Ou exibir apenas títulos iniciados por:
A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todosOrdernar por: mais novos
Encontrados 207 textos. Exibindo página 3 de 21.
12/04/2016 -
Do que não tive
Molhei as plantas. Dei banho nas crianças. Adiantei o almoço. Acendi uma vela aos pés da santa. Renovei as esperanças. Presentei o cachorro com um belo osso. Liguei a televisão, o rádio, o computador, o celular, o liquidificador, o ferro de passar, a máquina de lavar, o carro e parti. Com um beijo da boca que mais amo me despedi. Ganhei às ruas inventando novos velhos caminhos. Nem chorei, nem sorri. Por um momento, senti-me um trem sem trilhos. Porém, logo a gravidade me trouxe de volta. E o que é a realidade senão essa coisa que vem e não solta? O carrilhão de sonhos me provoca. E a saudade do que não tive me sufoca. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
08/04/2016 -
Das pedras às estrelas
Hoje eu me sinto mais forte, tão forte que já nem penso na morte e no que há de vir entre o agora e o ponto final, que, na verdade é vírgula ou reticências. Hoje eu me sinto bem como há muito não sabia, pronto para encarar, lutar, superar. Hoje apartei-me do medo, de qualquer medo de viver, e estou pronto. Pronto para seguir em frente, para acontecer diferente, para fazer valer a pena. Hoje eu tenho em mim todo o sonho, todo o amor, toda a beleza, toda a vitalidade que cabem em um poema. Hoje eu sou de todo lugar e não sou de lugar algum. Hoje nenhuma corrente me prende, nenhum nó me ata, nenhum olhar enviesado me fere. Hoje eu estou para além dos limites, das metas, dos padrões. Hoje estou livre e assim me sinto por completo. Sou cada vez menos pedra, cada vez mais nuvem. Um dia, quiçá, não só sonharei, mas comungarei das estrelas que me alimentam, me guiam e me clareiam.
Comentários (1)
02/04/2016 -
Descrença
Nunca mais tive seu cheiro em meu corpo, tampouco seu tempero na minha boca. Tão pouco tive mais nada de você. Nem notícias, nem suas divagações e falações fictícias. Continuo sólido, você oca. Nunca mais tive seus desarvoramentos, seu coração afoito em minhas mãos. Meus problemas, dilemas, teoremas já não a interessam mais. Fiquei, como sempre estive, sozinho procurando cegamente o meu caminho. Não sabe mais por onde ando. É indiferente se eu acerto ou desando. De uma hora para outra, deu o fora, partiu, sumiu, deu no pé. Até ontem era minha mulher, hoje já não sei o que é. Da fé à descrença num piscar de olhos. Minhas crenças, seus óleos.
Seja o primeiro a comentar
03/03/2016 -
Des(embaraços)
Pendura a sua sanidade na minha loucura. Borda com ponto em cruz nas nossas linhas amarrando a saudade. Cura meus traumas e acalma as minhas paixões de rinha. Espora as minhas solidões e ora aos meus senões. Toca a minha intimidade, provoca o meu instinto. Fala ao que eu sinto. Migalhe pão pelo meu labirinto. Acredite no que eu minto. Grite de sentimento, colocando as palavras ao vento. Encontro de almas, de braços, de passos. Que venha o tempo e os seus (des)embaraços.
Seja o primeiro a comentar
17/02/2016 -
Desavisada
Olha meu bem o que você está fazendo; Eu já vou quase morrendo de tantas incertezas. Com um pé na lua e outro na soleira da sua janela, vou buscando respostas. Será que gosta de mim a ponto de subverter a ordem do princípio, meio e fim. Será que vai contra a natureza e as naturezas de cada um de nós para ir afrouxando os nós para nos ter mais pertos um do outro. Será que é capaz de amar entendendo que o amor junto é o amor solto. Será que as suas comédias vão rir das minhas tragédias? E onde estaremos nós quando a realidade nos descobrir, levando os nossos lençóis. Quantos degraus você é capaz de subir para chegar ao limite de um sentimento que já arranha o céu? Quanto é capaz de ir além, meu bem, por algo que não controla? Reveja o seu papel na minha vida, pois não quero amor como esmola. Dou bola para a despedida que aconteceu antes da chegada enquanto você olha tudo e não vê nada, como se a trajetória do mundo tivesse parada.
