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Encontrados 254 textos. Exibindo página 24 de 26.
17/08/2012 -
Preserve tudo o que é caro ao coração
Preserve tudo o que é caro ao coração. Os sonhos, os dias felizes e as matizes de esperança. As meninas e os moleques que não morrem jamais. O simples e o chique que forjam sua existência. Preserve tudo o que é caro ao coração. As noites bem dormidas, os beijos estalados, as maçãs proibidas. Os enredos épicos, as variações da beleza e tudo o que lhe dá leveza. Suas crenças, suas criações, suas canções. Preserve tudo o que é caro ao coração.
Os passos, as linhas, os ritmos, as rimas. Preserve tudo o que é caro ao coração. Uma bebida, um vício, um final feliz. Um ser fantástico, uma criatura mágica, uma dose de irrealidade. Um suspiro profundo, um cheiro, uma ardor, um lugar perdido no mundo. Preserve tudo o que é caro ao coração. Um toque, uma textura, uma silhueta. Um arranjo, um comichão, um sopro. Um retrato, um fato, o rasto de um sapato. Preserve tudo o que é caro ao seu coração. ...
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23/02/2011 -
Preste atenção
Preste atenção, não diga nem que sim nem que não, apenas ame. Ame sem pensar no minuto seguinte, no que ficou ou passou. Ame atemporalmente e achando-se ou não, perdidamente. Ame de forma ilusória subvertendo a ordem da própria memória. Ame de contração em contração, como que parindo um novo amor a cada gemido. Ame como as sombrinhas amam a chuva, com muita cor, exposição e dança. Ame sem se importar se o que vive é romantismo ou pieguismo.
Ame e chame por esse amor como a flor chama o fruto. Ame e, modéstia à parte, ame como a maior das amantes. Ame ponteando alegrias e martírios. Ame buscando completar a incompletude da vida. Ame privando-se de tudo o que não diga respeito a esse amor. Ame bebendo e comendo esse amor. Ame com todos os suspiros e ais que tiver direito. Ame entre babados e rendas, enrodilhando-se de redondilhas....
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09/03/2012 -
Preto velho adorai, saravá!
Preto velho que me acompanha para lá e pra cá, saravá! Preto velho que veio de Luanda, vamos pro Congá ao lado do nosso orixá! Preto velho que trabalha nas linhas das almas, ampara, oi, ampara a minha fé. Preto velho que é meu protetor, com cachimbo na mão, axé, ô ô. Preto velho é, Preto velho é Egun no Candomblé. Preto velho que é do batuque e do canjerê, bate tambor, oi bate tambor que eu quero ver. Adorei as minhas almas, as minhas santas almas, preto velho chegou na batida das palmas.
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Previsões
Um dia, não sei há quanto tempo distante de mim, a mulher do poema estará solitária em casa. Estará à vontade, vestida de pés descalços e uma calça qualquer. Sozinha, do verbo solidão, divorciada ou à espera de um marido. Por quem espera pouco importa, em qual cidade, sob qual motivo... Não sei. Profetizo apenas que ela estará em seu quarto abrindo e vasculhando gavetas à procura de não sei o quê. Talvez buscasse algo tão irrelevante que nem valha a pena descobrir. Procurará as voltas com uma ansiedade já conhecida. ...
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21/12/2011 -
Primavera das sombras
A primavera se vai cheia de dor, carregada pelas águas das chuvas. A primavera corre pelas enxurradas e é engolida pelas bocas de lobo e se mistura ao barro, ao esgoto, ao lixo. No final das contas, a primavera, mesmo sem querer, causa mortes e medo e pranto. Será que a primavera não é tão boazinha quanto parece? Será que há algo de Alfred Hitchcock na primavera ou tudo não passa de um mal entendido. A pergunta é coerente, pois o período da primavera está cada vez mais associado a desastres naturais do que propriamente a jardins floridos e perfumados. ...
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Primavera de esperas
Primavera. Oficialmente, os calendários manifestam a estação mais esperada pelos apaixonados de carteirinha. Consciente disso, mas não sei se por isso, ela tinha um sorriso mais farto no rosto. Na mesa de centro, um jarro com alguns copos de leite. Eles não precisavam da primavera, davam quase o ano todo, mas na primavera pareciam mais vistosos, mais brancos, nascidos de algum seio. E ela adorava copos de leite.
