Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

Arquivo

2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Encontrados 30 textos de abril de 2013. Exibindo página 2 de 3.

20/04/2013 - Não, não sou

Não me aponte, pois não sou lápis. Não me amole, pois não sou faca. Não me passe, pois não sou roupa. Não me toque, pois não sou cachorro. Não me jogue, pois não sou lixo. Não me renda, pois não sou bandido. Não me ligue, pois não funciono. Não me peça, pois não sou santo. Não me prenda, pois não sou escravo. Não me quebre, pois não sou consertável. Não me cace, pois não sou caça. Não me salgue, pois não sou carne. Não me acenda, pois não sou vela. Não me roa, pois não sou osso. Não me apague, pois não sou rascunho. Não me julgue, pois não sou réu. Não me acerte, pois não sou alvo. Não me mate, pois não sou um bom defunto. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

19/04/2013 - Nasceu o sol azul

O sol azul nasceu nos confins da existência consolidando as profecias dos livros sagrados. O exército dos sonhos afrodisíacos se levantou e marchou rumo aos raios desse sol azulado. A moça correu de biquíni para se banhar no sol azul. O jovem abriu a boca para beber todo o azul daquele sol. O velho inclinou a cabeça esperando a cura para todas as suas doenças. A mulher abriu os braços querendo abraçar aquele azul como se fosse Cristo Redentor. A criança não entendeu nada, mas achou bonito.
...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

18/04/2013 - Mulher dos rios

Mágica como o Nilo. Cheia de braços como o Amazonas. Colorida como o Azul, o Vermelho e o Amarelo chineses. Desejada como o Ganges. Fria como o Ural. Bela como o Danúbio. Poética como o Tejo. Charmosa como o Sena. Metropolitana como o Hudson. Navegável como o Volga. Pontual como o Tâmisa. Sagrada como o Jordão. Corre às vezes no sentido inverso como o Spree. Perigosa como o Orinoco. Fonte de vida como o Kenai. Folclórica como o São Francisco. Insensata como o Douro. Surreal como o Tinto.
...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

17/04/2013 - Saudade enraizada

Por onde quer que eu vá, por aqui ou em qualquer lugar, levarei saudade. Saudade de um tempo não nascido. Saudade de um desejo proibido. Saudade de um sonho adormecido. Saudade de um sentimento banido. Saudade do que não pode ou não quis acontecer. Saudade do que eu fui impedido de viver. Saudade do que não hei de fazer. Saudade de um mundo paralelo. Saudade do gosto de marmelo. Saudade de um dia rosa-amarelo. Saudade de uma boca. Saudade de uma louca. Saudade do que sempre será pouca.

Minhas mãos estão carregadas de adeus. Meu peito segue cravejado por partidas. Nos meus olhos as imagens de tantas e quantas despedidas. Meus pés tropeçam em tantas separações. O choro de perdas ainda chora em mim. O começo e o meio caindo no fim. A minha razão ficando mais e mais cega a cada ponto das malhas tecidas pelas ilusões. O sim e o talvez sendo sufocados por um sem número de nãos. O encontro e o reencontro nas garras dos desencontros. Uma sensação de velório que me deixa tonto. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

16/04/2013 - Depressivamente assim

Sem mais querer, desqueria-se. Entregava os pontos. Jogava a toalha. Rendia-se por completo. Desistia de projetos, de planos, de destinos. Dava sonhos por perdidos. Abortava todo e qualquer tipo de esperança. Cansada de procurar pela luz no fim do túnel, entregava-se à escuridão. Queria dormir, mas tinha medo de acordar. Eram tantos pesadelos reais. Pesadelos com cara, nome e endereço fixo. Pesadelos que lhe agarram pelos cabelos, pés e pontos fracos.

Já não conseguia mais esconder as lágrimas. Aliás, revirava-se em lágrimas independentemente de hora e local. Sentia-se um lixo não reciclável. Já não se importava em expor caras feias, amarradas, desarrumadas. Não queria disfarçar, fingir, iludir a si mesma ou outro alguém. Aliás, já não agüentava mais ser o que não era. Tomava remédios e drinques com a mesma necessidade. Dentro dela um enorme mar de saudade, com direito a ressaca. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

15/04/2013 - Ó lua cheia

Ó lua cheia clareia minha estrada. Ó lua cheia incendeia minha morada. Ó lua cheia presenteia minha namorada. Ó lua cheia que brilha no fundo dos olhos da minha amada. Ó lua cheia que trilha meus caminhos na alta madrugada. Ó lua cheia filha do amor entre deus e uma fada. Ó lua cheia dos dragões de fogo e gelo. Ó lua cheia das paixões de atropelo. Ó lua cheia das ilusões que arrepiam dos pés aos cabelos.

