Daniel Campos

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Encontrados 278 textos. Exibindo página 8 de 28.

17/10/2013 - Ouça bem

Ouça a lua em cada uma de suas fases. Ouça as estrelas em cada uma de suas pontas. Ouça as pedras em cada uma de suas lapidações. Ouça os insetos em cada uma de suas profecias. Ouça os pássaros em cada um de seus vôos. Ouça as mulheres em cada um de seus sapatos. Ouça as criaturas extintas em cada uma de suas lembranças. Ouça as bruxas em cada um de seus feitiços.

Ouça a água em cada uma de suas corredeiras. Ouça a terra em cada um de seus tremores. Ouça os antepassados em cada um de seus passados. Ouça as noivas em cada uma de suas caudas. Ouça os travesseiros em cada uma de suas confissões. Ouça os espelhos em cada um de seus reflexos. Ouça as rodas em cada uma de suas voltas. Ouça o silêncio em cada uma de suas infinitas faixas. ...
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13/10/2013 - Olhação

Olhos azuis, olhos de luz, olhos sem capuz, olhos pregados na cruz, olhos de jesus. Olhos pretos, olhos sem defeito, olhos eleitos, olhos de leito, olhos direitos, olhos estreitos. Olhos verdes, olhos de redes, olhos sem paredes, olhos com sede. Olhos castanhos, olhos de estanhos, olhos estranhos, olhos sobrehumanos, olhos de enganos...

Olhos de mel, olhos de docel, olhos de papel, olhos de fel, olhos de rapunzel. Olhos cinzas, olhos de ninjas. Olhos amarelos, olhos de rastelos, olhos de farelos, olhos de caramelos. Olhos marrons, olhos de semitons, olhos de neons, olhos de sons. Olhos vermelhos, olhos de apelos, olhos de espelhos. Olhos mistos, olhos quistos, olhos bonitos, olhos infinitos...


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30/09/2013 - Outro tempo

Eu queria ter chorado no Olympia com Edith Piaf. Eu queria ter bebido um uísque, ao menos um uísque, com Vinícius de Moraes. Eu queria ter aplaudido Paulo Autran, olhos nos olhos, de pé. Eu queria ter conversado, numa prosa onde mais escutaria do que falaria, com Tia Neiva. Eu queria ter aprendido as pedras do caminho com Carlos Drummond. Eu queria ter caminhado no Jardim Botânico e depois pelas teclas do piano ao lado de Tom Jobim. Eu queria ter subido o morro de Mangueira pelas mãos de Cartola e Cavaquinho. Eu queria ter pegado o trem das onze com Adoniran. Eu queria ter marchado impulsionado por Chico e Caetano. Eu queria ter tomado um café com Fernando Pessoa. ...
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13/09/2013 - O homem sem remorso

O homem sem remorso é movido pela falta de arrependimento. Faz a guerra, a fome, a saudade sem se sentir mal por isso. Não importa o que falem ou pensem os outros, ele tem a sua própria lei. E em suas sentenças, ele é sempre inocente. Está sempre livre para trazer a tragédia à tona das mais diferentes formas. O homem sem remorso está imune aos dramas de consciência. É surdo ao falatório do travesseiro e dorme como criança.

O homem sem remorso fere, mata, trai sem sentir dó ou pena. Ele é um homem de execução e não de reflexão. Avança sempre em direção ao resultado desejado, independentemente da estrada que terá de percorrer. Está disposto a tudo para conseguir o que quer. E, por ter seu preço, faz jus a ele. O homem sem remorso tem a frieza de um câncer, que se alastra sem ouvir choro, gritos, preces... O homem sem remorso não para, não pensa, não volta atrás.


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10/09/2013 - Oitiva

Por onde você andou? O que você fez e deixou de fazer? Que marcas são essas? Você encontrou dono ou ainda voa livre por esses céus ciganos? Você ainda chora? Se a resposta for positiva, quais os motivos? São os mesmos de ontem? Você ainda se vê no espelho como antes? Você ainda se reconhece? Seu autorretrato tem mais erros ou acertos com o que você sonhava dez anos atrás?

