Arquivo
2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008
jan | fev | mar | abr | mai | jun | jul | ago | set | out | nov | dez |
Encontrados 31 textos de agosto de 2010. Exibindo página 3 de 4.
11/08/2010 -
Um manicômio, por favor
Procuro um manicômio, um hospício, um sanatório, enfim, um lugar onde eu possa expressar livremente as minhas loucuras. As camisas de força que nos amarram do lado de cá são bem mais agressivas do que aquelas a que estão submetidos, do lado de lá, os loucos, os doidos, os malucos. A realidade nos reprime e, nos comprime e nos oprime. Ela quer nos adequar a padrões. Ela quer nos robotizar. Ela quer nos controlar a qualquer custo.
Dia desses me falaram que eu não posso ter asas? Onde já se viu eu, pássaro dos meus sonhos, não poder voar. Toda vez que minhas asas começam a nascer e eles a arrancam. A dor de tirar parte do meu corpo não é maior do que a dor de me prenderem ao chão. Outro absurdo: dizem que o que eu vejo não é o que realmente eu vejo. Dizem que meu mundo não existe. A única coisa que é permitida enxergar é o concreto, o concreto, o concreto. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
10/08/2010 -
Carmelita dos pés descalços
Lá vai a carmelita dos pés descalços trilhando caminhos que só a fé é capaz de explicar. Lá vai ela com os pés ganhando espinhos e pedras, feridas e marcas daquele caminhar. Lá vai ela sem parar, caminhando nas contas de seu rosário. Os pés são só um detalhe. Na verdade, ela caminha de oração em oração. Acredita que os santos aliviam sua caminhada. E que Deus a espera ao final da estrada. Não tem contato com a realidade além dos muros. Ali, só canto e oração. Caminha, com os pés descalços, cobertos pelo negro do hábito que envolve seu corpo. ...
continuar a ler
Comentários (1)
09/08/2010 -
Morar em Monte Carlo
Quando acordo e olho pela varanda as ruas de Monte Carlo parecem tão estreitas a ponto de fazer meus olhos correrem para a Baia de Mônaco. E eu fico ali, ancorado em um daqueles iates boa parte da manhã. Não tenho vontade de ir ou vir, apenas de ficar mais um pouco assim distante de mim. Distante do glamour, do luxo, das celebridades que exibem roupas, jóias e corpos a cada esquina. E gosto de passar devagar por cada reta, por cada curva. Afinal, Mônaco vai muito além da Fórmula-1. É tudo e ao mesmo tempo lugar algum. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
08/08/2010 -
A estrada e os pais
O meu pai dista do meu Dia dos Pais quilômetros, tempos a fio. Há um asfalto, interminável e negro, repleto de curvas e declives, separando-nos de um abraço. Os aviões que cruzam o céu agostino, tão azul quão seco, não me levam, tampouco o trazem para perto. Há uma série de acontecimentos, momentos e pensamentos passados envolvendo eu e meu pai se misturando em mim. Coisas ditas e não ditas se alvoroçando em mim. E a voz cavalga, já nem tão firme assim, pelas espirais do telefone.
Não há presentes, almoços ou outras tradições familiares entre eu e meu pai no dia de hoje. Apenas um cumprimento e uma saudação através de uma ligação telefônica. Hoje ele não vai me ensinar nada, não vai me levar a lugar algum, não vai me oferecer algo para comer ou beber. O tempo nos separa e hoje tudo é engolido a seco. Seco como o vento agostino que me traz lembranças, agradáveis ou não. Mas se eu o conheço, ao menos um pouco, sei que agora ele está ouvindo esta música, lendo o trecho deste livro, enquanto esconde os olhos embaçados atrás das lentes dos óculos....
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
07/08/2010 -
Caro Adoniran,
Caro Adoniran,
Por causa do Trem das Onze você não pode ficar um pouco mais com a gente. E eu sinto até hoje por isso, pois muito tempo se vai desde o último Samba no Bexiga; Muito tempo se vai sem você. Você que me fez companhia na casa do Arnesto outro dia e que chorou comigo a poesia da Saudosa Maloca. Quantas as histórias vividas No Morro da Casa Verde, No Morro do Piolho, na Vila Esperança. Você se foi e se tornou uma espécie de cupido que fez do meu peito Tiro ao Álvaro. Ah! Como num Samba Italiano vivo apaixonado. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
06/08/2010 -
Cem dias sem chuva
Você sabe o que é ficar cem dias sem ouvir o barulho da chuva? É algo enlouquecedor para quem tomou tantos banhos de chuva como eu. Cem dias sem ouvir aqueles pingos se espatifando contra telhas e calhas. Cem dias sem ouvir os trovões ecoando ao fundo. Cem dias sem ouvir o vento anunciando e carregando a chuva. Cem dias sem escutar o canto dos pássaros saudando a chuvarada. Cem dias sem dormir embalado pelo cair da chuva.
