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Encontrados 28 textos de fevereiro de 2013. Exibindo página 3 de 3.
08/02/2013 -
Sem, sem você
Sem você, o buquê fica joga num canto. Sem você, o violão, sem porquê, fica surdo e mudo, sem sentido, sem mi bemol, sem fá sustenido. Sem você, o sol fica sem lua. Sem você, a rua fica sem esquina. Sem você, a mulher fica sem a menina que brinca dentro dela. Sem você, o coração fica sem janela para olhar, para pular, para cometer loucura. Sem você, a vida não passa de um livro sem figuras. Sem você, a bailarina da caixa de música ao rodopiar sente tontura. Sem você, ninguém se acha. Sem você, a cidade fica sem praça, sem movimento, sem se encontrar no mapa. Sem você, a igreja fica sem papa. Sem você, o mundo fica sem sentimento. Sem você, a nuvem fica à deriva num céu sem vento. ...
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07/02/2013 -
Parto de carnaval
Coração de pierrô, alfinetado como almofada de costureira. Corre-corre de carnavalesco. Paixão de folião. Resistência e flexibilidade. Beijo no pavilhão. Colombinas mulatas. Quadra de samba marcada por passos e contrapassos. Grito de carnaval rompendo o silêncio. Carrilhão de fantasias. Procissão seguindo trio elétrico.
Traquinagens de arlequim. Suor e confete, feitos um para o outro. Loucuras ganhando as ruas. Gingado e balançado por todo lugar. Pés em brasa. Anjos se apaixonando por diabinhas. Piratas saqueando a solidão. Super-heróis sendo vencidos pela emoção. Princesas e maltrapilhos de mãos dadas. Estrelas no chão. Blocos de faz-de-conta.
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06/02/2013 -
Memórias
Memórias que vão formando tramas e caminhos ao longo de bordados com rendas, de chitas e trançados com fitas que vão fazendo a cabeça desta baiana de tantos pontos e arremates.
Como um bordado feito à mão e linha, no melhor estilo Richelieu, minhas páginas vão formando imagens de uma obra interior.
Memórias de trabalho, amor e fé. Memórias de feitos, atos e fatos. Memórias primárias, secundárias, terciárias. Memórias secretas e de porta-retratos.
Memórias de sentir, de pegar, de sonhar. Memórias de um tempo, de um espaço, de um sentimento. Memórias de tantas direções, de muitas feições. Memórias acesas, acordadas, revisitadas. ...
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05/02/2013 -
Palavras na cozinha
Palavras areadas. Palavras peneiradas. Palavras no escorredor. Palavras pré-cozidas e cozidas por inteiro. Palavras recheadas. Palavras em fogo alto. Palavras souteé. Palavras moídas. Palavras de vez e maduras na mesma fruteira. Palavras ao alho e óleo. Palavras de avental. Palavras ferventes. Palavras mexidas. Palavras marinadas. Palavras desidratadas. Palavras ensopadas. Palavras de cheiro verde.
Palavras crocantes. Palavras no tabuleiro. Palavras em ponto de suspiro. Palavras sovadas. Palavras de geladeira. Palavras apimentadas. Palavras instantâneas. Palavras cortadas na ponta da faca. Palavras em camadas. Palavras derretidas. Palavras em banho-maria. Palavras lambuzadas. Palavras no azeite. Palavras em conserva. Palavras frescas. Palavras fermentadas. Palavras em calda. Palavras em brasa....
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04/02/2013 -
Dedicatória
O ator dedica a cena mais emocionante do espetáculo a sua amada. O jogador dedica uma aposta de alto risco a sua amada. O jardineiro dedica um jardim de primavera a sua amada. O folião dedica uma fantasia de amor a sua amada. O violeiro dedica um ponteio enluarado a sua amada. O artilheiro dedica um gol de placa a sua amada. O arquiteto dedica uma fachada romântica a sua amada.
O marinheiro dedica seu vai e vem no mar a sua amada. O feiticeiro dedica uma mandinga a sua amada. O escritor dedica as linhas da sua mão de papel a sua amada. O bêbado dedica uma dose a sua amada. O criminoso dedica um assalto ou um assassinato a sua amada. O político dedica um escândalo a sua amada. O cozinheiro dedica um prato bem apimentado a sua amada. ...
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03/02/2013 -
Refestelo
Vento minguante. Sol raso. Sonho moído. Trem de polvilho. Canto mudo. Boneca de barro. Noite febria. Coração de água. Pétalas farpadas. Nós de pirata. Pés suspensos. Palavras viradas. Promessa de barriga. Pássaro de chão. Fruta raiada. Bolo de lençóis. Menina ferina. Trovão azul. Barco torto. Chuva de baixo pra cima. Estrela oca. Índio negro. Ramas de lampião.
Vontade amolada. Nuvem invernada. Poeira de assombração. Sapo de pedra. Linha do destino. Sapato de fuligem. Casa de concha. Adeus no começo. Mulher quebranto. Braseiro de ideias. Morte arrependida. Buquê de pirilampo. Pecado de santo. Segredos de gaveta. Retalhos de superstição. Trova em réstia. Enredo de passaredo. Paixão urucum.
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02/02/2013 -
Longe de tudo
Longe de mim, longe de ti, longe de nós. A vida passa longe de nossos sonhos, de nossos planos, de nossos corações. É como se tudo e todos caminhassem para o mais longe possível de nossos passos. Por mais que há abraços, os abraços estão longe do esperado, do ideal, do confortável. Por mais que há traços de intimidade, a realidade passa longe da vontade de estar junto e mais junto. Por mais que há laços de amor incondicional, a solidão tem brincando carnaval em nossos salões. O que era será dos foliões que se fazem longe quando perto? ...
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01/02/2013 -
Chuva contínua
O sol está afastado por tempo indeterminado. Ordens soberanas. Enquanto isso, a chuva dá expediente todos os dias. Amanhece, entardece e anoitece chovendo por aqui. Tudo cheira à chuva. As coisas mais diversas passaram a ter gosto de chuva. Há uma textura chuvosa que extrapola os limites físicos e infiltra em nosso imaginário. Sim, a chuva que molha nossa pele, que encharca nossas roupas, que nos banha do cabelo ao dedo mindinho também encontra o nosso interior, o nosso avesso, as nossas entranhas. A chuva é tamanha que promessas se afogam, segredos se transformam em náufragos e sentimentos queimados, arrancados, esturricados, brotam com viço. Os pássaros fazem reboliços escapando das gaiolas do nosso coração. O verão vira inverno. O outono passa a ser primavera. A chuva cria sua própria estação. ...
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