Gostava também de ir ao armário embutido do seu quarto e sair de lá com um vestidinho leve e florido, com umas sandálias rasteiras e com uma fita no cabelo. Saía caminhando por sua rua à sombra dos ipês amarelos que não existiam ali. Como sonhava com aqueles ipês. Sentava-se à sombra de uma árvore que além de não ser ipê não dava flores. E ficava por ali, à espera de alguma inspiração de primavera. Quem sabe o vento lhe soprasse a melodia de uma música e ela pudesse ir ao piano. Piano que não tinha. Quem sabe escrevesse algum poema, mas nunca escrevera um verso sequer. Quem sabe surgisse um grande amor, mas ela sabia que grandes amores não se esperam. ...
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23/11/2013 -
Princesa Iracema
Ela chega envolta de vermelho, com os cabelos longos e negros, cheirando a jardim de Mãe Iara. Princesa que não anda de coroa, mas com os pés no chão. Símbolo de humildade e amor, Iracema das águas, das águas de cheiro que perfumam o ar. Fonte daqueles que, como ela, tem sede de conhecimento. Iracema do sol que doutrina. Iracema dos enoques, das cachoeiras, das purezas. Iracema de tantas encarnações e de doces canções. Iracema decidida, de postura ímpar e séria, determinada a chegar onde quer. Iracema escrava, de espírito nobre, que lutou pra se libertar e se elevar. ...
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Comentários (3)
19/10/2012 -
Princesa Janaína
Se princesa Janaina quiser falar comigo, pode vir, estou aqui. Ela pode falar o que tiver para falar que eu vou segui-la até a Cachoeira do Jaguar. Princesa Janaina é da falange de Mãe Yara, odoyá Iemanjá, rainha das águas, mãe dos peixes, senhora do mar. Princesa dos olhos claros de alma negra chega até minha estrada e com calma se aconchega fazendo dela sua morada. Entre o sim e o não, que ela manipule as forças que se deslocam das Sete Raízes para a minha evolução. O que me falta no material, princesa Janaina me dá no espiritual....
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Principado
Depois do baile, quero encontrar teu rosto. Depois das músicas, teu vestido. Depois das linhas, teu texto mais íntimo. Talvez não me convide. Talvez me agrida. Mesmo com todos os riscos, quero encontrar teus últimos passos no salão vazio. Não sei se irei segui-los, mas quero encontrá-los. Quero encontrar tuas confissões pelos cantos, amordaçadas por algum capataz do silêncio. E quem sabe ainda dê tempo. Tempo de uma dança. Tempo de te ver dançar. Quem sabe a música não volte. Quem sabe algum compositor perdido na noite ou no fim da noite resolva se perder por ali. Talvez esteja cansada. Os cabelos talvez já estejam de outra cor. Quem sabe acabemos com a última nota. Quero encontrar teu sorriso após o baile. E se eu não souber dançar? E se não quiser conversar? Deixaremos nossos olhares num balé de silêncios como sempre fizemos. Olhos nos olhos. Silêncio. Os movimentos exaustos. O corpo amarrotado de cumprimentos. Ao fim das contas, o baile será teu. E depois daquela nossa dança de silêncio, com os olhos sonolentos, talvez queira um prato de talharim. Massa. Não conheci ninguém que gostasse tanto assim de massa. E mesmo com manequim de bailarina, certamente, tocará no assunto das dietas, dos regimes. Coisas de mulher. Mas logo jogará todas as regras e dogmas para o alto. Coisas da menina que nunca lhe deixara ou que você nunca quis deixar. Não sei. E, cambaleante de ilusão, sairá escorada na minha contradança. Num último ato, levaremos as últimas luzes do baile para a chama de uma vela solitária. Uma vela ardente dividindo a cor e o furor dos nossos olhares. E se houvesse vento a chama bailaria em silêncio nos olhos que sempre se silenciaram. Se houvesse vento...
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01/04/2016 -
Pro seu formigueiro
Segura no meu peito. Puxa meus cabelos. Se ajeita em mim do seu jeito. Dependura em meus braços. Fica perfeita na minha asa. Guia os meus passos para você. Suspira na minha lira. Mergulha no aquário dos meus olhos e se joga no meu eu. Nunca diga adeus. Parte meu ser em tantas partes até me carregar por inteiro, como formiga que leva mais dia menos dia uma árvore toda para dentro do seu formigueiro.
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