Ó lua cheia esgarça o meu carretel. Ó lua cheia passa por mim arrastando seu véu. Ó lua cheia laça o meu carrossel. Ó lua cheia enluara o meu papel. Ó lua cheia tara a boca de mel. Ó lua cheia odara do meu céu. Ó lua cheia desce ao chão. Ó lua cheia tece o meu coração. Ó lua cheia, prece da contemplação. Ó lua cheia dança no meio da rua. Ó lua cheia lança minha esperança a sua. Ó lua cheia trança minha alma ainda nua.


Comentar Seja o primeiro a comentar

14/04/2013 - Cansada

Cansada de tanto esperar, ela aconteceu. Cansada de tanto se dar, ela se fechou. Cansada de tanto falar, ela se calou. Cansada de tanto sonhar, ela realizou. Cansada de tanto prender, ela cedeu. Cansada de tanto fazer, ela parou. Cansada de tanto largar, ela pegou. Cansada de tanto amar, ela chorou. Cansada de tanto querer, ela rezou. Cansada de tanto errar, ela se culpou. Cansada de tanto engolir, ela explodiu. Cansada de tanto vir, ela partiu.

Cansada de tanto sorrir, ela se zangou. Cansada de tanto obedecer, ela se libertou. Cansada de tanto andar, ela voou. Cansada de tanto beber, ela caiu. Cansada de tanto prazer, ela transcendeu. Cansada de tanto procurar, ela se perdeu. Cansada de tanto recuar, ela beijou. Cansada de tanto se limitar, ela ousou. Cansada de tanto doer, ela enlouqueceu. Cansada de tanto defender, ela bateu. Cansada de tanto lembrar, ela esqueceu.


Comentar Seja o primeiro a comentar

13/04/2013 - Acordei atrasado

Acordei e o café já tinha esfriado. Acordei e o carteiro já tinha passado. Acordei e o cachorro já tinha passeado. Acordei e o galo já tinha cantado. Acordei e o telejornal já tinha acabado. Acordei e deus já tinha me abandonado. Acordei e o sonho já tinha me escapado. Acordei e o chefe já tinha me ligado. Acordei e minha mulher já tinha me beijado. Acordei e o sol já estava escaldado. Acordei e o jardim já tinha murchado. Acordei e o defunto já tinha sido enterrado. Acordei e o dia já tinha sido rezado. Acordei e a sorte já tinha me procurado e me deixado. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

12/04/2013 - Coréia de mísseis

Como ficarão os sonhos ainda não realizados depois dos mísseis da Coréia? O que vai ser dos casais apaixonados depois dos mísseis da Coréia? Quando as crianças vão dormir sem medo de não acordar depois dos mísseis da Coréia? Como vão ficar as ligações depois dos mísseis da Coréia? O que farão os pássaros depois dos mísseis da Coréia? Quem catará e juntará e colará os estilhaços de humanidade depois dos mísseis da Coréia?

Mísseis que desafiam a vida e a morte. Mísseis que levam o fim. Mísseis de choro. Mísseis de viuvez. Mísseis de gritos. Mísseis que colocam deus em xeque. Mísseis de histeria. Mísseis rasantes, cadentes, incandescentes. Mísseis com remetente e destinatário. Mísseis da separação. Mísseis que rompem destinos. Mísseis que espalham vírus nucleares. Mísseis que nos marcam de guerra. Mísseis que descriam a terra.


Comentar Seja o primeiro a comentar

11/04/2013 - Sobre a dor

Dói o tempo que sobra para não doer. Dói essa felicidade incompleta. Dói esse medo de viver. Dói, o nó da rotina dói. Dói a sina de enterrar tantos sonhos. Dói a falta de oportunidade. Dói o que não deu certo. Dói o que não era para ser. Dói a quebra da ilusão. Dói o silêncio doido. Dói o que nos é proibido. Dói o que nos foi vencido.

Dói a guerra que não cessa. Dói o remendo do coração. Dói a sombra que ronda. Dói a fiada do destino. Dói o olhar fundo, dói. Dói o parto da fantasia. Dói a saudade incontida. Dói a estrada do desencontro. Dói o susto da realidade. Dói o pesadelo não desvendado. Dói a construção descontruída. Dói o adeus anunciado....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

Primeira   Anterior   1  2  3   Seguinte   Ultima