Daniel Campos

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Encontrados 45 textos. Exibindo página 5 de 5.

Iroko i só! eeró! (trecho I)

"Iroko i só! eeró!
Ao contrário de um costumeiro olá, boa tarde, como vai... Iroko i só! eeró! É assim que aquela senhora de sorriso envelhecido como os óleos de uma natureza morta saúda e gosta de ser saudada. Só que essa saudação não acontece à capela e sim acompanhada do longo rangido de uma porteira, que mesmo com algumas de suas vértebras trincadas pelo tempo, dava acesso à entrada principal e única da chácara daquela mulher que leva um colar de contas verdes musgo e riscadas de marrom em seu pescoço magro. O cenário, com um quê de Hitchcock e outro de Dostoievski, é um prato cheio para os amantes do cinema e da literatura. ...
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Iroko i só! eeró! (trecho II)

"O sol continua escondido entre nuvens negras e longas quando ela me convida a entrar, agora dentro de sua casa. Mas o vento não dava indicações de chuva. Além de soprarem do sul, tinham um sabor seco. Ao terminar o último dos seis degraus, mais uma vez, minhas retinas se dividem entre luzes e sombras. Na sala da casa sem forro, dezenas e dezenas de velas. Velas coloridas. Toda aquela parafina queimada causa um cheiro que chega a queimar as narinas. Não consigo encontrar televisão, aparelho de som, abajur... Enfim, não consigo encontrar o menor sinal de energia elétrica. Apenas as velas. Uma poltrona forrada de pano verde e um sofá cinza de três lugares tratam de povoar a sala. Em destaque, sob um móvel escuro, uma escultura de Iroko, entalhada em madeira de gameleira. Iroko era o orixá daquela mulher que podia ter muitas preocupações, menos a de varrer a casa. Espalhadas pelo chão, uma infinidade de folhas secas da tal árvore da porteira. O vento deveria ser forte para trazê-las até ali."


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Iroko i só! eeró! (trecho III)

"Eu sou de Iroko
Iroko não falha
Eu sou de Iroko
Iroko não falha

Conforme a velha cantava, o vento trazia o som de tambores. Plutão, Vladimir, e os dois vira-latas, seguem atrás em feitio de cortejo. Não havia latido nem miados. Só um vento forte que deitava capins, levantava folhas e trazia sons de tambores. Podia ser batidas vindas do sítio vizinho, mas mãe Zizinha, depositando o vaso aos pés da árvore, garantia que aquele som vinha de um terreiro do Rio de Janeiro, onde ela era ialorixá. Ela havia fechado o terreiro para viver só com Iroko, mas os tambores continuavam. E aquele vento era a manifestação do amor de Iroko por ela. ...
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Iroko i só! eeró! (trecho IV)

"Bruxa, meia diabo, meia mué, Deus te dá cabo, dá cabeça aos pé. Na minha casa tu não hás de vir, nem onde nenhuma criança estiver. Em nome de Deus e de Nossa Senhora de Aparecida. Amém.

Era assim que Dona Leontina, uma senhora grandes olheiras, rezava toda vez que era obrigada a passar perto de mãe Zizinha.

Essa mulher é a coisa ruim em pessoa. Sinto minha espinha arrepiada toda vez que ela se aproxima. Uma vez ela passou lá em casa, vendendo seus bordados, eu não quis comprar. A expulsei de lá. Você acredita que no que ela virou às costas, um pé de rosa vermelha que eu tinha na frente de casa secou. Foi num piscar de olho. Nunca vi coisa daquela. Graças a Nossa Senhora Aparecida ela nunca passou do portão lá de casa. Sabe moço, teve gente que a convidou para entrar e a família inteira morreu"....
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Iroko i só! eeró! (trecho V)

"Com um vestido azul e uma sandália rasteira dona Olga pega um terço de contas grandes e começa a rezar. Silêncio. Falso silêncio. Os murmúrios de dona Olga parecem se comunicar com o choro da pequena Eduarda. Estamos todos em pé no centro da sala de dona Olga, que tinha um crucifixo de madeira na parede e algumas imagens de santo. São José. São Bento. Santo Antônio. São Francisco. E várias imagens da Virgem Maria. Ao lado de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Graças e Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Embora de tamanhos e estilos diferentes, as imagens ficavam sob uma mesinha de pernas de pau em um dos cantos da sala."...
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