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Encontrados 254 textos. Exibindo página 17 de 26.
27/04/2016 -
Poesia não morre
Nunca tive medo da morte. Sou frágil sendo forte. Sou do sul, do meio, de dentro, do avesso, do norte. Tenho porte de cavalheiro na alma. Sou espírito afoito à procura da calma. Sou dor sem trauma. Sou pescador de fantasias. Sou ladeira, eira e beira, fogueira, vias e mais vias inteiras. Sou lua vazia, sou lua cheia. Sou candeia. Sou texto, sou verso, sou poesia. E poesia não morre. Corre para acontecer. Corre, corre para viver. Abra a porta, não importa se vai sofrer. Todo botão sofre para florescer. Todo carrilhão sofre para gemer. Todo coração sofre para bater. Todo sonho peleja para se realizar, e se não pelejou não valeu à pena sonhar. Quem sonha, quem ama, quem vive e não se enfadonha, não morre, como poesia apenas escorre.
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Poesia plena
Lá estava ela. Tão perto, ao alcance de minhas mãos. Engraçado... Eu que sempre a tive em rimas estava pela primeira vez diante de seus olhos. Eu que sempre a tive no papel acariciava pela primeira vez sua pele. Eu que sempre pedi que viesse, passei a pedir para não ir embora. Em quantos poemas eu desenhei sua boca em palavras sem nunca tê-la tocado. Em quantos poemas eu dancei em seus passos sem saber que passava descalça. Em quantos poemas eu falei da sua saudade sem que ela tivesse surgido na minha vida de forma tão nítida. Eu sempre achei que a encontraria. Sempre tive essa certeza dentro de mim. Por mais esquisito que isso possa parecer, essa certeza sempre caminhou comigo. Eu me assumi poeta quando tinha 17 anos. Desde então, foram anos a fio de uma espera louca até que ela me chegasse por completo. Nesses anos todos, sempre a tive em pedaços. Seja no papel ou em outras mulheres. Eu passei esses anos todos procurando seus olhos em outros olhos. Eu passei esses anos todos tentando um poema perfeito. E esse poema só foi me acontecer quando, pela primeira vez nesse tempo todo, vi-me frente a frente com ela - a mulher amada. Eu que escrevi tantos poemas ao longo desses anos todos, diante daquele encontro a única impressão era a de que nada fora escrito. Tudo era novo. Tudo era inédito. Tudo era começo. Por quanto tempo eu sonhei com o momento de encontrá-la. Por quanto tempo eu sonhei os olhares, o jeito, o perfume dessa mulher que me habita há muitos anos (presumo que ela nasceu comigo). Por quanto tempo eu sonhei os sonhos dessa mulher. Por quanto tempo eu sonhei a essência, em toda inocência e em toda indecência, dessa mulher. Por quanto tempo eu sonhei com um beijo dessa mulher. Por quanto tempo eu sonhei aquele beijo. Quantas páginas de papel eu deixei pelo caminho na tentativa de construir aquele beijo em estrofes. Poesias que falavam da temperatura, da textura, da pulsação, das cores, dos sabores, dos perfumes, dos movimentos, da umidade, das vontades, da velocidade, dos teores, dos efeitos e de tantos outros detalhes daquele beijo. E pensar que nenhum escrito meu jamais alcançou a intensidade daquele beijo. Os sete céus e todos os infernos de Dante se calaram naquele beijo. O mundo se revirou pelo avesso naquele beijo. Os anjos tiveram sexo naquele beijo. Uma bailarina deixou sua caixinha de música e rodopiou pelas ruas durante aquele beijo. Enquanto se dava aquele beijo, alguém deve ter tido a certeza de que em algum lugar o amor existe. E de fato, existe. Em todos esses anos, quando eu pedia inspiração eu chamava essa mulher que sempre me esteve próxima. Em todos esses anos, quando eu escrevia "mulher amada" em um pedaço de papel eu falava dessa mulher que há sempre me esteve próxima. Em todos esses anos, tentei descobrir o nome dessa mulher. E hoje, sei que ela se chama poesia. Em todos esses anos, suportei a solidão porque eu sabia que um dia a minha poesia se faria completa na beleza dessa mulher. Como eu sonhei com aquele encontro. E o beijo foi o ápice, a prova, o milagre. De uma vez por todas, a boca da poesia em minha boca, consagrou-me poeta. Sonhei. Sonhamos.
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13/10/2012 -
Poeta
Poeta viajante, poeta andante, poeta navegante, poeta cavaleiro dos temporais. Poeta prisioneiros dos amores surreais, poeta dos solteiros, dos apaixonados e dos casais. Poeta al dente, poeta fruto, flor e semente. Poeta da chuva, poeta do vento, poeta do leste e do sul. Poeta alma, poeta sentimento, poeta sem calma, poeta verde, vermelho e azul. Poeta das entrelinhas, poeta do destino, poeta das meninas, poeta do caminho, poeta das encruzilhadas, poeta das noites enluaradas.
Poeta das porteiras, das cancelas, das portas, das janelas, dos portões, enfim, poeta de tudo o que abre ao coração. Poeta dos carrilhões de sinos, poeta menino, poeta deus, poeta da chegada, poeta do encontro e do reencontro, poeta do adeus. Poeta da maré cheia, poeta da luz que clareia, poeta da paixão que tonteia. Poeta de um cheiro, poeta faroleiro, poeta malandro, poeta dos meandros, poeta das horas certas e incertas. Poeta por natureza, poeta de vocação, poeta para a beleza. ...
