Daniel Campos

Prosas

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16/11/2014 - Coração para quarar

Tem dia que é imprescindível colocar o coração para quarar. Deixá-lo por horas no sol regando com químicos para que até as marcas mais profundas desapareçam. Limpar o coração é questão de sobrevivência. Pesado, o coração deixa de bombear os sentimentos com a força necessária para que cheguem ao destino. Com nódoas das lágrimas, o coração pulsa num compasso machucado. A sujeira acumulada impede que as flechas cupidinianas atravessem esse músculo mágico. Dessa forma, nada melhor para tocar a vida do que um coração quarado. ...
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15/11/2014 - Entre eu e você

Entre a cruz e a espada. Entre a escada e o elevador. Entre a praia e a montanha. Entre a gordura e o light. Entre o sexo e o amor. Entre o verão e o inverno. Entre a casa e o botão. Entre o espinho e a pétala. Entre o riso e o choro. Entre o sim e não. Entre a valsa e o samba. Entre a luz e a escuridão. Entre o tédio e o pecado. Entre o primeiro e o último. Entre o doce e o salgado. Entre o passado e o futuro. Entre o prazer e a vergonha. Entre o sol e a lua. Entre o verso e a prosa. Entre o beijo e o abraço. Entre o grito e o silêncio. Entre a nuvem e a chuva. Entre a beleza e o mistério. Entre a fotografia e o movimento. Entre o mar e o lago. Entre o tinto e o branco. Entre o início e o fim.


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14/11/2014 - Salve meu povo Katshimoshy

Salve meu povo das danças à lua, das noites regadas à fogueira, dos lares no seio da rua... Salve meu povo Katshimoshy. Salve meu povo que enfrentou os lobos, que sangrou nos caninos brancos das matilhas, que derramou a própria vida em busca de fortuna e poder. Salve meu povo de príncipes e rainhas. Salve meu povo que percorreu a Rússia, a Europa Central e a Andaluzia. Salve meu povo Katshimoshy que se arrependeu dos excessos mundanos e evoluiu para outros planos. Salve meu povo feito de luta e magia. Salve meu povo formado por caminhos, ventos, chuvas. Salve meu povo cigano de luz. Salve o povo cigano do Amanhecer. Salve Cigana Andaluza, salve Deus! Salve Cigano Branco do Oriente Maior, Salve Deus! Salve Mãe Calaça, Salve Deus! Salve Mãe Magdala, Salve Deus! Salve Tiãozinho e Justininha, Salve Deus! Salve a cigana Natascha, Salve Deus! Salve o povo da liberdade, do fogo, da paixão, Salve minha herança Katshimoshy.


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13/11/2014 - Nascida na ribanceira

Nasceu lá na ribanceira uma muda que virou árvore e até pé, o que será que é? Será jabuticabeira? Será figueira? Será quaresmeira? Será pau de dar em doido ou de rezar na quarta-feira? Será árvore macho ou fêmea, qual o sexo do seu cerne? Será árvore para namorados ou amantes? Será que a passarada refesteleira sabe que espécie é aquela? Será árvore donzela? Será árvore de raízes ou de matizes? Será que o chá de suas folhas cura ou enlouquece? Será que suas frutas dão de comer ou de matar? Será que suas flores perfumam ou devoram? Que será que será isso que nasceu em plena ribanceira numa tortura que chega dar zonzura só de olhar? Será mangueira? Será pereira? Será madeira de lei ou bandida? Será árvore do mato ou do asfalto ou do mar-alto? Será que a gravidade vai deixá-la inteira? Será prisioneira desse ângulo obtuso? Será pé convidado, nativo ou intruso? Será o que será que será que se deu lá pras bandas da ribanceira?


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12/11/2014 - Correr ao tempo

Eu tenho que correr porque minha vida não me espera para viver. É preciso correr a pé, nas asas de um tié ou no lombo de uma égua. O relógio não me dá trégua com seus ponteiros febris. O tempo não me abona, pelo contrário, rasga a lona do meu circo existencial. Pelos varonis soldados do tempo são me cobrados impostos de fantasias. Levam de mim sacas de alegrias crescidas e ainda não nascidas. É preciso correr antes que o senhor do tempo sele meu destino com sua pá de cal. Não há súplica ou sacrifício que o faça diminuir sua passada. Somos prisioneiros de sua estrada. O tempo está em todas as coisas, em todos os lugares. Deitamos com o tempo no sagrado de nossos lares e o tomamos nos copos mais sujos dos bares. O tempo é fera desarvorada, sem doma, sem dona. O tempo não perdoa, tampouco afaga. É preciso correr para que os lastros com o tempo não se rompam antes da hora. É preciso correr sem demora, doa a quem doer, para que não sejamos apenas rastro que logo se apaga.


