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Encontrados 30 textos de setembro de 2010. Exibindo página 3 de 3.
10/09/2010 -
Desnorteamento
Salvem as fadas, os duendes, os bruxos e os vampiros e queimem os hipócritas. O que é bom e o que é mau? Quem é o herói e quem é o monstro? Tudo está muito confuso, muito junto e misturado. Não dá mais para distinguir a luz da escuridão. Há sempre um disfarce, uma máscara, uma palavra tão doce quão fingida flutuando no ar. E o que se há de fazer? Viver sem saber pra quem rezar e em quem acreditar...
E se Lúcifer não for o vilão da odisséia? E se ele tiver sido traído pelo mesmo Deus que expulsou o primeiro casal do paraíso? E se tudo não passar de uma grande mentira? E se os demônios forem mais afáveis e fiéis que os anjos? E se as nossas preces não chegam aos céus? E se os milagres não passam de lendas? E se os santos não são tão santos assim? ...
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09/09/2010 -
O melhor é estar junto
O melhor é estar junto. Independentemente de onde e quando, o melhor é estar junto. É preciso ter perto olhos para projetar seus sonhos. É preciso que a distância de sua boca aos lábios da criatura amada não seja maior do que um impulso. É preciso estar perto física e mentalmente falando. É preciso estar perto a ponto de não haver a mínima brecha para o crescimento da solidão. O melhor é estar junto em cada caminho, em cada sentimento, em cada taça de vinho, em cada alento, em cada assunto.
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08/09/2010 -
O segredo da longevidade
Sim, a fonte da juventude existe. E eu sei como encontrar o jardim que a abriga. Para alcançá-la não é preciso enfrentar duendes, bruxas ou outros guardiões mitológicos. A única briga que terá de travar será contra sua natureza. Afinal, para chegar a tal fonte basta exercer uma atitude: não sentir saudade. Isso mesmo, o segredo da longevidade está em não remoer o passado, em não chorar os nossos mortos ou o que ficou pelo caminho. Vinho? Dietas? Ioga? Esses ensinamentos são paliativos, na verdade, acumula mais idade quem não luta a todo e qualquer momento para ter uma chance de voltar. De voltar atrás em gestos e palavras, em dias e estradas. Convença-se de uma vez por todas: vive mais e melhor quem vive adiante. ...
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07/09/2010 -
Um avô, um neto e as damas de setembro
- Alôôô!
- Oi seu Líbio, tudo bem com o senhor?
- Oi Daniel, que saudade! Falei agora mesmo com a sua avó que já ia muito tempo que a gente não se falava.
- Pois é, meu avô, a saudade fala mais forte. Que falta me faz o senhor.
- Tempos bons que não voltam.
- E como estão elas?
- Elas quem?
- Elas, as damas de setembro.
- Ah! Já sei do que está falando. Estão lindas.
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06/09/2010 -
Pescar como pesca o pescador
Ah! Se eu tivesse a coragem do pescador que pega seu barco e se deixa engolir pelo mar. Tempo bom, tempo ruim, o pescador rema, rema, rema remador, espia o peixe, puxa corda, sacode a rede. Não tem medo de o barco virar, de não voltar, de deixar alguém a lhe esperar para sempre na areia da praia. O pescador não leva bagagem, sai vestido apenas com o couro do corpo e as traias da pesca. É ele e o barco, é ele e o mar, é ele e o mundo das águas e dos ventos.
Queria saber pescar sonhos como pesca o pescador, que enfrenta a dor, a solidão e o desconhecido sem gritos. É o homem que deixa a terra, que tira o chão de seus pés e desafia os limites da fé. É homem duro, castigado e imolado a cada amanhecer, mas com o coração tão puro quanto à vida virgem do alto mar. Ele sabe que pode ser tragado e ceifado a qualquer momento por aqueles deuses que habitam o fundo do mar. Por isso, tenta ser o mais leve possível de modo que flutue entre o espelho d’água e o peito do céu.
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05/09/2010 -
Senhora dos remédios
Olha lá quem vem vindo, subindo as estradas que margeiam o rio Douro, é Nossa Senhora dos Remédios. É ela quem nos cura das doenças do corpo e da alma. Lá vem a imagem da santa trazida pela procissão do Triunfo. Só que não é procissão de velas ou de senhorinhas, mas de bois. Carros e mais carros de boi que vem rangendo, tangendo o estradão que vai se abrindo em torno daquela senhora de mantos rosa e azul. As rodas do carro vão girando como que chorando aos santos pés daquela senhora que cura o pranto de quem chora. ...
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04/09/2010 -
Olhos de brisa
Seus olhos são cursos d’água. Sentimentos e palavras correntes pelos contornos urbanos do seu eu. Olhos de rios. Olhos de lagos. Olhos oceânicos. Olhos submersos, escondidos a mil léguas submarinas. Olhos ilhados, boiando nos meus. Olhos doces, néctar das gaivotas. Olhos de sal, saudade da cidade lateral. Como é bom sentir seus olhos respingando nos meus. Quantas braçadas são necessárias para cruzar seus olhos? Como eu faço para levar meu barco ao seu porto? Será que basta fechar os olhos e esperar seus ventos me soprarem seus segredos? ...
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03/09/2010 -
Deus, salve a incompreensão
Difícil escrever assim; viver escritamente assim. Há uma voz que me censura. Há um coração que não me entende. Há uma língua que me fere ferinamente. As palavras que oferto são renegadas. A essência dos textos é blasfemada. O sentido do sentimento é deturpado. E tudo vira motivo de discussão e censura. Cortam-me as asas da imaginação. Proíbem-me a loucura. Podam-me o direito à licença poética. Falta respeito e gratidão ao amor que canto, ao pranto que rolo e às linhas e versos que acolho em meu colo....
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Comentários (1)
02/09/2010 -
Bater um tambor
Vamos bater um tambor, meu amor, que a noite é de lua cheia. Vamos bater um tambor, meu amor, incendeia. Vamos bater um tambor, chamar o preto velho e o caboclo roncador. Vamos bater um tambor, tomar banho de flor, de mato e de pipoca. Vamos bater um tambor, e fazer macumba e fazer kizumba falando de amor. Vamos bater um tambor, dançar com Iansã, caçar com Oxossi, sorrir pra Xangô. Vamos bater um tambor, meu amor, pedir ajuda para o babalaô. Vamos bater um tambor, senhora, pro senhor do tempo. Vamos bater um tambor, senhora, no terreiro de dentro. Vamos bater um tambor, rodar a saia e segurar nas palmas. Vamos bater um tambor e lavar as almas. ...
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01/09/2010 -
Ao sul do equador
Não existe milagre ao sul do equador. Abaixo da linha imaginária que divide o mundo não há muita expectativa. Há um leque de assassinos à solta e um ladrão de galinhas detrás das grades. Há milhares de focos de queimada transformando o verde em cinza. Há uma indústria produzindo promessas e mais promessas que jamais serão cumpridas. Há incontáveis escândalos públicos e privados. Há uma mulher que apanha e cala. Há uma criança que perdeu a fé no sonho. Há valas e mais valas onde se enterra o orgulho e o respeito e a esperança. ...
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