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02/08/2014 -
Poeta cigano
Sou poeta do coração cigano. Tenho mil desejos, destinos e planos. Não me importa o quão difícil será, o amor me é soberano. Sou poeta, sou cigano. Sou pele envolvida em fogueira. Sou soprado, atiçado e levado pelo vento. Sou a liberdade do sentimento. Sou paixão sem censura, sem barreira, sem frescura.
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Poeta da areia
O dia surge numa ausência sempre notada. Os caminhos se esparramam como desertos e toda aquela areia se remoí dentro de uma apertada ampulheta. Vejo caminhos nas alucinações que eu mesmo crio só para que eu possa continuar a caminhar. Seria tão bom se voltasse, mas devo seguir com uma mínima dose de lucidez. Mesmo que seja a mínima da mínima dose possível.
Às vezes, tenho e me detenho à nítida impressão que o tempo me prega algumas peças. Estou distante, longe, numa perspectiva praticamente impossível. Ao mesmo momento, parece que foi ontem. E mesmo passando os dias, parece que foi ontem. Ontem que nos deixamos, não porque queria, mas porque chega um momento que é preciso desdar as mãos. Um momento em que só permanece o que é realmente forte. E no momento decisivo, você não foi forte. Tempos depois, continuamos vivos. Mesmo com todo o deserto, não acabou....
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04/12/2013 -
Poeta-pâtissier
Se eu fosse um poeta-pâtissier muitos, muitos amores de chocolate eu haveria de fazer. Seriam beijos puros de cacau e, nos momentos mais doces, banhados ao leite. Nada de sorrisos meio-amargos, mas recheados de licor e de sabor e de calor. E assim teria vontade de comer (se lambuzando) meus poemas sem qualquer pudor, e com todo apetite. Seria um imenso prazer transformar seus olhos (que me olham como barras de chocolate) em bombons finos, preservando assim sua elegância e composição. Ah, manteria o perfume natural sem necessidade de utilizar quaisquer aromatizantes. ...
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12/02/2016 -
Poetas de pedra
Ah eles chegaram e se apossaram do que eu sou. Foram pegando a minha vida, os meus amores, a minha lida e nada mais ficou como era... feito canteiro antes e depois da primavera. Ah eles chegaram e mudaram o meu destino. Eu, o menino, soltador de pipa, papagaio, maranhão, fazer de gol, lançador de pião, tive que ser o puxador de caminhos, o linho que recebe calado a linha, o galo que abandona a rinha. Deixei de ser moleque, pivete, para ser algo a mais que eu não sabia. E quando tudo se apagou outro dia se iluminou e eu me vi poesia. Ah eles os poemas chegaram e se apossaram do que eu sou. Foram me tomando e me fazendo amar de um jeito que eu não podia imaginar. E eu descobri, senti e vivi sentimentos tão novos, intensos, propensos à eternidade que eu em pouco tempo cai em outra realidade. E depois da queda em mim, levantei meio assim-assim e vaguei pela cidade dos poetas de pedra.
Comentários (1)
Pombal
São dezenas. São centenas. São milhares de pombos. Pombos do ar, da cidade, das migalhas. Pombos que infestam as praças. Pombos que se assentam nos fios da eletricidade. Pombos brancos, pombos pretos, pombos acinzentados, pombos esverdeados, pombos machados, pombos mesclados, pombos riscados, pombos sujos e imundos, pombos contagiosos e epidêmicos. Pombos que comem grãos, frutas, sementes e lixo. Pombos de coco verde e mal cheiroso que tingem o asfalto, as camisas dos executivos que passam e os cabelos das moças que namoram no meio da rua....
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05/01/2010 -
Ponta do mar
É na ponta do mar que os pescadores casam suas histórias. É na ponta do mar que as redes se enroscam. É na ponta do mar que os peixes namoram. É na ponta do mar que as sereias capturam suas vítimas. É na ponta do mar que as ostras fazem as pérolas mais bonitas. É na ponta do mar que os veleiros queimam como parafina. É na ponta do mar que os náufragos pedem socorro. É na ponta do mar que a vida se divide como uma estrela, entre luz e escuridão.
É na ponta do mar que a maré enche. É na ponta do mar que o tubarão espreita. É na ponta do mar que o cardume tinge o azul. É na ponta do mar que surfista tira onda. É na ponta do mar que baleia encalha. É na ponta do mar que Netuno fincou moradia. É na ponta do mar que tem arraia e enguia. É na ponta do mar que as algas descansam. É na ponta do mar que as ondas quebram. É na ponta do mar que o sol se banha. É na ponta do mar que o mistério começa....
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Ponte
A noite manchara os lábios de uísque e os delírios corriam à solta. Diante dos olhos, o horizonte de uma ponte na seminudez de três arcos de concreto. De uma ponta a outra da cidade, a ponte se lançava sobre um lago que era mais escuro do que a própria morte. Um lago de águas calmas, aquietadas como se uma lembrança na escuridão do esquecimento. Os pés tocam a ponte sem maiores pretensões. De repente, como se o vento encontrasse a brisa no meio da ponte, ela se encontra com um espelho. Ela vem com os saltos salpicando a ponte. Fuma uma fumaça fina e joga as cinzas do cigarro no lago. E nem se preocupa se queima as cristas daquelas águas negras. ...
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