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Encontrados 62 textos de março de 2016. Exibindo página 2 de 7.
26/03/2016 -
Um pedaço
Um dia, num futuro nada distante,
Verá que o pedaço de mim que te dei
E com frieza e indelicadeza desprezou
Por achar deveras pouco e tão inútil
Será maior, muito maior, que o todo
Que se tornou com sua insaciedade
E justamente aquele pedaço rejeitado
Será a peça que faltará para sempre
Para completar o seu quebra-cabeça,
O seu destino, a sua sonhada felicidade
Não rogo pragas, tampouco tristezas
Para quem quer que seja, mas a beleza...
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26/03/2016 -
Para reflexão
Se, por acaso, deixar de ver, qual deseja ser sua última visão, aquela que ficará para sempre gravada com uma nitidez absurda no fundo de suas retinas?
Se, ao acaso, deixar de ouvir, que barulho, que voz, que música, quer que continue ecoando pelos seus ouvidos como o último som que ouviu?
Se, num caso, previsto ou não, deixar de falar, qual quer que seja a sua última frase, a quem vai destinar o seu derradeiro texto, a sua palavra final?
Se, num ocaso, perder os movimentos, qual estrada quer que seja a última para seus pés trilharem, qual corpo quer guardar para sempre em suas mãos? ...
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25/03/2016 -
Silêncio e prece
Nesta sexta, o silêncio navega gigante pelo mar. Nem vento há. Nem brisa resta. As tempestades se dissolveram e dos olhos de sol só ficou uma fresta. Nesta sexta, besta de quem fala, de quem faz galhardia, de quem faz festejo. O dia de hoje é de prece, intimidade e cortejo. Hoje a alegria é respeitosa e a viola miúda e sestrosa. Nesta sexta, há uma imensa vontade de se aquietar, de se aninhar nos braços da quietude. Nesta sexta, ficar-me-ei mais calado do que já pude. E não calado de boca, de garganta, mas de coração. É dia de sossegar os pensamentos, de acalmar os sentimentos. Dia de controlar as emoções, de ponderar o sim e o não. Dia recluso. Sexta donde há a recomendação para não se cometer nenhum tipo de abuso. Dia inconcluso, que se repete ano a ano, para ver se aprendemos um dia a partir dos nossos enganos. Dia de silêncio e prece. O silêncio, como já diziam os sábios espíritos, o silêncio é uma prece. ...
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25/03/2016 -
Nosso pacto
Minha doce amada, minha flor de cactos
Perfume que o vento me trouxe, meu rapto
De amor predileto, meu desassossego
Meu afeto. Minha falta de chão, de teto
Meu último abrigo, meu dourado trigo
Meu segredo, meu céu de arvoredo
Todo esverdeado e azulado pela estação
Onde a lua é locomotiva e o sol um vagão
Atrás de outro vagão obedecendo ao ritmo
Da lua em seu mais que completo labirinto.
Infinito balançar marítimo que ainda sinto ...
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24/03/2016 -
Coisa da roça
Os ninhos vazios, nada de ovo, a galinhada de quaresma. Época de semeadura, de aproveitar as águas de março. O vento sopra triste, balançando as folhas de outono num ar frio, anuviado de semana santa. O velho lavrador vai remexendo a terra como nas chagas de Cristo, tirando flor de espinho. A senhorinha de cabelos de algodão se apega com o terço ao tempo em que mexe panelas e bordados. A passarada vai diminuindo a cantoria em respeito à morte do filho do criador. Pelo brejo, os coelhos vão pulando, fugindo das bocas dos cachorros, esbaldando-se com as ramas verdinhas, mas nem sinal de ovos de chocolate por aquelas tocas. A água da mina brota mais fria, como se a terra todo estivesse mais uma vez doída por terem, há milênios, aberto sua carne e plantado uma cruz. O cheiro da vela, as cantigas das procissões e o roxeado das quaresmeiras vão tomando de conta do quadro da roça. O velho lavrador olha para o fundão do horizonte, perdendo seus olhares lá pros confins do roçado, pelo céu riscado de rabo de galo, sabendo, mais uma vez, que o tempo vai desabar sobre os homens.
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24/03/2016 -
Aguas de ontem, hoje e amanhã
O rio não corre para trás
Mas as águas de ontem
Podem se encontrar
Com as do amanhã
Se não ficarem paradas
Portanto, avie
Erga-se, flua,
Vaze e extravase
Rumo ao adiante
O hoje morre ontem
E (re)nasce amanhã
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23/03/2016 -
Preparado estará?
Não importa quando vai chegar, mas o fato de que chegará. E quando esse dia chegar, preparado estará? E quando esse dia bater na sua porta ela ainda se colocará fechada? De nada vale desejar, querer, pedir se não está pronto para receber. É preciso ter merecimento e preparo. De nada vale uma vontade sem o trabalho para possibilitar essa vontade. É como querer colher girassóis sem preparar a terra. E, meu irmão, há muito há preparar em teu íntimo. A lavoura interior necessita de cuidados diários, de um intenso labor e da paciência com o tempo das sementes. Semente alguma desperta porque queremos, exigimos, sentenciamos. Porém, somos nós que damos as condições para que uma semente se torne algo além de uma semente. Tudo é parte de um mecanismo preciso. Há de ter medida para tudo, exceto para o amor que é desmedido por natureza. Ama e ama sempre mais porque mesmo demais o amor ainda será pouco.
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23/03/2016 -
Nasci, vim, rompi
Hoje
Ao raiar do tempo
Nasci
Especialmente
Para te ver
Sorrir
De alma ao vento
Hoje
Ao frigir das horas
Eu vim
Decididamente
Para tecer
O fim
Do que ainda chora
Hoje
Ao quiproquó do dia
Rompi
Inesperadamente
Para viver
Do que
Vai além da fantasia.
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22/03/2016 -
Entre asas e presas
E do caos veio a loucura
Agonia, vazio e tédio
Uma fome sem remédio
A incompletude sem cura.
E da dor nasceu o medo
Que fez crescer a presa
Do segredo que há entre
A tristeza e a alegria.
E da beleza fez-se a ilusão
De que o lado de fora
É o lado real, verdadeiro,
Mas até a linda e forte
Serpente chora sua solidão.
E por não viver por inteiro
Ela treme diante da morte
E não sabendo ou podendo...
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22/03/2016 -
Sonho é sonho
Sonhar é fundamental, porém é preciso ter muito cuidado com o sonho. O sonho existe para nos inspirar nas horas mais difíceis, motivar nossos passos e construções, alimentar nossas almas, pois nem só de pão vive o homem. Porém, temos, no egoísmo, na ganância, na falta de limites da nossa humanidade, a equivocada impressão de que devemos fazer de tudo para transformar um sonho em realidade. No entanto, um sonho deve ser apenas um sonho. Tentar, a qualquer custo, concretizar um sonho implica em uma série de riscos fazendo do sonho um pesadelo. Portanto, tenha consciência de que há amores, projetos, trabalhos que devem continuar existindo para sempre enquanto sonho, cumprindo esse papel em nossa trajetória de inspirar, motivar, alimentar nossas almas. Ao alterar a natureza do sonho, que foi feito para ser sonho, querendo que ele exista de outra forma e em outro meio, causamos distorções, deturpações, reconfigurações no DNA do que sonhamos, de modo que o que se vive a partir de então não é o que um dia se sonhou. E daí não adianta correr ou se arrepender, tampouco culpar o sonho, pois o sonho deixou de existir quando você o tirou da concepção de sonho, abstrato em sua concretude, para torná-lo concreto em sua mais completa abstração.
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