Arquivo
2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008
jan | fev | mar | abr | mai | jun | jul | ago | set | out | nov | dez |
Encontrados 60 textos de maio de 2016. Exibindo página 6 de 6.
05/05/2016 -
Ressaltando
Viola não se aprende na escola. Amor não se cura na farmácia. Taxista bom não fica parado na praça. O artilheiro não é o dono da bola. Só pode ser feliz quem já provou o que é ser infeliz. Um cachorro nunca vai embora. De nada vale o para sempre se ele já não existir agora. Não importa o que não foi por um triz. Não importa o que você quis. Importa o que você pede bis. Um porta-retratos não mente. Só é ausente quem nunca deixou de ser presente. Saudade é termômetro de querência. Só quem nunca pecou tem medo de penitência.
Seja o primeiro a comentar
05/05/2016 -
Banco de areia
O meu navio
Chegou ao teu banco de areia
Encalhou
E por um fio
Não ficou ali até na maré cheia
Não tinha rebocador
Que fosse capaz de me tirar
Desse amor
E por mais que a corrente
Quisesse me levar à frente
Eu ficava ioiô
O meu navio
Chegou ao teu banco de areia
E meu deu arrepio
E meu deu calor
Um suador
Que nem a lua cheia
Explicou.
Seja o primeiro a comentar
04/05/2016 -
Caminha por dentro
Caminha por dentro. Por dentro de mim. Caminha de um jeito. De um jeito enfim. Caminha em minhas entranha enquanto me assanha no seu carmim. Caminha, caminha pelo confim do meu eu. Caminha num caminhar mais-que-imperfeito, pois é na imperfeição que mora o perfeito. Caminha pelas minhas luas interiores, pelas minhas ruínas, pelos meus amores. Caminha brincando com as linhas do meu destino. Linhas que cruzam meu velho, meu menino, meu poente, minha nascente. Caminha pelos meus ladrões, porões, grotões. Caminha sem pensar no que será. Caminha o agora. Caminha e se tiver vontade, chora, esperneia, volteia, mas siga caminhando por dentro. Caminha pelo meu oco, pelo meu falso oco, onde se aninham minhas aves de sentimento.
Seja o primeiro a comentar
04/05/2016 -
Caborge
E quando a lua
Chora orvalho
Pela falta de Jorge
O universo insinua
Num tal de caborge
A noite menstrua
E o mar
A la Zé Ramalho
Toma a rua.
Seja o primeiro a comentar
03/05/2016 -
O último amor
O último amor é sempre o primeiro amor, pois ainda é o primeiro em suas prioridades. Primeiro em saudade. Primeiro em antirealidade. Primeiro em calamidade. O último amor impregna como um perfume cuja fixação extrapola qualquer limite ou imaginação. É fruta madura que teima em não cair do pé. É a catarse da fé. É jardim que mesmo no inverno profundo flori, floreia, floresce zombando do mundo. O último amor nos prega peças. Por isso, não me peça para ser meu último amor, pois é doação mais que completa, é vontade de morrer vivendo por completo, é o ligamento entre o chão e o teto, é a série de tentativas de contornar o despedaçamento. A separação que o dista do último amor é contada em um tempo que rompe com o cronológico e o psicológico. É um tempo de manicômio, indo pra frente e pra trás, fugindo de regras e padrões, é o tempo secreto dos corações. O último amor é sempre o primeiro a doer, a dar esperança, a atiçar o choro, a te transformar numa criança no que diz respeito à necessidade de colo e inocência. Nada me faz ceder mais do que o último amor, que consegue de mim tudo o que quer. O último amor, no meu caso, que foge de todos os acasos, é sempre a minha mulher.
Comentários (1)
03/05/2016 -
De que lado do espelho
Lá estava você no fundo do espelho
Como que querendo me imitar
Seu silêncio ardil e contumaz
Seus olhos de escaravelho
Sua insistência em me dominar
Olhando não sabia quem era real
Olhando quem seria imagem
Olhando quem seria reflexo
Especial, confundia a paisagem
Era côncava e eu convexo.
Seja o primeiro a comentar
02/05/2016 -
Muda seu olhar
Muda seu jeito de ver a si mesmo. Veja o que é de dentro para fora. Enxergue-se pelo avesso. Não importa se terá apreço ou não pelo que verá, se irá encontrar tudo em seu lugar, mas debruce seus olhos sobre o caos que se tornou. Pare de procurar perfeições, calmarias, belezas e alegrias. Tudo isso existe, mas não é só. Olhe para suas confusões, para suas aflições, para suas turbulências. Até mesmo o santo para ser santo passou por penitências. Vá fundo em suas confissões. Ninguém é totalmente côncavo ou convexo. Espelho algum traduzirá sua verdade. O seu verdadeiro reflexo é o seu nexo. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
02/05/2016 -
Meus rostos nos seus
Minha mulher não tem um rosto
Tem tantos
Nos quais me perco e me encontro
Numa mulher sempre nova
Inédita
Pronta para me surpreender
Não é santa nem bandida
Mas tudo isso e muito mais
Em doses, jogadas e encaixes
Que desmontam meu quebra-cabeça
Que colocam rei e rainha em xeque
Que me levam às estrelas e ao chão
Com um ponto em comum:
Intensidade
Leoa em corpo de beija-flor
Asas e garras...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
01/05/2016 -
Eu e as serpentes
Era eu
Inocente
Querendo ter veneno
Para participar do banquete
Era eu
Foguete
Querendo ser pequeno, sobra,
Para caber nas presas das cobras
Era eu
Solitário
Querendo ser junto, conjunto
Duas partes de um relicário
Era eu
Diferente
Querendo ser igual, tal e qual,
Aquelas malditas serpentes
Era eu
Apaixonado
Querendo abrir mão dessa grandeza...
continuar a ler
Comentários (1)
01/05/2016 -
Juntada
Junta as partes que eu te dei e me terá por inteiro. Recolha os pedaços que eu deixei e me fará, novamente, para além dos estilhaços. Cola os corações rasgados que me fizeram passado-imperfeito-do-futuro e se regozija lembrando dos nossos nomes lado a lado pichados no muro. Recupere os beijos perdidos, os abraços esquecidos, os corpos aquecidos um no outro, o tempo em que não andávamos tão soltos. Relembra cada gemido, cada sussurro, cada urro, cada vez que te fiz amada e mais amada, cada vez que não dei nosso destino como lido, cada vez que fui seu herói-menino, seu caubói, seu virgulino lampião disposto a morrer por sua maria bonita no sertão de todos nós. Cate cada hora aflita, vá bordando, arrematando, dando nós que mais dia menos dia, por milagre ou magia, juntará os sós, os sóis, os sóis, os sóis...
Comentários (1)