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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 144 de 320.
03/10/2010 -
Inferno de Dante
Vamos colocar mais água no feijão, afinal, hoje é dia de eleição. E em dias como hoje tem sempre uma boca a mais para comer um pouco da gente, da vida da gente. É tanto candidato querendo tirar o nosso pão e nos deixar só com duas ou três migalhas na mão. Sai pra lá corrupião. Eu renego essa sua prosa barata, seu doutor cramulhão. Hoje tem sempre alguém tentando comprar a sua ideologia, tentando lhe empurrar uma velha fantasia, tentando selar um pacto em troca de alegria.
Hoje é dia de eleição. Hoje um novo tempo pode vingar ou ser sepultado nas próprias urnas, eletrônicas ou não. Hoje alguém vai querer lhe dar um lote, uma cesta-básica, uma dentadura. Cuidado com as promessas, com a ilusão, com as máscaras e com o excesso de compaixão alheia. Hoje é um dia perigoso. As bruxas e os monstros estão soltos. Vale à pena rezar um mistério glorioso pedindo pra ser iluminado e pra não cair em tentação. Pois o demônio, em dias assim, mora ao lado. ...
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19/10/2015 -
Inferno pra baixo?
Se o inferno fica pra baixo por que enterramos nossos mortos? Por que cavamos para encontrar batatas, mandiocas e gengibres? Se é tão ruim lá embaixo por que as raízes das árvores vão a fundo? Por que abrimos buraco para buscar água? Se o inferno é no profundo do mundo o demônio não deve dormir com o barulho do metrô e ter sua casa destruída com escavações à procura de água, petróleo, ouro? Os piratas não tinham medo do fogo do inferno ao enterrarem seus tesouros? Se o inferno fica pra baixo por que as minhocas e tatus não ficam cozidos? Se o inferno fica pra baixo por que a terra é boa pra plantio? Se o inferno fica pra baixo por que ainda não nos acabamos num imenso vulcão? ...
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16/10/2014 -
Inigualável
Na escuridão do dia ela chega de assalto, ensolarada e quente, como se fosse queimar a gente em sua combustão poética. Chega sem ruídos colocando as peças do meu destino em movimento como num tabuleiro de xadrez. Reconheço cada um dos seus silêncios primaveris, que gritam como flores se abrindo. Já parou para pensar nas dores de parto das flores se abrindo para enfeitar seus jardins, suas ruas, seus vasinhos? Pois bem, a mulher que amo floresce calada para enfeitar minha cama, meu corpo, meu lado, minha alma. Eu me comovo com tudo isso e com isso tudo. E mesmo no quarto escuro reconheço nitidamente a explosão de silêncios da mulher amada se transformando em ramas e pétalas. Uma sinfonia natural, delicada, imperceptível para os ouvidos que não se atentam à poesia. Na verdade, ouso dizer que somente um mente apaixonada é capaz de perceber tais notas. Notas musicais e perfumadas que se espalham pelo ar a partir da mulher que floresce como uma fragata deslizando pelos céus da minha imaginação, que é mais real do que muito do que se vê por aí. Floresce, íntima e singular, de forma inigualável na medida exata do amor.
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29/08/2011 -
Injustiças
Injusta é a espera que nunca chega ao fim. Injusta é a maneira que me toma. Injusta é a conta que nunca cessa. Injusta é a fome que roncando se manifesta. Injusta é a quebra de expectativa. Injusta é a seca que não distingue suas vítimas. Injusta é a sofreguidão dos inocentes. Injusta é a batalha entre verdades e mentiras. Injusta é a fogueira onde queimam as bruxas que me habitam. Injusta é a preocupação que não dorme em mim. Injusta é a falta que consome com o auxílio do tempo.
Injusta é a lâmina da descrença que me fere. Injusta é a boca que me abocanha. Injusta é a mão que me tira. Injusta é a língua que nos julgam. Injusta é a mentira que me conta. Injusta é sentença que me obriga a cumprir. Injusta é a palavra com que me apedreja. Injusta é a acusação que me levanta. Injusta é a ira sem propósito. Injusta é a cara feia sem remédio. Injusta é a força bruta que tudo tomba. Injusta é a incompreensão que lhe habita. Injusta é a raiva que toda vez, deslealmente, vence a ternura...
