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Encontrados 31 textos de junho de 2010. Exibindo página 3 de 4.
11/06/2010 -
A morte da prima-ballerina
As pontas tateiam mais tristes os palcos bailarinos pelo planeta Grand Plié. Pontas enlutadas pela morte de Marina Semenova, a eterna primeira bailarina do teatro Bolshoi. Quando ela brilhava num pas de basque a Rússia ainda era vermelha de União Soviética. Indiscreto, o capitalismo suspirava por aquelas sapatilhas comunistas. Para além da guerra fria, Marina do Lago de los Cisnes, de La Bayardère e de Giselle. Aos 101 anos, a bailarina russa, por mais uma vez, calou o mundo do balé. Por ela, ou melhor, pela ausência dela, o Bolshoi chorou. ...
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10/06/2010 -
Trinta anos
Há quem seja de carne e osso. Eu sou de histórias. Histórias de velho e moço. Histórias que o vento me trouxe, que me contaram e que eu inventei. Histórias do que vivi, vivo e do que hei de viver. Histórias de amor, de medo e de saudade. História da roça e da cidade. Histórias de flor, lua e segredo. Histórias vestidas e nuas, de anjo e inferno. Histórias de inverno e verão. Histórias de assombração. Histórias poéticas e de tamanha fonética. Histórias de chegadas e partidas. Histórias que brotam do chão, que caem do céu, que passam de boca em boca. Histórias de paixão louca. ...
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09/06/2010 -
O velho e os bois
Lá vai o velho bem longe se vai tocando seus bois na estrada que a lua cai. Lua rancheira, tombada como pássaro no cano da cartucheira. Os bois vão passando e a lua iluminando os olhos da criação enquanto o velho vai aboiando pelo velho estradão. Já perdeu as contas de quantas cabeças ponteou por aquelas pontas. Já perdeu as contas de quantas moças deixou suspirando pelas varandas daquelas bandas. Só sabe que coração que extravasa em seu peito é marcado como seu gado, a ferro e brasa.
Lá vai o velho bem longe se vai abrindo porteiras cavalgando na ponteira da comitiva. Comitiva solidão o empurrando pelo sertão. Os bois vão marcando a terra rumo ao pasto lá do pé da serra. E o velho, com fé no dia, se benze com um ramo de guiné depois de rezar uma Ave Maria. Ele toca em frente ciente de que a saudade é uma estrada longa, que se prolonga do amanhecer ao anoitecer. Por isso quando a coruja pia o velho dá um jeito de cair nos braços da viola que chora e assovia dentro do velho peito. ...
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08/06/2010 -
Mulher de San Petersburgo
Abundante de inverno, a mulher amada, nessa época, transforma-se na mulher de San Petersburgo, trazendo em si a nobreza da antiga capital do Império Russo e uma contemporaneidade de glamour inigualável. Causa suspiros e arrepios o caminhar dessa mulher por largas avenidas e canais de frio castigador. O luxo da mulher de San Petersburgo é alvejado pela inveja das parisienses e romanas. Isso porque sua saga histórica é assinada por Pedro, o grande.
A mulher de San Petersburgo está sempre grávida, carregando em seu ventre o berço da sociedade russa. Na boca da mulher de San Ptersburgo eclodem palavras do romancista Fiódor Dostoeysky. Mulher de czares e czarinas. Uma dica: essa mulher possui cenários noturnos e diversão intensa. Como é belo ver o Mar Báltico desaguando nos olhos da mulher de San Ptersburgo. Atenção! Foi sob os pés vermelhos dessa mulher que o exército de Hitler caiu. ...
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07/06/2010 -
Um filme sem final feliz
Quem acreditava que a tecnologia humana poderia impedir uma nova edição do fim do mundo, como acontece constantemente nas telas de Hollywood, pode começar a desacreditar. Nem todo avanço científico nos coloca em vantagem aos dinossauros, que tiveram de presenciar passivamente a Terra ser alvejada por um meteoro gigantesco. E por que este pessimismo todo? Basta olhar a tragédia gerada pelo vazamento de um poço de petróleo. Ninguém, absolutamente ninguém, consegue dar um basta nessa catástrofe ambiental. ...
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06/06/2010 -
Amor solto, south áfrica.
