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Encontrados 62 textos de março de 2016. Exibindo página 6 de 7.
06/03/2016 -
Asas e raízes
Olha bem, esses meus braços são asas
Atrofiadas pela dor de não poder voar
Por não se contentar com águas rasas
Minha língua inquieta busca o profundo
Do mundo no palavreado do poeta
Meus pés, minhas pernas são raízes
Arrancadas da terra. Berra meu coração
O silêncio, a promessa, a imaginação
Em tantos e quantos milhões de matizes
Minha cabeça rodando segue aberta
Tal e qual o sexo dos anjos distraídos
Meu corpo feito de barro, de reboco...
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06/03/2016 -
Luz, luz
Luz, pássaros azuis iluminando as ruas. Luz, luz das luas. Luz, luz de todas as idades num brilho jovem e amadurecido, recém-nascido ou envelhecido. Luz, luz que cobre a cidade. Luz, cometas nus passando sobre os prédios. Luz, luz da cura, dos santos remédios. Luz, luz que vem do espaço. Luz, luz das estrelas de tantas pontas e pontes. Luz do amanhã, luz do ontem. Luz, luz das ondas de energia que vão alumiando o dia. Luz, luz para espantar as sombras. Luz, luz que se espalha pela ventania, pelas ramas. Luz, luz que arromba as trancas dos nossos porões. Luz, luz que entra nos grotões iluminando nossas tramas. Luz, luz que alivia. Luz, luz que bota para correr os pensamentos macabros. Luz, luz dos olhos de candelabros. Luz, luz que vem do alto. Luz, luz das matas, das cascatas, dos pirilampos que se atrevem pelo asfalto. Luz, luz das candeias. Luz, luz das horas cheias. Luz, luz da prece que acalma. Luz, luz, luz que aquece a alma.
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05/03/2016 -
A mula que leva o tempo
A mula que leva o tempo em seus jacás nunca empaca. Ela vem com um passo firme e passa por onde nem imaginamos ser possível chegar. A mula ataca ribanceiras, ladeiras, precipícios, indícios de impossibilidade, de irredutibilidade e de irresponsabilidade. Atente ao que faz com o seu tempo. Tente viver entre o amanhã e a saudade de um jeito totalmente diferente. Avance e não canse com as pedras. A mula que leva o tempo em seus jacás há de seguir independentemente das tormentas, do que venta, cai e troveja. Veja que a direção aponta para frente. Toda semente jogada na terra um dia há de brotar. E quando esse dia raiar sementerá um novo velho sempre tempo. O tempo que está em todo lugar, no alto céu, no fundo mar, nos jacás da mula que o leva, no magnífico ventre da semente que rasga, parte, escapole da casca dura como uma dura certeza – de que o tempo virá em completa beleza e que ninguém o segura porque o tempo é correnteza que tudo carrega e ninguém sossega.
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05/03/2016 -
A jararaca está viva
Eis que a jararaca está viva
E ainda sibila altiva e forte
Enrolando a própria morte
Serpenteia pelo engodo
Da sua cruel existência,
Escamoteia de tudo e todos
Como se estivesse além
De qualquer penitência.
Vem jararacando impunidade
E raspa seus crimes no chão
Corrompendo a realidade
Que há entre o herói e o vilão,
Abarca os seus pares e prega
Que enfim trocou de casca
Quando só voltou à original....
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04/03/2016 -
Mulher de lótus
Mulher, o que esconde nessa boca de romã? Será o melhor de ontem ou o que guarda para o amanhã? Seja o que for, mulher, todo mundo quer provar o que leva em sua língua portuguesa. Quanto de realeza ainda existe no seu olhar triste, que vai derramando mares inteiros em seus lábios ora pálidos ora corados? E eu, cálido de desejos, e de outros beijos nunca dados, vou de boca em boca à procura da mulher que marca a alma de batom. Marcado, como que sangrando uma tatuagem feita a ferro e fogo, vou pelo lodo da existência procurando, clamando, esperando pela flor de lótus que se abre na boca de uma mulher que vive entre o pecado e a inocência.
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04/03/2016 -
Entardecimento
O sol, bêbado, já não aguenta mais ficar de pé
E, trôpego, vai caindo por entre os prédios
Que já arranham o céu mais escuro da tarde
Insólita. A lua mulher, como só ela, no tédio
Da hora ausente, ainda se arruma e já arde
Na expectativa da noite que já há aguarda
A guarda-real do sol caiu e o reino está vazio
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03/03/2016 -
Des(embaraços)
Pendura a sua sanidade na minha loucura. Borda com ponto em cruz nas nossas linhas amarrando a saudade. Cura meus traumas e acalma as minhas paixões de rinha. Espora as minhas solidões e ora aos meus senões. Toca a minha intimidade, provoca o meu instinto. Fala ao que eu sinto. Migalhe pão pelo meu labirinto. Acredite no que eu minto. Grite de sentimento, colocando as palavras ao vento. Encontro de almas, de braços, de passos. Que venha o tempo e os seus (des)embaraços.
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03/03/2016 -
Eu assim
Eu não sou certo
Nem errado
Não tenho teto
Nem chão
Eu sou alado
E vou fundo
Na imaginação
Vim do espaço
O meu mundo
Sou eu que faço
À minha moda
É do interior
Onde o amor
Ao sol acorda
Não sou perfeito
Sou das entradas
E de tantas saídas
Eu sou ao jeito
Das idas e vindas
Vou nas chegadas
Venho nas partidas.
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02/03/2016 -
Colares de um mesmo pescoço
Firma teus passos nos meus e vamos pela estrada alongada da imaginação não querendo mais nada a não ser você e eu. Vamos cavalgar no louva-deus, morar numa ostra, nos servir um ao outro na nossa melhor louça. Vamos juntos, em conjunto, num só assunto falando de amor. céu e condor, onda e concha, pinta e onça, veneno e cobra, fartura e sobra, assim somos nós complementares, elementares, colares de um mesmo pescoço. Carne e osso, pó e poeira, fogo e fogueira. Um unido ao outro num querer que não nos deixa solto.
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02/03/2016 -
Época de quê?
Época de figo, desista
Eu não ligo
Se for de jiló, insista,
Tenho dó
Época de goiaba
De jabuticaba
De marmelada
Vem toda bonita
Doce e mulher
Da estação
Pois fico romântico
Época de pitanga
Pelos matos
Ovaciono
E me apaixono
Meu coração
Quântico
Fica aos fiapos
Como manga
Chupada no pé
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