Daniel Campos

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Encontrados 254 textos. Exibindo página 23 de 26.

17/05/2011 - Preciso de um texto

Eu preciso de um texto. Por favor, me dê algumas palavras. Onde eu posso encontrar algumas rimas? Eu não quero comprar um amontoado de frases nas gôndolas do supermercado, eu quero colher frases nas gôndolas de Veneza. Eu preciso de uma hemorragia, ou melhor, de uma verborragia de diversos tempos, do pretérito imperfeito ao futuro mais-que-perfeito. Proseie, mas proseie muito, pois preciso de sua prosa e também de seus silêncios. Vou abrir gavetas, baús, armários em busca de vírgulas, pausas, exclamações, aspas... Eu quero subir num pé de poesia e apanhar os poemas mais suculentos, independentemente se verdes ou maduros. ...
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10/09/2008 - Prêmio de loteria

Hoje eu vou jogar na loteria e ganhar o tesouro que pirata nenhum ousou enterrar. Não tem erro não, joguei nos números que encontrei nas asas de uma borboleta que pousou na galha do pé de arruda, que nasceu no buraco da ferradura, bem ao lado de uma árvore da felicidade. Não tem para biscoito da sorte chinês ou matemático enlouquecido, vou meter a mão nessa fortuna e ter vida de presidente. Só estou em dúvida se compro um palácio, uma casa da Dinda ou uma caixa forte igual a do tio Patinhas.
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27/11/2013 - Preocupações

Eu me preocupo com o seu estar e com o seu ser. Eu me preocupo com a sua temperatura. Eu me preocupo com os batimentos do seu coração. Eu me preocupo com o seu anoitecer. Eu me preocupo com a envergadura dos seus sonhos, e se eles são sonhados no singular ou no plural. Eu me preocupo com os seus sentimentos. Eu me preocupo com o nível da sua ilusão. Eu me preocupo com o que vai fazer. Eu me preocupo com o andar do amar. Eu me preocupo com o que está dentro e fora de você. Eu me preocupo se vai ou não sofrer. ...
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23/03/2016 - Preparado estará?

Não importa quando vai chegar, mas o fato de que chegará. E quando esse dia chegar, preparado estará? E quando esse dia bater na sua porta ela ainda se colocará fechada? De nada vale desejar, querer, pedir se não está pronto para receber. É preciso ter merecimento e preparo. De nada vale uma vontade sem o trabalho para possibilitar essa vontade. É como querer colher girassóis sem preparar a terra. E, meu irmão, há muito há preparar em teu íntimo. A lavoura interior necessita de cuidados diários, de um intenso labor e da paciência com o tempo das sementes. Semente alguma desperta porque queremos, exigimos, sentenciamos. Porém, somos nós que damos as condições para que uma semente se torne algo além de uma semente. Tudo é parte de um mecanismo preciso. Há de ter medida para tudo, exceto para o amor que é desmedido por natureza. Ama e ama sempre mais porque mesmo demais o amor ainda será pouco.


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09/04/2014 - Presença constante

Quem ama está sempre acompanhado. Não importa quando ou onde, mas segue continuamente na companhia da criatura amada. Por maior que seja a distância geográfica, a presença da pessoa que se ama é constante em sua vida, seja nos pequenos detalhes do dia a dia ou nas grandes emoções de uma vida. A pessoa amada está presente num perfume que paira no ar, no interior de um copo, numa canção que surge inesperadamente, numa roupa que passa, numa expressão única, num gesto que ficou gravado no tempo...
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15/09/2011 - Presença da ausência

Pelo restante dos meus dias caminharei a sua procura num vício sem cura. Acordado ou dopado de sono, em pé ou tombado de abandono, com uma multidão de eus ou sem dono, hei de segui-la. Pelo restante dos meus dias rumarei pelos seus passos sofrendo e provocando embaraços de terceiro grau. Pelo canavial, pelo astral, pelo carnaval, pelo temporal hei de procurar suas marcas, suas pistas, suas evidências...