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11/11/2014 - O tempo blefa, cuidado!

Se fosse possível voltar ao menos uma vez no tempo eu voltaria. Faria tudo diferente para seguir trocando passos com quem dividiu a minha estrada em antes e depois de sua passagem. Cometeria bem menos bobagem. Hoje, esta aí a paga de tudo que semeei. Fui menino pra não compreender o canto do destino. Pedras dali, pedras daqui, o tempo blefou e eu cai. Agora, entre perdedores e vencidos, o coração se rende ao choro bandido.


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10/11/2014 - Banho de chuva

Tomar chuva não é para qualquer um. É preciso ter uma elegância natural para se viver um bom banho de chuva. Primeiro, é bom que se diga, nada de sair correndo ou se cobrindo seja lá com o que for. Conta pontos negativos também para aqueles que não veem a hora da chuva passar ou de chegar ao telhado mais próximo. Os passos têm de ser espontâneos ligados diretamente ao prazer que há nisso tudo. Também não é permitida qualquer reclamação durante esse momento mágico, seja ela dita ou pensada. Danças e cantos são bem aceitos desde que em harmonia com a chuva, jamais tirando dela o protagonismo da história. É fechar os olhos e se conectar com aquele tempo. É sentir tudo de ruim sendo limpo pela chuva. É perceber sonhos, já dados como perdidos, recuperarem a cor, o viço, a seiva... É se comunicar com deus. De maneira alguma o corpo deve se curvar ou se encolher pelos efeitos da chuva por mais fria que ela seja, pelo contrário, é preciso se oferecer à chuva. Nada de se preocupar com sapatos, roupas, cabelo, maquiagem... Tudo isso é menor do que os bens trazidos pela chuva. Portanto, ao ver o horizonte chuvoso a sua frente pense duas vezes se está preparado para se dar à chuva.


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09/11/2014 - Domingos de Interlagos

Os domingos de Interlagos já foram muito mais domingos. Hoje, o que se vê é uma corrida robótica, onde carros falam mais que pilotos. No meu tempo de Interlagos, a corrida era decidida no braço. As ultrapassagens eram possíveis. O risco era permitido. E o arrojo valia a coroa de um rei. Sou do tempo de Ayrton Senna, das voltas mais rápidas tiradas do fundo da cartola mais mágica da Fórmula-1 no momento certo. Domingos em que o corpo, mesmo a distância, ganhava os respingos do banho de champanhe. Domingos de vibração, de emoção, de catarse. Domingos de fé. Fé na chuva. Fé no inacreditável, no inalcançável, no imponderável. Corridas para assistir de joelho. Domingos onde Interlagos era altar e Senna, deus.


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08/11/2014 - Minhas sorte

Minha sorte foi ter ido ao fim do mundo e encontrado saída. Minha sorte foi ter despencado do abismo e caído em pé. Minha sorte foi ter feito do apocalipse meu gênesis. Minha sorte foi ter tido sete mil vidas. Minha sorte foi ter tido pouco juízo para conseguir ir tão longe. Minha sorte foi ter compreendido que o tempo é o senhor de tudo. Minha sorte foi ter passado a ouvir, ler, sentir meus instintos. Minha sorte foi ter nascido do mato e ter jurado fidelidade às matas. Minha sorte foi nunca ter sofrido de medo de amar. Minha sorte foi ter ido além do impossível e ainda voltado de lá pronto para outra. Minha sorte foi ter estado sempre à frente dos meus próprios sonhos o que me permitiu vivê-los sem que eles precisassem ter ao menos acontecido.


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07/11/2014 - Doutor Chico

Sempre que preciso de um conselho recorro a Chico Buarque. Basta escolher uma música de forma aleatória e pronto, encaminha-se a vida à moda buarquiana. Tudo tem jeito segundo o poeta carioca, basta saber como se dá esse ajeito. E o mangueirense conhece os caminhos para se chegar lá como ninguém. Chico transforma qualquer sofrimento em lirismo de modo que a dor se suaviza e até se esquece de doer. Quem tem Chico Buarque como conselheiro não tem do que reclamar. Pelo contrário, eu só agradeço o fato de ter o poeta-sambista ao meu alcance. Entende dos níveis de saudade, de paixões mal resolvidas, de amores impossíveis, de fantasias da noite e do dia, da malandragem da vida que segue. Chico Buarque cura. Sem dúvida alguma, uma mistura de psicólogo com cardiologista que resolve os problemas do coração interior. Eu recomendo!


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