Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 31 textos de janeiro de 2013. Exibindo página 2 de 4.

21/01/2013 - Roda que roda

Pela décima quarta vez, deixe a vergonha de lado e entre na roda. Orixá não gosta de canto, portanto nada de uma vida careta, quadrada. Circule. Se quiser ousar, abuse da modernidade transformando sua existência em uma elipse. Rode sem parar de rodar. O mundo é mesmo uma bola, e daí? Rode por ali e por aqui. Vire-se e gire. Rode de forma solitária ou dê as mãos, rodando em conjunto. Rode percorrendo caminhos, deixando marcas que lhe permitam voltar. Pois a roda, por mais gigante que seja, sempre volta ao mesmo lugar. Pode voltar em outras condições, com outro espírito ou motivação, mas retorna ao ponto de partida....
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20/01/2013 - Dia de São Sebastião

São Sebastião do meu Rio de Janeiro, eu estou aqui, bem aqui, pronto para conhecer Oxóssi guerreiro. Sou filho de Oxóssi, o grande caçador. Meu coração solitário depois da solidão da floresta encontrou um amor. Eu me cubro de verde, do verde de Oxóssi que colore o mar. Eu mato a minha sede nas rezas do meu padroeiro. Sou de Oxóssi e de Oxóssi é o meu cancioneiro.

Que a paixão por Iansã sopre o vento das minhas velas, a que queima iluminando o peito aberto de São Sebastião e a que vence as ondas velejando rumo às matas de Luanda. Se São Sebastião é carioca, o meu Rio de Janeiro invoca Oxóssi de Aruanda. Eu quero a fartura e a riqueza que Oxóssi traz, que Oxóssi dá. Para lá ou para cá, levo e me levo na flecha do meu orixá. ...
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19/01/2013 - Fornalha

O coração, como uma fornalha, vai queimando dia após dia tudo o que sou, o que espero, o que fui, o que sinto, o que quero. Meu coração queima o que minto, o que finjo, o que escondo com a mesma veracidade com que minha realidade é queimada. Nesse forno, queimo minha obra, minhas cobras e lagartos, minhas sobras. Os sonhos vividos ou não alimentam as labaredas. Ora essa queimação resulta num calor sem precedentes que extrapola os graus Celsius ora traz um frio latente. Ora transformo-me nessa fornalha, sendo engolido por ela, ora ela é apenas uma fogueira adolescente num campo deserto do meu eu....
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18/01/2013 - Barco meu

O meu barco vai sair do cais dos olhos de uma morena. O meu barco vai seguir mar adentro rumo ao que me disse uma pequena. O meu barco vai ziguezagueando pelas ondas livre da matemática e de seus teoremas. O meu barco vai poético, num sentimento carnal e fonético feito gaivota. O meu barco vai deixar para trás sem pena todos os dilemas da cidade grande. O meu barco é afinado na nota do coração. O meu barco é o tempo que expande sem parar. O meu barco é movido ao verbo gostar. O meu barco tem como comandante um pirata da ilusão. ...
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17/01/2013 - Detrás do muro

Detrás do muro há um mundo desconhecido. Sereias e feras convivem entre belezas e garras detrás do muro. Detrás do muro existe tudo o que lembre o inferno e também o paraíso. O permitido e o proibido se oferecem de diferentes modos detrás do muro. Detrás do muro há uma enorme caixa contendo seus perdidos. Fama, poder e destruição lhe esperam detrás do muro. Detrás do muro reina um tempo novo, capaz de lhe envolver como nunca dantes foi envolvido por nada, por ninguém.

Bruxas e fadas, heróis e vilões, luzes e sombras lhe aguardam detrás do muro. Detrás do muro há plantação de sorrisos e desertos de dor. Deuses rígidos e deusas carentes murmuram detrás do muro. Detrás do muro há desejos de todos os tipos se desejando de todos os jeitos. Há esperanças grávidas e sonhos estéreis detrás do muro. Detrás do muro existem estrelas que não brilham, mas que pulsam e rodopiam como bailarinas. O destino é controlado pelas meninices das meninas, em especial, detrás do muro....
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16/01/2013 - A chuva de Nanã

De manhã à noite, por todos os lados há a chuva de Nanã. Chuva forte e intensa, como a personalidade de Nanã. Chuva tão antiga quão Nanã. Chuva que deixa o céu arroxeado como as vestes de Nanã. Chuva que alivia a alma e pesa o corpo. Chuva que nos curva para reverenciar aos céus, por gratidão ou temor a Nanã. Chuva que transforma toda a terra em lama, a lama da criação de Nanã. Homens e mulheres se lambuzam na chuva e na lama de Nanã, recriando-se em formas e conteúdos. Salubá Nanã!