Quanto de você ficou pelo caminho? Quanto do que ficou você tentou pegar para si novamente e não conseguiu? E quanto de si jogou fora sem remorso ou pudor? Seus pecados foram perdoados ou agravados? Faz mímica tentando decifrar o que o seu corpo quer? Para quem você sorri? Para quem você olha? Para onde vão suas palavras? Ainda dança com a própria sombra? Ainda dá adeus antes de chegar?


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06/09/2013 - O tempo do amor

De quantos dias depois de lançado a terra o amor precisa para romper a casca e germinar? De quantas semanas depois de rasgado o amor precisa para ser colado por completo? De quanto tempo depois de partir o amor precisa para voltar? De quantos segundos depois de uma briga terrível o amor precisa para perdoar?

De quantas frações de segundo depois de um beijo o amor precisa para incendiar? De quantos meses depois de esquecido o amor precisa para voltar ao auge? De quantos anos depois de replantado o amor precisa para voltar a dar frutos? De quantas viradas de ampulheta depois de ser jogado ao vento o amor precisa para se reencontrar? ...
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03/07/2013 - O sol nascerá

Em algum lugar, perto ou longe daqui, o sol nascerá. Nascerá com todo calor no ardor de pimenta malagueta. Nascerá vestido de brilho, radiante, em pleno carnaval. Nascerá no estribilho de uma canção sideral. Nascerá do amor entre deus e a lua. Nascerá em berço estelar. Nascerá para dourar as asas dos pássaros que voam sobre as nossas casas. Nascerá diante dos olhos de uma astronauta distraído. . Nascerá cumprindo as escrituras e cingindo novos profetas. Nascerá livre de tratados ou tendências. Nascerá num parto explosivo. Nascerá dos passos de uma bailarina suburbana que dança com sapatilhas de vagalume. ...
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26/06/2013 - Oswaldo mago Montenegro

Há imagens que, de imediato, reviram a memória, trazendo emoções e lembranças ainda desconhecidas. Oswaldo Montenegro, com aqueles olhos negros que contrastam com a brancura de seus cabelos longos e da barba por fazer, traz à tona o sentimento de um mensageiro. Mais do que uma condição, estar de passagem para Oswaldo Montenegro é uma sina. Uma espécie de cavaleiro que passa a pé. A montaria, no caso desse trovador, é o tempo. O tempo que, ao seu comando, anda para trás e para frente, e até para o lado ou para cima e para baixo, ou para direções ainda não descobertas, com a mesma fluidez. Parece mágica, mas é Oswaldo Montenegro, que se vestiu de cigana para cantar o sol. ...
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18/06/2013 - Os gostos de junho

Entre quadrilhas e barracas de pescaria, tem paçoca, tem bolo de milho verde, tem pé de moleque, tem canjica de coco e de amendoim. Os beijos dos casais juninos têm sabor de vinho quente, de quentão, de chocolate quente. Tem baba de moça de moça caipira. Tem pamonha, milho cozido, pipoca e curau direto da roça. Tem bolo de fubá, tem broa, tem bom-bocado correndo solto pelo arrasta-pé. Por entre paletós remendados e cabelos trançados, tem pão com molho. Tem pé de doce de abóbora e de doce de batata-doce. ...
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08/06/2013 - O seu amor?

O seu amor multiplica ou subtrai? O seu amor desperta ou adormece? O seu amor faz rir ou chorar? Seu amor fica ou vai? Seu amor lembra ou esquece? Seu amor é de fugir ou de enfrentar? Seu amor levanta ou cai? Seu amor se agiganta ou se apequena? Seu amor é prosa ou poema? Seu amor é fixo ou corrente? Seu amor é real ou miragem? Seu amor é frio ou quente? Seu amor é de covardia ou de coragem? Seu amor é alegria ou felicidade? Seu amor é passageiro ou tatuagem? Seu amor é expectativa ou saudade?
...
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