisões é feito um homem? De quantas pedras é feita uma caminhada? Com quantos romances se faz um grande amor? Com quantos cheiros se faz uma mulher? De quantos pontos é feito um caminho de crochê? De quantas montarias é feita um peão? Com quantos sóis se faz um fim de tarde? De quantas abelhas é feito o mel que há nos lábios de uma mulher?
De quantas gotas é feito o orvalho? Com quantas ondas se faz uma ressaca? De quantos vagalumes é feita a ursa maior? De quantas profecias é feito um futuro? De quantos grãos de areia é feito o tempo? De quantos brindes é feito um bom ano? De quantos pés é feito um milharal? Com quantos golpes se faz um nocaute? De quantos ventos é feito um catavento?...
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