A chuva de Nanã nos constrói e, descontrói e reconstrói. Na chuva de Nanã há mais sorte do que nas sementes da romã. A chuva de Nanã traz mensagens subliminares, perfumando os ares nos tons e essências da alfazema. A chuva de Nanã nos redimensiona ao mesmo tempo em que nos faz colocar os pés no chão, dando a cada um o seu exato tamanho. A chuva de Nanã encharca o coração, que transborda em sentimentos. A chuva de Nanã cala fundo no espírito, revolvendo tudo o que há de público e de confidencial em nós.


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15/01/2013 - Dormindo

Dormindo, a mulher amada se aninha em braços não menos amados. Dormindo, a mulher amada se veste de cobertas ao mesmo tempo em que se despe como uma lua adormecida. Dormindo, a mulher amada fala baixinho uma série de coisas que só o amor é capaz de entender. Dormindo, a mulher amada fecha os olhos para abri-los em outro universo. Dormindo, a mulher amada exala um perfume poético que inebria o quarto em todas as suas frestas.

Dormindo, a mulher amada se alonga em profundidade. Dormindo, a mulher amada é um retrato fora do porta-retratos. Dormindo, a mulher amada é feita de fogo, de brisa, de algodão-doce. Dormindo, a mulher amada caminha, flutua, volita por outras e novas dimensões. Dormindo, a mulher amada se reencontra com suas faces e facetas. Dormindo, a mulher amada se faz repleta de significados. ...
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14/01/2013 - O ato de sonhar

O sonho é um poço sem fundo, quanto mais se sonha mais se quer sonhar. Quando um determinado sonho está prestes a se realizar ele - o sonho - se alonga ganhando novas dimensões e profundidades só para se distanciar do alcance de nossas mãos. Isso porque o sonho só é sonho enquanto não se realiza. O sonho foge da realidade igual caça foge do caçador. E nós somos seres reais. Seres que não se contentam só com o abstrato, com a possibilidade, com o sonho. Queremos transformar, como espécie de bruxos do concreto, tudo e todos em realidade. Somos nós que afugentamos, perseguimos e matamos nossos sonhos e, até mesmo, sonhos alheios. ...
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13/01/2013 - Mil encontros

Hora a hora, os ponteiros se encontram. De eclipse em eclipse, sol e lua se encontram. De esquina em esquina, ruas se encontram. Olhos nos olhos, pontos de vista se encontram. Corda a corda, acordes se encontram. Perna entre perna, prazeres se encontram. Tom sobre tom, estilos se encontram. Braço a braço, abraços se encontram. Partida a partida, adeus se encontram. Boca a boca, almas se encontram. Página a página, personagens se encontram.

Romance a romance, histórias se encontram. Passo a passo, caminhos se encontram. Viagem a viagem, destinos se encontram. Estação a estação, trens se encontram. De sonho em sonho, ilusões e desilusões se encontram. De café em café, bons-dias se encontram. Asa a asa, pássaros se encontram. De retrato em retrato, passados se encontram. De ciclo em clico, mundos se encontram. De onda em onda, mares se encontram....
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12/01/2013 - Coisas da chuva

Chuva fina. Ar frio. Vento saudoso. Perfume de café. Xícara de poejo. Pão quentinho com manteiga de tacho. Bossa nova. Fatias de queijo das minas gerais. Cantoria de pássaro. Árvore num tom acima do verde. Formigas dentro da toca. João de Barro fazendo festa. O verão cede aos encantos do outono-inverno. Menina dormindo debaixo de cobertas. Papéis em branco espalhados pela mesa. Caneta nervosa. Os sentimentos se transformam em palavras. Desejo de colo. Piano, violão, clarinete... O jardim em ramalhetes. ...
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