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Encontrados 79 textos. Exibindo página 5 de 8.
15/04/2012 -
Renunciando a deus
Renuncio ao deus que não desce do altar, que dá ordens do alto de um trono, que mantém os olhos acima das nuvens. Renuncio ao deus que quer exércitos, súditos e joelhos dobrados. Renuncio ao deus que exige provas constantes e sacrificantes de fidelidade e amor. Renuncio ao deus que se limita a uma igreja. Renuncio ao deus dos ladrões, dos barões, dos grilhões. Renuncio ao deus restrito, preconceituoso e doloroso. Renuncio ao deus imutável, irrefutável, indomável. Renuncio ao deus que não dança e, que não canta e que não se levanta diante de uma dama. ...
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09/01/2012 -
Reprises
Janeiro é o mês das reprises. O mês com cara de passado, repleto de marcas e cicatrizes. Até mesmo as promessas de ano novo que tomam conta do dia 1º são velhas. Os rituais são os mesmos dos anos anteriores. As profecias já foram professadas há séculos, milênios talvez. As expectativas já foram esperadas em outras oportunidades. O mesmo do mesmo acontece em janeiro. Falta novidade nas festas ou nos eventos cotidianos. Janeiro, a locomotiva da repetição.
Não há nada de novo na programação da TV. As notícias são requentadas. Tudo já foi falado e visto e revisto. As roupas são retro. Os cortes de cabelo já foram moda em outras estações. Janeiro é um espelho com reflexos em preto e branco. Na boca, nada de novo. Os sabores já são conhecidos. Sol e chuva, independentemente do tempo, há um temporal de nostalgia lá fora, cá dentro. Até mesmo as tragédias se repetem. Em janeiro, Deus inventou o replay. ...
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05/05/2016 -
Ressaltando
Viola não se aprende na escola. Amor não se cura na farmácia. Taxista bom não fica parado na praça. O artilheiro não é o dono da bola. Só pode ser feliz quem já provou o que é ser infeliz. Um cachorro nunca vai embora. De nada vale o para sempre se ele já não existir agora. Não importa o que não foi por um triz. Não importa o que você quis. Importa o que você pede bis. Um porta-retratos não mente. Só é ausente quem nunca deixou de ser presente. Saudade é termômetro de querência. Só quem nunca pecou tem medo de penitência.
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15/08/2010 -
Restos do apocalipse
Todos correram. Todos fugiram. Todos sumiram das ruas e das luas de São Jorge. Não há ninguém por aí. Não há ninguém por aqui. Mataram todos os pardais, os rouxinóis e até o mestre bem-te-vi. Não há canto de pássaro, não há ninho de pássaro, não há céu de pássaro e não há ninguém a passar. Destruíram todas as flores. Borraram as cores. Saquearam as lojas. A comida acabou, a policia debandou, a festa acabou... e eu fiquei para trás acreditando no mundo, nas coisas do mundo...
Beberam todo o champanhe. Quebraram as taças de vinho. Sujaram a água da fonte. De avião, navio, carro, moto... todos se foram. Não ficou ninguém para dar notícias. A televisão saiu do ar. O rádio está mudo. Os bares estão vazios. A cidade é só uma massa de concreto e nada mais. Tudo está escuro. As árvores secaram, tombaram, queimaram. E não há qualquer sinal de brotos. Só as formigas continuam sua marcha prevendo um longo inverno. ...
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29/06/2012 -
Reticências de amor
Que me perdoem aqueles que amam com ponto final, com aspas, com ponto e vírgula, mas eu amo com reticências. Difícil para quem está acostumado ser amado com ponto de interrogação ou asterisco aceitar um amor de três pontos. Sim, eu amo com três pontos. Sou devoto praticante do amor reticências. Afinal, quer algo que simbolize melhor o infinito e a eternidade do que aqueles três pontinhos? Sou do amor em movimento, que segue sem parar (sem querer ou poder parar) por estradas reais e imaginárias... É o amor que se alimenta de si próprio para continuar amor igual ou maior do que há segundos atrás......