Quero lhe amar entre o Índico e o Atlântico azul, no sul da África do sul. Amar-lhe por entre os vestígios do amor humano que há mais de 100 mil anos se ama por ali. Quero falar que lhe amo em Bantu. Amar-lhe seguindo os elefantes. Quero lhe amar pelas minas de diamantes. Amar-lhe numa diversidade de culturas, idiomas e crenças religiosas. Quero lhe amar infinitamente, pois o índice de expectativa de vida nos obriga a amarmos hoje todo o amanhã. Amar-lhe com a devida licença dos orixás. Quero lhe amar em pinturas e esculturas tribais. Quero falar seu nome nas onze línguas oficiais reconhecidas pela Constituição sulafricana. Quero lhe amar na beleza e na pobreza da south áfrica num amor solto. ...
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05/06/2010 -
Gaza, o território proibido
Ninguém pode chegar a Gaza. Ninguém pode sair de Gaza. Ninguém pode libertar Gaza. Gaza, o território proibido, segundo Israel. Será que o povo de Gaza consegue amar em meio a tanta dor. Será que o beijo beijado lá tem algum gosto diferente de pólvora e medo. Será que as grávidas dão à luz crianças ou prisioneiros. Gaza, tragédia humanitária. Gaza, ária que Mozart não ousou compor. Gaza, horror da tragédia anunciada. Gaza, bíblia revirada.
Quem se atreve a viver em Gaza, morre. Quem tenta socorrer Gaza, morre. Quem sonha Gaza, chora. Chora de pesadelo como criança no meio da noite escura procurando pelo colo da mãe. Gaza não é um país, mas uma faixa. Gaza não é uma civilização, mas um alvo. Gaza não é um lugar, mas um estado de guerra permanente. Gaza é o sonho palestino refém do próprio destino. ...
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04/06/2010 -
Ainda lá
Lá e ainda lá é possível respirar o cheiro de capim molhado impregnado no ar. Lá é permitido desenhar com os pés na terra orvalhada. Ainda lá os pássaros fazem poleiro das galhas de um coqueiro. Lá e ainda lá as santas têm andores de madeira no canto da sala. Lá e ainda lá a vida segue em charretes. Lá as calças rasgadas são remendadas em pedaladas de uma máquina de costura. Ainda lá as bocas têm gosto de ingá. Lá e ainda lá o coração de quem ama é de tafetá.
Lá e ainda lá a chuva nos empurra para debaixo da coberta. Lá até o estômago barulha em som de seresta. Ainda lá é possível fazer festa todo dia com o nascimento de um bezerro, de uma estrela, de uma cotovia. Lá e ainda lá poesia se pega no anzol e o céu está livre do besteirol da televisão. Lá a boneca tem cabelo de espiga de milho e o romance tem mais tomilho. Ainda lá a gente se encanta e espanta com tanta crendice. Lá e ainda lá o amor nos choca sobre as asas da boa e velha caipirice. ...
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03/06/2010 -
O corpo de Cristo
Dia de Corpus Christi. Dia de corpos e cristos. Dia de humanos e reis. Dia de carne e coroa. Dia que me leva aos meus poucos anos de idade e à pequena igreja de Nossa Senhora de Mont Serrat. Nunca me esqueci dos cheiros, das cores e dos sentimentos daquela igreja. Foi em mesas quadradas de madeira pintadas a óleo num tom de azul celeste, que serviam para festas e velórios, que tive minhas aulas de catecismo. Sob as assustadoras olheiras de dona Nair, a catequista, eu desvendei aquele livrinho que falava de pecados, mandamentos e outras informações vitais a um católico. Foi ali também que aprendi a decorar aquelas orações antigas, repetidas de geração em geração. ...
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02/06/2010 -
Para além dos limites
Cheguei ao limite. Aliás, acho que já ultrapassei o limite em alguns passos. Tudo agora parece mais complexo. Ah! Como seria mais fácil caminhar com os pés no chão. Mas eu quis viver com a cabeça nas nuvens. Meu pai queria que eu fosse doutor advogado servidor de carreira. Porém, eu escolhi sonhar. Ou melhor, os sonhos me escolheram como poeta. E não troco os meus romances por nada. Prefiro os meus personagens a muitas pessoas de carne e osso. Aliás, sempre preferi ficção à realidade.
Por isso dou duro para transformar o dia-a-dia em ilusão. Não é fácil viver um conto, uma crônica, um poema por dia. Mas eu tento e invento um caminho paralelo, um violoncelo no meio da rua, um olhar que flutua em outro olhar, um astronauta apaixonado por um escafandrista trocando beijos entre o mar e o luar. Viver transformando pedra em coração é uma tarefa desgastante, angustiante, apaixonante. Por isso, cheguei ao limite. De agora em diante não sei o que mais pode acontecer. ...
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