Pelo restante dos meus dias lutarei para me lembrar do que foi hoje, ontem, anteontem e do que será amanhã. Vencer a amnésia e o ceticismo que se fortalecem com o passar dos dias. Pelo restante dos meus dias buscarei cada detalhe seu, cada minúcia, cada gesto e palavra pendente no ar. Hei de colecionar em uma tatuagem sentimental suas bobagens, suas imagens, suas paisagens, suas chuvas e suas aragens....
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19/05/2014 - Presença tatuada

Desde que encontrei a mulher amada nunca mais a esqueci, por um milésimo de segundo sequer. Fui tomado por ela de um jeito irresistível, completamente infalível. De repente, quando percebi, todos meus momentos cotidianos ou surreais já a continham sob medida. Chegou como uma epidemia silenciosa e foi se alastrando e dominando tudo o que era meu, tudo o que era eu. Passei a ter fome, sede e sono da mulher amada. A presença dela sempre foi crescente e avassaladora em meus dias, noites, tardes, manhãs, madrugadas, alvoradas... Não foi só uma parte dela, foi o todo; não foi só um pedaço dela, foi ela inteira; e ela não me foi fragmentada, foi única. A mulher amada ocupou ao seu modo cada um dos meus espaços físicos e psicológicos. A mulher amada está na minha cama, no meu carro, no meu copo, na minha música, na minha lua, na minha escrita. Hoje, não há absolutamente nada em mim que não diga respeito à mulher amada, seja de forma direta ou indireta, consciente ou inconsciente, voluntária ou não. Todas as conversas, todos os toques, todos os sonhos, todos os beijos com origem na mulher amada estão tatuados ao longo do que sou num conjunto de tatuagens invisível aos olhos céticos, mas completamente compreendido pelos olhares apaixonados que leem e veem a mulher amada ao meu lado mesmo quando sigo aparentemente sozinho pela estrada.


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Presente

A luz do abajur se espalha cansada. Os olhares não sabem se ficam nos ponteiros vagarosos do relógio ou nas bordas do horizonte escuro. Na verdade, ficam nas tantas coisas que ficaram e não eram para ficar. Uma sede de amanhecer. De se encontrar com o novo. Mesmo que o novo se resuma a uma folha de calendário. Não importa. A possibilidade de se livrar desse tempo presente traz-me um certo alívio. Aos pés da cama, alguns frascos de remédio. Calmantes. As doses aumentam, noite a noite, mas de pouco valem. O corpo parece hipnotizado, tomado por uma espécie de insônia. Os discos são os mesmos da noite anterior. As páginas dos livros são as mesmas de anteontem. Até os passos que riscam o piso são os mesmos de duas ou três semanas atrás. Não se sabe mais se é calor, ou febre ou qualquer coisa que faça mal. Perdi a conta das vezes que o corpo entrou debaixo do chuveiro. Mas até a água parece ser a mesma das vezes passadas. Não existe nenhum sentimento novo rondando no ar. Até os olhares são os mesmos. Os mesmo olhares nascem em outros olhares como um filme que não valeu. Mas quem sabe, quando o dia amanhecer, o mundo seja diferente. Quem sabe, quando o dia amanhecer, a luz invada o útero daquele velho mundo e fecunde ali, outros sonhos, outros sabores, outros tempos.


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26/07/2011 - Presente de aniversário

Um aquário? Um relicário? Um dromedário? Como lhe presentear neste aniversário? Um abecedário, um confessionário, um canário? Um balneário, um orquidário, um beijo panfletário? Um solitário, um dia sedentário, um amor coronário? O que quer de presente de aniversário? Um anedotário, um antiinflacionário, um documentário? Um sonho portuário, um buquê incendiário, um destino totalitário?

Se quiser eu inverto o horário, invento outro calendário, mudo por completo o itinerário, só para lhe presentear neste aniversário. Se bem quiser eu levo seus adversários ao calvário, escrevo o obituário de seus medos e transformo seus carmas em presidiários. Se mais quiser eu reúno seus partidários, seus operários, seus signatários e construo um brumário ou um santuário como presente de aniversário. ...
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10/06/2011 - Presentes de aniversário

Se pudesse pedir um presente de aniversário, pediria uma passagem, só de ida, com direito a acompanhante, para um mundo com menos hipocrisia e mais amor e poesia. Se pudesse, pediria um disco inédito de Tom Jobim ou um uísque na companhia de Vinícius de Moraes. Se pudesse, pediria um novo começo. Se pudesse, pediria uma janela para o infinito. Se pudesse, pediria as cores de Monet e a inocência de Renoir. Se pudesse, pediria para o tempo não correr de forma cronológica. Se pudesse, pediria para viver para sempre no sítio que ficou perdido numa dobra do tempo chamado infância. ...
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