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Retrato da poesia
Agradeço a poesia. Esta chama que se esconde em meu corpo e se expõe ao mundo no momento exato. Sem mais cerimônias ou demasias. A poesia, o fruto de toda a fantasia, que quebra as fronteiras com o impossível e turva a realidade. Fonte da miragem quase concreta finge que é concreta. Finge que é real. Finge e só finge.
Poesia. Sobrepõe-se a frigidez cotidiana e constrói uma nova cena no antigo desejo dos meus olhos. Essa chama, quando oculta, em meu corpo, notada somente por mim, conforta-me diante da materialização mundana. A poesia não é fingimento ou hipocrisia. A poesia, embora triste, tenta ser felicidade. A poesia tenta, mesmo leiga, compreender a existência e o destino da razão, em seu singular e em seus plurais. A poesia busca os sonhos, ou melhor, a idealização da vida....
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23/04/2011 -
Retratos de Minas, de A a Z
Alda e Zélia, pão e vinho, luz e caminho, celebração e comunhão. Senhoras de uma prosa à mineira que nos leva a embarcar num daqueles trens sem fim, repletos de vagões pintados de carmim e recheados de histórias e tradições. Senhoras de glórias e brasões, damas remanescentes da fina flor da sociedade de Minas Gerais. Sem mais perceber, os olhos de Alda falam tanto quanto a boca de Zélia. Do amanhecer ao anoitecer, a brancura dos cabelos de Alda e a vermelhidão dos de Zélia lado a lado como lua e sol, canto e rouxinol. ...
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17/12/2015 -
Reúsos
Dona Maria serve café em copo de extrato de tomate. Seu João só toma leite em copo de requeijão. Sinhá Genoveva guarda tudo no vidro de azeitona. Julieta e Romeu brindam com copos de milho em conserva. A velha Zezé toma cachaça no copo de geleia. Arlindo leva comida no pote de margarina. Margarida vai catando tudo quanto é copo pra encher de gelatina. Dona Zélia pega vidro e garrafa pra botar flor. Tonico bota porca e parafuso nos potes de maionese. A pequena Júlia, na falta de boneca, nina um vidro de shampoo rosa. Tudo vai se ajeitando, reciclando e se virando de pote em pote, de vidro em vidro, de gente em gente. ...
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02/05/2017 -
Reveja-se
Que tal, mudar a direção do seu querer? Ao contrário de trazer tudo para si, ofereça-se mais. Não importe em abraçar o mundo, mas abraçar o que, de fato, importa, e se sentir abraçado. Pare de puxar tudo para si e se lance ao infinito. Pare de ser ancoradouro de sonhos e navegue, movimentando o que sonha. Estique às velas, confie no vento. Vá fundo em suas emoções, permita-se viver sem amarras, livre e em qualquer lugar. Quanto mais você se arriscar, mais vai ganhar. Peixe que não nada contra a correnteza não conhece o gosto do mistério, da paixão, da incerteza. Quem joga a ancora é porque não escuta o choro do barco, que não quer que o mar venha até ele, mas quer ir mar adentro. Basta de esperar milagres. Faça a sua vida! Aventure-se! Enloucure-se! E se cure de todo tédio, de todo mal, de toda solidão jogando-se no que há para viver. ...
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23/04/2015 -
Revirados
Tudo revirado. Tudo bagunçado. Tudo deslocado. Dentro e fora de mim. Cabeça em órbita. Coração em queda livre. Sonhos como cometas se vão distantes. Estrelas piscam como minha memória. As constelações me dizem muito e nada ao mesmo tempo. Sou navegante do espaço. Enquanto dormem contando carneiros ou expectativas, sou a própria insônia. Estou entre o pesadelo e o sonho bom, atravessando fronteiras entre planos terrestres e astrais. Sou a última nau levando o que sobra de poesia nisso tudo.
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