Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 69 de 320.

26/12/2014 - Ou o fim ou o fim

O verde amarelou. O caminho a sujeira fechou. O mato se alastrou. O telhado do rancho desabou. O poço secou. A aranha o fim teou. A saudade suas garras fincou. Por aquelas quartas nunca mais se semeou. O destino de todos que dependiam daquelas mãos férteis virou. O trator nunca mais roncou. O pé de valsa por ali não mais dançou. O deserto da solidão pra ficar chegou. A terra sangrou. A paineira da estrada chorou. O lago avermelhou. O que era bonito se estragou. O vento nunca mais suas modas assoviou. Os ninhos ficaram vazios da galinhada que nunca mais chocou. O lixo se espalhou. O abacateiro tombou. A magia nunca mais madurou. O pé de esperança não vingou. O trem diante daquele cenário engasgou. O galo silenciou. Até assombração por ali não ficou. A cachorrada debandou. A nova safra não vingou. O senhor daquele mundo nunca mais voltou. O descaso tudo abandonou. O encanto do dia pra noite se quebrou. O coração de terra parou e tudo se espatifou. O bom e velho sítio se acabou. ...
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25/12/2014 - Natais são sempre natais

Natais são sempre natais embora alguns não voltem nunca mais e outros estão tão à frente, distantes, longínquos, impossíveis, que ficaram para trás. Natais de uma estrela lilás difícil de ser vista. Natais com espumantes em pétalas nas mãos do florista. Natais a prazo ou a vista. Natais de cartão e no cartão. Natais de pedidos pendurados em árvores que de tanto peso envergam e quebram e secam. Natais da manjedoura e do ouro que a tudo doura. Natais, natais, natais cada um tem o seu e muitos não tem natal algum. Natais de saudade. Natais de solidão. Natais perdidos no breu da escuridão. Natais de fartura e de grão em grão. Natais de verão. Natais de arrebentação. Natais de trégua. Natais imperfeitos como que fora da régua. Natais de presentes e ausentes. Natais com tudo igual mas ainda assim diferentes. Natais de latidos, mugidos e mios. Natais fundos e rentes. Natais de renas suspensas como tremas. Natais de imaginação, de ilusão, de alucinação. Natais de lembranças soltas no ar. Natais de reencontros e de voltas capazes de deixar tonto o coração. Natais de São João e de Réveillon. Natais embrulhados em papel de pão. Natais de um sentimento de que sempre falta algo de um Natal já passado ou que ainda não chegou. Natais são sempre natais, sentimentos e mais sentimentos ancorados num imenso cais. ...
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24/12/2014 - Estrada de dentro

As estradas, mesmo estando no mesmo lugar, não são mais as mesmas. Estão mudadas embora nunca se mudaram de onde sempre as encontrei. Mas desde que aquele senhor de longos cabelos brancos e passos firmes chamado Tempo passou por ela nada mais foi igual como era antes. Mais do que ganhar, as estradas perderam cores, mistérios, sabores, perfumes... É como se houvesse um vazio permanente e crescente ao decorrer da caminhada e a passada o conduzisse para uma espécie de buraco negro, sem luz e gravidade. Embora haja um chão sobre os pés, a sensação é de estar em constante queda livre. Para muitos, trata-se de loucura, de insensatez, de embriaguez... Para mim, um atestado de saudade.


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23/12/2014 - O violeiro está pra chegar

O violeiro está para chegar trazendo cantigas capazes de botar a moça que não sai do chão para rodar junto das estrelas de um céu crepom. As modas da viola, como batom, ficarão na boca dessa moça que de tanto chorar por um amor em vão fez de sal uma poça. O violeiro está chegando, podem esperar pelo inacreditável. Aquelas dez cordas de aço hão de fazer milagre na vida da moça que com medo de sofrer leva o coração escondido no fundo falso da sua bolsa. Com a chegada do violeiro se acabarão os medos de beijos roubados, de amores proibidos, de peitos flechados. O violeiro chega para dar jeito no que não tem jeito com seu ponteado encantado. Chega, como sempre, enluarado e disposto a juntar um casal apaixonado que em silêncio vive separado e incomodado com a própria solidão que assusta mais do que bicho-papão no meio da escuridão. ...
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22/12/2014 - O amor é feito de terra

O amor é feito de terra. Da terra que molda. Da terra que gruda. Da terra que alimenta. O amor é feito de terra. Ora lama ora poeira. Da terra que gera. Da terra que enterra. Da terra que tudo ou nada dá. O amor é feito de terra. Da terra que orbita. Da terra que espera. Da terra que está sempre à mercê do tempo. O amor é feito de terra. Da terra que abriga. Da terra que sustenta. Da terra que faz a estrada. O amor é feito de terra. Da terra que ergue uma vida. Da terra que escapa pelas mãos. Da terra que mancha pele, alma e espírito... O amor é feito de terra.


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21/12/2014 - Sabores de Vó Ofélia

Quero me sentar a sua mesa e prosear um pouco enquanto coa o café e frita aqueles bolinhos de chuva que só a senhora é capaz de fazer. Quero espiar a senhora no fogão fazendo aquela macarronada especial de domingo. Quero provar mais uma vez da batata frita à moda de dona Ofélia. Quero ver mais uma vez que seja a senhora espremendo o milho para fazer curau, pamonha e bolo como nunca comi igual. Quero fazer aniversário para comer aquele bolo de suspiro e goiabada que só é possível vindo de suas mãos. Quero matar minha fome com seu pudim mata-fome. Quero experimentar de novo aquele pão sovado. Quero, nas noites frias, tomar aquela sopa que a senhora fazia em poucos minutos. Quero aparar no ar uma fatia do seu manjarzinho branco voador. Quero brigar para raspar a panela do curau de milho. Quero comer seus canudinhos com seu doce de leite que muda de cor três vezes antes de sair do fogo. Quero me fartar do seu doce de abóbora. Quero uma fatia bem generosa do seu bolo batido à mão, bolo que no meu caderno de receita ganhou o seu nome. Quero virar criança outra vez para comer sua gelatina colorida. Quero sentir o gosto daquele bife flambado e esfregado no fundo da frigideira. Quero encher as mãos de suspiro e pãezinhos de São Luiz. Quero provar da sua fé, dos seus sonhos, do seu amor, da sua sabedoria, das suas lições de vida a partir de bocados, colheradas, pedaços dos seus quitutes... ...
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20/12/2014 - Mais, melhor, além...

Eu queria fazer mais, mas todo o mais que faço é menos para você. Eu queria fazer melhor, mas você toda hora me acha pior do que qualquer um. Eu queria fazer diferente, mas você não olha para frente e me vê. Eu queria fazer muito, mas muito mais que muito, mas para você o meu tudo ainda é pouco. Eu queria fazer valer, mas você acha que eu não valho nada. Eu queria ir além, mas você me acha aquém. Eu queria superar todos os limites, mas você insiste em não avançar comigo. Eu queria dizer sim mas você só sabe fazer não.


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19/12/2014 - Todo o amor do mundo

Todo o amor do mundo até o fim dos tempos é isso que eu prometo ser, amor, amor, amor. Todo o amor do mundo a tudo o que foi, é e ainda será vivo um dia. Todo o amor do mundo aos que cantam, aos que dançam, aos que voam, aos que crescem, aos que movimentam a roda da vida que roda nos fazendo rodar. Todo o amor do mundo aos que se dizem apaixonados e, principalmente, aos que vivem como apaixonados. Todo o amor do mundo aos que flertam com a lua e se sentem transformados em noite de lua cheia. Todo o amor do mundo aos que como eu se dão em sentimento. Todo o amor do mundo aos que caminham de dentro para fora. Todo o amor do mundo aos que acreditam no faz-de-conta. Todo o amor do mundo aos que enxergam nuvens de palavras no céu. Todo o amor do mundo a quem não tem vergonha de professar o seu amor. Todo o amor do mundo aos que amam demais.


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17/12/2014 - Bangue-bangue lírico

Quando olhares se miram e se atiram um no outro como numa bangue-bangue lírico, é fato empírico que a paixão se aproximou para ficar. Entre corações atingidos e sangue fervido, o amor, seja permitido ou proibido, deixa sua marca. E não importa quem dispara primeiro, mas quem apara o outro antes. Diante do tiroteio de emoções, o faroeste está além de sim e não, pois o amor acontece nos senões.


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16/12/2014 - Ela passou

Ela passou e nem me olhou. Ela passou fingindo não me conhecer. Ela passou e me ignorou. Ela passou com tanto a dizer não dizendo nada. Ela passou num tão grande sofrer. Ela passou e me fincou sua decepção. Ela passou e mesmo calada me disse um tamanho não. Ela passou sem me descobrir como se eu fosse um camaleão. Ela passou e me deixou tantas mágoas. Ela passou como um rio passa com suas águas – sempre em frente. Ela passou e nem me abraçou. Ela passou e nem me pediu um beijo. Ela passou e nem se lembrou de tudo o que fomos, o que somos. Ela passou e me revirou sem encostar um dedo em mim. Ela passou e esburacou meu jardim do sossego. Ela passou e nem se dignou a perguntar como estou. Ela passou como um vento que passa sem tomar conhecimento do que está na estrada. Ela passou deixando um perfume de angústia. Ela passou cega ao meu coração. Ela passou dando nós em minha garganta. Ela passou evocando minhas lágrimas num ritual sem explicação. Ela passou materializando a saudade que de tão concreta pesou sobre meu corpo. Ela passou mortal como bala de canhão. Ela passou dramática, enfática, bombástica. Ela passou roubando-me o ar. Ela passou pisando firme mesmo sem saber que caminho seguir. Ela passou e me confundiu. Ela passou e, querendo ou não, certeiramente me atingiu. Ela passou como um cometa que não se sabe quando vai passar novamente. Ela passou e nem sorriu. Ela passou honrando seu luto. Ela passou intensa até demais. Ela passou como os amores passam, deixando rastros de dor e vazio.


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