Daniel Campos

Prosas

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25/01/2013 - O meu lugar é aqui

Faça chuva ou faça sol ninguém me tira daqui. Criei raízes. Estou apegado demais com isso aqui. E quando eu gosto não tem que me convença a desgostar. Podem tentar o que quiser, mas não vou se não quiser ir. Essa é minha terra. Essa é minha casa. Esse é o meu povo. Só saio daqui morto, e mesmo assim meu espírito capaz de ficar vagando por esse lugar. Esse chão está marcado por meus pés. Há impressões digitais minhas espalhadas por tudo quanto é canto. Meus romances são lidos e ouvidos.

O vento daqui já está acostumado a carregar das minhas palavras aos meus fios de cabelo. Quanto do meu suor essa terra já comeu. A chuva que cai por aqui leva minha essência para as minas d’água. Minha poesia palpita até no peito das pedras daqui. Tenho o apoio das árvores. As linhas das minhas mãos tomaram a forma das trilhas desse lugar. Os deuses daqui já me conhecem. O que vivi por aqui não tem preço. As páginas dos livros e dos cadernos são meu endereço.


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24/01/2013 - Mãe que auxilia

Mãe, está difícil seguir por esse destino que me destina. Mãe, o peso do mundo insiste em me empurrar ao chão. Mãe, quando é que tudo melhora? Mãe, quero colo. Mãe, aponta-me um caminho menos íngreme ou me dê força para subir. Mãe, não quero ceder. Mãe, não quero desistir. Mãe, não aguento mais tanto sofrer. Mãe, será que todo sonho é só um sonho? Mãe, leva-me para casa. Mãe, sopra minhas feridas. Mãe, coloca no meu peito punhados de esperança. Mãe, dá-me suspiros. Mãe, esteja presente em todo chão que piso, em toda estrela que olho, em todo sentimento que respiro. ...
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23/01/2013 - Há sempre

Há sempre um peixe para fazer um pescador. Há sempre um padre para fazer uma confissão. Há sempre uma vítima para fazer um ladrão. Há sempre um cruzar de pernas para fazer um romance. Há sempre uma pista para fazer uma investigação. Há sempre uma lua para fazer um poeta. Há sempre uma onda para fazer um surfista. Há sempre uma vela para fazer um santo. Há sempre um caminho para fazer um descaminho. Há sempre uma ideia para uma mentira para fazer uma verdade.

Há sempre uma culpa para desfazer um inocente. Há sempre um defeito para desfazer o perfeito. Há sempre uma traição para desfazer uma paixão. Há sempre um vento para desfazer o penteado. Há sempre um fim para desfazer o começo. Há sempre um estopim para desfazer a paz. Há sempre um passo para desfazer o compasso. Há sempre uma loucura para desfazer a rotina. Há sempre um engano para desfazer o plano. Há sempre um erro para desfazer o acerto. Há sempre uma contraprova para desfazer a prova. Há sempre um não para desfazer um sim.


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22/01/2013 - Pode falar

Fala, porque eu sempre hei de lhe escutar. Fala, estou de ouvidos, peito e poros abertos. Fala, vou acreditar em tudo o que disser. Fala como se fosse a primeira e a última mulher. Fala sobre o que lhe provoca. Fala e invoca todas as interpretações que eu possa fazer das suas falas. Fala das suas taras. Fala do que lhe sufoca. Fala o que quer. Fala com todas as letras. Fala a minha língua na sua língua. Fala dos problemas, dos dilemas, dos teoremas.

Fala em rimas livres ou métricas. Fala com fé e de maneira cética. Fala dos seus amigos imaginários. Fala dos seus amores platônicos. Fala dos seus objetivos faraônicos. Fala como falam os peixes dentro do aquário. Fala como criança que ainda não fala. Fala saboreando cada letra. Fala despindo as palavras. Fala conjugando cada verbo a sua maneira. Fala como prostituta e como freira. Fala e me crava as suas falas....
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21/01/2013 - Roda que roda

Pela décima quarta vez, deixe a vergonha de lado e entre na roda. Orixá não gosta de canto, portanto nada de uma vida careta, quadrada. Circule. Se quiser ousar, abuse da modernidade transformando sua existência em uma elipse. Rode sem parar de rodar. O mundo é mesmo uma bola, e daí? Rode por ali e por aqui. Vire-se e gire. Rode de forma solitária ou dê as mãos, rodando em conjunto. Rode percorrendo caminhos, deixando marcas que lhe permitam voltar. Pois a roda, por mais gigante que seja, sempre volta ao mesmo lugar. Pode voltar em outras condições, com outro espírito ou motivação, mas retorna ao ponto de partida....
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20/01/2013 - Dia de São Sebastião

São Sebastião do meu Rio de Janeiro, eu estou aqui, bem aqui, pronto para conhecer Oxóssi guerreiro. Sou filho de Oxóssi, o grande caçador. Meu coração solitário depois da solidão da floresta encontrou um amor. Eu me cubro de verde, do verde de Oxóssi que colore o mar. Eu mato a minha sede nas rezas do meu padroeiro. Sou de Oxóssi e de Oxóssi é o meu cancioneiro.

Que a paixão por Iansã sopre o vento das minhas velas, a que queima iluminando o peito aberto de São Sebastião e a que vence as ondas velejando rumo às matas de Luanda. Se São Sebastião é carioca, o meu Rio de Janeiro invoca Oxóssi de Aruanda. Eu quero a fartura e a riqueza que Oxóssi traz, que Oxóssi dá. Para lá ou para cá, levo e me levo na flecha do meu orixá. ...
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19/01/2013 - Fornalha

O coração, como uma fornalha, vai queimando dia após dia tudo o que sou, o que espero, o que fui, o que sinto, o que quero. Meu coração queima o que minto, o que finjo, o que escondo com a mesma veracidade com que minha realidade é queimada. Nesse forno, queimo minha obra, minhas cobras e lagartos, minhas sobras. Os sonhos vividos ou não alimentam as labaredas. Ora essa queimação resulta num calor sem precedentes que extrapola os graus Celsius ora traz um frio latente. Ora transformo-me nessa fornalha, sendo engolido por ela, ora ela é apenas uma fogueira adolescente num campo deserto do meu eu....
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18/01/2013 - Barco meu

O meu barco vai sair do cais dos olhos de uma morena. O meu barco vai seguir mar adentro rumo ao que me disse uma pequena. O meu barco vai ziguezagueando pelas ondas livre da matemática e de seus teoremas. O meu barco vai poético, num sentimento carnal e fonético feito gaivota. O meu barco vai deixar para trás sem pena todos os dilemas da cidade grande. O meu barco é afinado na nota do coração. O meu barco é o tempo que expande sem parar. O meu barco é movido ao verbo gostar. O meu barco tem como comandante um pirata da ilusão. ...
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17/01/2013 - Detrás do muro

Detrás do muro há um mundo desconhecido. Sereias e feras convivem entre belezas e garras detrás do muro. Detrás do muro existe tudo o que lembre o inferno e também o paraíso. O permitido e o proibido se oferecem de diferentes modos detrás do muro. Detrás do muro há uma enorme caixa contendo seus perdidos. Fama, poder e destruição lhe esperam detrás do muro. Detrás do muro reina um tempo novo, capaz de lhe envolver como nunca dantes foi envolvido por nada, por ninguém.

Bruxas e fadas, heróis e vilões, luzes e sombras lhe aguardam detrás do muro. Detrás do muro há plantação de sorrisos e desertos de dor. Deuses rígidos e deusas carentes murmuram detrás do muro. Detrás do muro há desejos de todos os tipos se desejando de todos os jeitos. Há esperanças grávidas e sonhos estéreis detrás do muro. Detrás do muro existem estrelas que não brilham, mas que pulsam e rodopiam como bailarinas. O destino é controlado pelas meninices das meninas, em especial, detrás do muro....
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16/01/2013 - A chuva de Nanã

De manhã à noite, por todos os lados há a chuva de Nanã. Chuva forte e intensa, como a personalidade de Nanã. Chuva tão antiga quão Nanã. Chuva que deixa o céu arroxeado como as vestes de Nanã. Chuva que alivia a alma e pesa o corpo. Chuva que nos curva para reverenciar aos céus, por gratidão ou temor a Nanã. Chuva que transforma toda a terra em lama, a lama da criação de Nanã. Homens e mulheres se lambuzam na chuva e na lama de Nanã, recriando-se em formas e conteúdos. Salubá Nanã!

A chuva de Nanã nos constrói e, descontrói e reconstrói. Na chuva de Nanã há mais sorte do que nas sementes da romã. A chuva de Nanã traz mensagens subliminares, perfumando os ares nos tons e essências da alfazema. A chuva de Nanã nos redimensiona ao mesmo tempo em que nos faz colocar os pés no chão, dando a cada um o seu exato tamanho. A chuva de Nanã encharca o coração, que transborda em sentimentos. A chuva de Nanã cala fundo no espírito, revolvendo tudo o que há de público e de confidencial em nós.


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