Daniel Campos

Prosas

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10/10/2015 - Silo

Longe de casa há tanto tempo e ainda me lembro dos perfumes, dos sabores, das texturas características daquele lugar onde nasci, cresci e vivi momentos que continuam nítidos pelos labirintos do meu eu. O cheiro dos doces da minha mãe e dos livros, revistas, gibis e vinis do meu pai se misturando no ar. A variedade de tecidos da minha mãe e de rádios, radiolas e vitrolas de meu pai se cansado pelo ambiente numa dança de cores e vibrações. Meu irmão, quando não submerso em seu mundo de tecnologias, estava comigo numa mão de baralho ou transformando a mesa da cozinha de minha mãe em uma partida de pingue-pongue. Minha mãe, cozinheira e costureira de mão cheia, caminhando pela casa como se fosse a rainha daquele lugar encantado onde escrevi romances e vivi às voltas com prosas e poesias. Meu pai dando comida escondida para Kika, brincando com Samuca e Amora. Minha mãe implicando com os miados de Franjinha. Os almoços festivos que duravam o dia todo, com jogadas de sinuca, fartura de comida e passos de dança, ainda estão impregnados em mim assim como os dias intimistas onde apenas Chico Buarque, Vinícius de Moraes ou Tom Jobim cortavam o silêncio do meu quarto que um dia foi ateliê de costura de minha mãe. Depois das tesouras, moldes e fitas métricas de minha mãe, o quarto teve mesa de desenhista e violão, mas acabou mesmo em se tornando um ambiente de escritor, com computador, livros, discos e muitos cadernos que iam ganhando linhas e versos. Recordo com saudade dos dias chuvosos em que minha escrita fluía com boa música, herdada de meu pai, chás e bolos feitos por minha mãe. E de repente, a casa se enchia dos meus avós. E tudo se enchia de encantaria. Meu pai chegando da rua com jornais, revistas e filmes trazidos da locadora se tornou cena comum, assim como ele fazendo suas preces num altar improvisado, com Nossa Senhora Aparecida, no armário da sala de jantar. Cenas do dia a dia que pouco a pouco foram se depositando em mim como num grande silo que me alimenta até hoje.


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09/10/2015 - Casa aberta

A minha casa está sempre de portas abertas. A minha asa sempre leva mais um meus voos. Como sempre quis que se doassem a mim eu me doo. O meu coração em chamas é a minha oferta. Vai me chama. Cai me ama. Trai me acama. Sai da lama. Amai ó dama. Eu continuo o mesmo apaixonado. Eu contínuo futuro do passado. Eu e a ao meu lado a saudade do que não foi. A lua me dá oi, olá, adeus. E eu procuro deus pelos meus labirintos. Eu sou o que sinto. E sinto muito pelo que não houve entre nós. Que as marcas dos lençóis fossem as marcas dos corações. O meu tempo está em seus grilhões. Quem sabe numa nova vida, pois essa já deu em despedida. Ave ferida. Nave partida. Base perdida. Se eu ainda acredito nas estrelas? Posso vê-las, mas não posso tê-las pra mim brincando, iluminando meu jardim. Toca clarinete. Sobre a minha mesa o banquete do fim. É tanto sentimento. Quem vai querer? Quem vai comer? Quem vai poder? Que seja bem-vinda a sua realeza o tempo. O tempo... ...
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08/10/2015 - Adiantos

Amarra o seu sonho no meu sonho. Juntas as suas coisas as minhas. Faça-me rei no seu ventre de rainha. Toma meu corpo como se fosse seu cálice. Sorria na minha boca e nos meus braços se faça louca. Monta no seu cavalo azul e me encontre para um duo. Dedilha minhas cordas vocais tirando saudade da minha garganta. Entorta o meu destino para o seu lado. Leva minhas cruzes para o seu terreno mais amaldiçoado. Conceda-me seus encantos deixando-me subir pelos seus mantos. Atrasa as minhas horas para os seus adiantos. Suba em meus ombros tentando nos ver, juntos ou não, no horizonte. Beija a minha fronte e cruza os meus montes. Eleva suas fantasias até onde lampeja e troveja o sentimento, e me chama de poesia. ...
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07/10/2015 - Alegre-se

Vamos vibrar pelo bem. Vamos rir e, sorrir e gargalhar também. Nada de cair no pessimismo. Se for para chorar que seja de alegria ou de boa saudade. E vamos agradecer por poder viver a felicidade de cada dia. Uma felicidade que está em coisas tão cotidianas e simples que nem nos damos conta. Vamos ser gratos por podermos estar seguindo em frente. Olha quantos já ficaram para trás. Olha quantos já ficaram sem a chance que você ainda tem – de realizar seus sonhos. Olha quantos queria estar no seu lugar. Por maior a dificuldades, observemos a realidade – estamos vivos. Estamos vivos. Estamos vivos. E isso não é pouco. Vivos nós podemos escolher se vamos nos encontrar ou achar motivos para ser feliz ou vamos nos perder. Vivos nós podemos fazer nossos caminhos, ter prazer com as flores e aprender com os espinhos. Vivos nós podemos ser diferentes do que fomos ontem e estarmos cada vez mais perto do que sonhamos para nós um dia. Por isso eu repito, vamos vibrar pelo bem. Nada de desistir. Vivos nós vamos em frente e a realização um dia vem, mas a paixão vem todo dia. Pois é apaixonante viver quando se descobre nas microscópicas ações a alegria.


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06/10/2015 - O que de fato importa

Todos nós já caminhamos tanto, independentemente da nossa idade cronológica. Já perdemos algo ou alguém que ainda nos faz uma falta tamanha. Já pensamos muitas vezes em desistir. Já fraquejamos, caímos, tornamos a levantar. Já deixamos tantos sonhos para trás e arrumamos outros que ainda tentamos realizar. Já choramos e fizemos chorar. Já amamos e nos decepcionamos com o outro ou conosco. Juramos amor eterno e descobrimos que o pra sempre mais dia menos dia tem fim. Já cogitamos fugir de um lugar, de uma situação ou de nós mesmos e não tivemos coragem. Já quisemos ter asas, anjos-da-guarda e finais felizes, mas temos braços para abraços de chegadas e de partidas, um ao outro para se proteger e constantes recomeços. Como no velho e bonito ditado, erramos querendo acertar. E é errando que nos fazemos seres-humanos. E é como humanos que amamos de verdade. Não importa quantos anos, grandezas ou moedas nós acumulamos ao longo dessa estrada, mas o quanto de saudade conseguimos ser nos corações que cultivamos.


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05/10/2015 - Rumo às estrelas

Toma-me pela mão e me mostra a direção que devo ir para encontrar o reino das estrelas. Eu quero morar nas estrelas e ninguém me tira isso da cabeça. Mãe, leva-me para as estrelas. Pai, dá-me às estrelas. Como eu faço para chegar lá? Onde embarco às constelações. Que trem me leva a Centaurusa Andromeda, a Aquarius. Converso e enamoro com as estrelas e ainda posso tê-las na minha cama numa luminosidade que inflama. Como chego ao céu, ao céu das estrelas? Alguém escuta este que ama as estrelas por entendê-las queimando no infinito do universo. São centelhas, são luzes, são geometrias divinas que ficam tão lá em cima. Quero brincar, juntar e encaixar estrelas. Quero amá-las corpo-a-corpo, terra e céu, por sabê-las. Estrelas de néon, de batom, de mel. Eu vim das estrelas e às estrelas hei de voltar. Só preciso que alguém me ensine como chegar.


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04/10/2015 - Hoje já não se vê mais

Hoje já não se vê mais favo de mel sendo vendido no meio da rua. Hoje já não se vê mais noivas casando com buquês de flores do campo. Hoje já não se vê mais marimbondo vermelho tirando o sono das crianças. Hoje já não se vê mais fruta amadurecendo no pé. Hoje já não se vê mais movimento na banca de revista em dia de domingo. Hoje já não se vê mais sacristão tocando sino. Hoje já não se vê mais violeiro sentando na porteira. Hoje já não se vê mais dono de casa servindo café feito no fogão a lenha pra visita. Hoje já não se vê mais panela ariada. Hoje já não se vê bolo esfriando na janela. Hoje já não se vê mais a mesa cheia na hora do almoço. Hoje já não se vê mais previsão do tempo tirada na lua. Hoje já não se vê mais bola de meia. Hoje já não se vê mais flor de couve. Hoje já não se vê mais torresmo que estrala. Hoje já não se vê mais o circo chegando na cidade. Hoje já não se vê mais palhaço engraçado. Hoje já não se vê mais graça.


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03/10/2015 - Visões

Quando você vê uma teia de aranha, arranca-a ou fica admirando a arquitetura das fiadas certeiras? Logo após um susto, toca em frente ou para agradecer aos céus pelo prolongamento da sua vida? Diante do por do sol, você percebe os anjos misturando as cores ou só vê mais um dia se acabando? Se estiver caminhando e for surpreendido pela chuva, corre reclamando da água ou abre os braços e encara aquilo como uma benção? Ao folhear um álbum de fotografias antigas se prende às mudanças da aparência ou às lembranças boas? Diante de uma encruzilhada, pega o caminho mais bonito, mais fácil, mais conhecido ou aquele que seu coração indica? Tem buscado mais os ponteiros do relógio ou os pássaros que seguem outro tipo de horário? Ao olhar a sua volta consegue ver tudo ou pouco tem percebido da vida que o rodeia? Se a mata incendeia você fecha as janelas para não entrar fuligem ou sofre com as árvores e animais queimados? Encara tudo como um acaso ou fruto de um propósito maior? Convive com os outros como se fossem apenas ilhas ou partes do seu continente? Tem sido mais razão ou emoção? Tem sido mais diferente ou indiferente? Tem sido mais o que você quis ser ou o que já foi um dia? Quando entra num mar, num rio, numa mata pede licença ou acha que tudo aquilo lhe pertence? Há mais saudade ou vontade dentro de você?


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02/10/2015 - Vamos coqueirar

Se eu sou coqueiro, coqueiro é, estica uma rede entre nós pra dona saudade deitar. Embala a saudade, embala pra lá e pra cá. Deixa o vento dobrar suas folhas, perfuma o ar. Deixa o alento revirar suas folhas, colore o mar. O sol já saiu e a noite fugiu. Sombreia na areia que dona lua já dormiu. O pescador saiu pra jogar sua rede. Dona moça ficou olhando a maré verde esperando seu bem voltar. E como o mar não tem parede, estica a rede no coqueiro pro barco descansar. Vamos coqueirar, coqueiro é santo quebra corrente e dá encanto de se enamorar. Se eu sou coqueiro, o que é que há, coqueiro é, coqueiro beira de mar, quem disse que as árvores não podem se apaixonar? Requebra coqueiro veleiro das matas, cascata que não quebra. Se eu sou coqueiro, dona brisa, coqueiro é.


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01/10/2015 - De amor, cante

Encosta sua boca na minha para não deixar escapar uma só palavra do que precisa ser dito de bonito para nós dois. Palavras de amor não podem vagar sozinhas sob o risco de se rasgarem nas espinhas do depois. O tempo não espera. Nem todo dia é primavera. Só existe a bela porque existe a fera. Por isso, chega mais perto, florescendo meu deserto, causando reboliço, para escutar tudo o que eu tenho a soprar a sua alma em feitio de feitiço. Acalma sua pressa de ir e se permita a ouvir cada palavra que eclode como lava do meu peito em chama e explode em som num tom de quem ama acima da razão. Para que nada seja perdido, junta sua boca a minha e ouça a minha ladainha de sentimento que não pode cair no vento nem sumir ao relento. Toma tudo o que eu preciso dizer, com ou sem juízo, e não dá mais para adiar. Ouça, ouça cada sílaba, cada tônica, cada pausa que lhe destino como menino de correio elegante e se agigante de amor; De amor, cante.


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