Você sabe o que é ficar cem dias sem sentir o perfume da chuva? É algo assustador para quem acostumou a se impregnar da fragrância da chuva como eu. Cem dias sem sentir aquele cheiro de mato molhado correndo pelo ar. Cem dias sem se deparar com aquele cheiro de poeira subindo ao ser alvejada pelos primeiros pingos. Cem dias sem sentir a essência da chuva se misturando à pele da mulher amada. Cem dias sem ter o perfume da chuva mexendo com os sentidos da gente. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
05/08/2010 -
Cidade sitiada
Pelos cantos dessa cidade há criaturas sem juízo. Há nascimentos doloridos, vidas rasgando a carne como as pontas de um siso. Há um excesso de indecisos e de sentimentos imprecisos. Há um riso despropositado, sem razão de existir. E há muito prejuízo nisso tudo. A vontade maior é a de abandonar essa cidade, rumar para longe, remar para oceanos de tesouros distantes, para as montanhas dos monges, para o reino dos gigantes dos pés de feijão e das galinhas dos ovos de ouro.
Por essa cidade marcada pela tragédia, é preciso inventar um novo romantismo. Algo que fuja do cinismo dos falsos corações que dizem que amam e mantém o amor preso nos grilhões. Canalhas. Há uma horda de canalhas povoando as cidades de Deus e do Demônio. Há uma ilusão brotando em cada esquina. Há mentiras caindo do céu. Há um levante de ignorantes tomando os ares. Há mulheres vivendo de alface. Há pelo menos um bandido em seu encalce. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
04/08/2010 -
O castelo, o curió e o pé de marmelo
Ao lado da minha casa tem um pé de marmelo. E numa das galhas desta árvore tem um castelo. É ali que faço a minha imaginação voar de volta aos tempos medievais. Depois de passar pela ponte levadiça, eu percorro calabouços e torres, escudos e brasões, costumes e lendas. Tudo isso ao canto de um curió que insiste em pousar no meu pé de marmelo. Porém, eu confesso que a cantoria só dá mais charme ao lugar. Não me importo em dividir a vista com o pássaro. Afinal, ele é a mascote da cavalaria. Sir curió, o paraninfo da minha fantasia. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
03/08/2010 -
Anti-Deus
O homem que vai, a mulher que trai, o santo que cai. Ginga daqui, pinga dali, a cruz vira de ponta cabeça. As interpretações do evangelho e o prazer do pecador. O destemor de Deus. A sede de vingança. A loucura e a matança. A criança nascida do fogo. O uivo do lobo. O estouro da pólvora, a dor da fome, o filho sem nome. O pessimista, o egoísta, o vigarista. A paixão ganhando a lâmina, o corte e a ponta de uma faca, de uma espada. É a mula que empaca. É a mão que maltrata.
O desejo de matar e de ser morto. O caminho torto. O ponto solto. A judiação e a falta de perdão. O revés da compaixão. O arroto e o aborto. A vela da escuridão. As chibatadas e as adagas cortando e transpassando o peito alheio. A falta de freio. O braço e o reio. O fim antes do meio. Os amores bandidos, caídos, esquecidos, subnutridos, desvalidos, perdidos, desmerecidos, falidos, não socorridos, não vividos, não correspondidos... ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
02/08/2010 -
Você com você
Faça as pazes consigo mesmo. Sorria para você quando ficar frente a frente com um espelho. Convide você para sair com você. Sacie o seu desejo com todo gosto. Envie cartas, flores e caixas de bombom para o seu endereço. Elogie-se sempre que possível. Pense em você como gostaria que pensassem em você. Ame-se como ama alguém, ou vice-versa. Não escute as bobagens que dizem de você por aí. Lave a alma ao menos uma vez por semana. Não tenha medo de encarar seus sentimentos e pensamentos.
Sonhe e tente viver os seus próprios sonhos. Ofereça-se uma música. Levante um brinde a você. Tenho orgulho dos seus feitos. Valorize o seu passado, a sua caminhada. Tenha respeito pela sua missão. Pergunte sempre o que você pode fazer para lhe fazer mais feliz. Não se sobrecarregue demais. Lembre-se que é sempre possível superar os limites que impõem a você. Não se perturbe com pormenores. Porém, saiba redimensionar os detalhes que lhe fazem bem. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar