Daniel Campos

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22/01/2013 - Pode falar

Fala, porque eu sempre hei de lhe escutar. Fala, estou de ouvidos, peito e poros abertos. Fala, vou acreditar em tudo o que disser. Fala como se fosse a primeira e a última mulher. Fala sobre o que lhe provoca. Fala e invoca todas as interpretações que eu possa fazer das suas falas. Fala das suas taras. Fala do que lhe sufoca. Fala o que quer. Fala com todas as letras. Fala a minha língua na sua língua. Fala dos problemas, dos dilemas, dos teoremas.

Fala em rimas livres ou métricas. Fala com fé e de maneira cética. Fala dos seus amigos imaginários. Fala dos seus amores platônicos. Fala dos seus objetivos faraônicos. Fala como falam os peixes dentro do aquário. Fala como criança que ainda não fala. Fala saboreando cada letra. Fala despindo as palavras. Fala conjugando cada verbo a sua maneira. Fala como prostituta e como freira. Fala e me crava as suas falas.

Fala inventando sílabas, misturando fonemas, vivendo expressões. Fala todos os seus nãos de uma só vez. Fala timtim por timtim. Fala tudo o que lhe devora. Fala de um jeito abstrato. Fala o que há por detrás do fato. Fala, falando-se em detalhes. Fala com toda expressividade e vontade que há no seu falar. Fala, botando-se pra fora. Fala sem pensar nas consequências. Fala sem pensar em condenação ou inocência.


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