Seja o primeiro a comentar
16/02/2016 -
De colherada, dona Geralda
Dona Geralda se esbalda num tacho de goiabada. Vai metendo a colher, raspando fundo no fundo do caldeirão. Dona Geralda enche a boca e se saciada diz que não. O que ela quer? O que ela quer é ser mulher de tacho, se afogar no doce, chorar quem não a trouxe carinho sem dar esculacho pelo caminho. Dona Geralda enche a colher e se faz mulher de calda que vai açucarando e atiçando o olhar. Dona Geralda sabe comer e rebolar. Quebra Dona Geralda e dá queda na meninada que não acompanha a sua colherada. Dona Geralda sobe no pé de goiaba e bota lenha num fogo que nunca acaba. Mexe para lá, mexe para cá, olha a goiabada debaixo da saia, na taia do tacho de Dona Geralda, por favor, é para comer de se lamber, comam com amor e lambam a colher do jeito que for.
Seja o primeiro a comentar
02/01/2016 -
Dois em um
Vamos juntos, um pelo outro, outro pelo um. Caminhos cruzados. Amores potencializados. Encontro de ondas que vão se formando, se aumentando e se quebrando juntas. Cordas da mesma viola. Páginas de um livro escrito a quatro mãos. Linhas sobrepostas. Rios que se encontram e correm juntos. Flores que se misturam em polens, cores e perfumes. Nuvens que se esbarram e de dois desenhos fazem um só. Assim somos nós, um em dois, dois em um.
Seja o primeiro a comentar
29/12/2015 -
Dias equivalentes
Já foi o Natal. Ano-Novo em aí. Mas já tem gente com a cabeça no Carnaval. E ninguém se lembra mais do Dia de Reis. Comemora-se isso e aquilo, mas datas são apenas datas. Dias datados. Caminhamos pela estrada e cada passo deixa uma espécie de rastro. Umas ficam mais fundas, visíveis, definidas que outras, mas nem por isso há uma mais importante, pois se uma delas não existisse uma dada caminhada não seria possível. Assim é com o ano. Há muitos holofotes sobre determinadas datas, mas todos os dias são equivalentes. É de dia em dia que se faz um ano. É de história em história que se escreve uma vida.
Seja o primeiro a comentar
26/12/2015 -
Dona saúva
Lá vem dona saúva trilhando pro formigueiro. Vem cantando e requebrando com um pedaço de folha de coqueiro. Lá vem dona saúva batendo antena com outras formigas avisando da chuva. Vem num balançado sincopado de se pedir socorro. Lá vem dona saúva subindo morro, fazendo curva. Vem trabalhando e se dando à rainha. Lá vem dona saúva apaixonada por um guerreiro e sozinha. Vem com o coração batendo forte pros lados do norte. Lá vem dona saúva temida, de bem com a vida, sem medo da morte ou da lida. Vem faceira, bordadeira das roseiras, cortadeira de goiabeira. Lá vem dona saúva carregando chegadas e despedidas como se carregasse uma doce uva.
Seja o primeiro a comentar
13/12/2015 -
Deixados
Deixei na sua casa uma rosa amarela e uma carta com aquela letra que você não entende mas sabe tudo o que está dito e redito e bendito. Podia ter deixado um vestido, um pão amanhecido ou um cabrito, mas deixei uma rosa amarela bem na sua janela e uma carta daquelas difíceis de ler e esquecer. Deixei todas as partes dos meus amores nas asas dos condores que circundam o céu da sua casa. Deixei mentiras pelo jardim e verdades cá dentro de mim esperando você vir buscar. Deixei estradas abertas só para você passar. Deixei noites de luar polvilhadas de vagalumes e ciúmes. Deixei corações invisíveis por aí para você descobrir aos poucos. Deixei o mais louco dos meus mundos para você habitar, aquele que não tem regras e não sossega de amar a coisa amada.
Comentários (1)