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03/08/2011 -
Inocente ilusão
Ele vivia num mundo surreal. No mundo da lua. No mundo da imaginação. No mundo das canções. Ele vivia num mundo de plumas e molas, capitão do seu colchão à vela. Navegava pelo quarto, enfrentava os pesadelos com pernas de pau e de um olho só. Volta e meia se apaixonava por uma sereia e acordava nu na areia.
Cavava seu jardim à procura de um tesouro perdido. Conversava com duendes, flertava com fadas, passeava em naves espaciais. Cavalgava em um unicórnio pelas florestas e se pegava montado em uma cadeira, pulando pela sala de jantar. Conversava com a lua, se dependurava nela, até que alguém lhe mandasse largar o lustre. ...
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13/09/2011 -
Insolação
Fugir do sol deixou de ser um capricho assim como viver às sombras, na sombra de algo ou alguém, não é mais motivo de crítica. Escapar do brilho do astro é uma necessidade fundamental. Um fator vital para a continuidade da espécie. Os raios violetas castigam, ferem, matam. O calor sufoca. Há um abafamento generalizado solto por aí.
Ao contrário dos corpos dourados, a moda evidencia os corpos pálidos. Enquanto o desejo esquenta, as cores frias refrescam os olhos alheios. O que está em alta é a refrescância das mulheres drops de hortelã. Para os corações de uísque, incluindo os dos caubóis, pedras e mais pedras de gelo. Entram em cena os perfumes cítricos. ...
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25/12/2010 -
Inspiração de Natal
Uma das maiores alegrias de minha avó era colocar os cartões que recebia de parentes, amigos, lojas e vizinhos em sua árvore de Natal. Era uma prova de que era lembrada, amada, agraciada por um universo de pessoas. E ela se sentia feliz em poder reunir corações que andavam distantes nas mesmas galhas de sua árvore branca como neve. A cada cartão recebido, um novo sorriso estampado em seu rosto.
Havia anos em que os cartões eram muitos e não cabiam nas galhas, ficando aos pés da árvore. E os cartões eram grandes e pequenos; coloridos e preto e branco; industriais e artesanais. Independentemente de tamanho, formato, tipo ou assinatura, ela tinha um carinho especial por todos eles. E mesmo com seu pouco estudo, punha-se a ler e a reler os votos daqueles que lhe felicitavam por dias a fio. ...
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20/04/2011 -
Invenção de deus
E então deus inventou você. Para conceber essa invenção, inspirou-se em romances que havia lido na adolescência. Com pitadas de pimenta e pedaços de chocolate, inventou uma mulher no meio do inverno. Uma mulher quente pra se ficar abraçado numa noite fria ou num dia daqueles de céu carregado de chuva. Deus inventou você em caráter de urgência, num instante de carência, numa total inocência.
Deus inventou você num ôfuro ou no furor da criação. Não quietou enquanto não a fez perfeita. Enquanto lhe inventava, cantava cantigas de amor. No entanto, mesmo no auge da cantoria, não se esqueceu de colocar algumas meadas de silêncio em sua alma. Eis a razão dessa mulher que de repente se cala mesmo vestida de palavras. Porque Deus lhe deu camadas e mais camadas de tecidos sobrepondo crônicas, poesias, contos... ...
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15/01/2012 -
Invocação
Eu invoco a energia dos meus ancestrais, sejam eles vampiros, lobisomens, bruxas ou magos. Por todo sangue derramado, por toda magia feita e desfeita nas linhas da minha linhagem. Pelas vítimas e pelos heróis. Pelos genes dos anjos e dos demônios que se entrelaçam em meu DNA. Pelos encantos, feitiços e maldições que habitam em mim. Pelas marcas de nascença, pela trajetória sobrenatural, por todo mistério que há, houve e haverá. Pela luz que me ilumina e pela força que me esconde. Pelos meus eus plebeu, escravo, soldado, poeta e conde. Pelo eterno conflito entre o bem e o mal, entre o carnal e o espiritual, entre o cordeiro e o chacal. ...
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Ipê amarelo
Hoje o dia vai amanhecer como outros domingos. Cor de sol, perfume de pão, canto de galo, grito de criança, conversa na esquina... Mas o vento de agosto vai acentuar o que não tem nome, mas que se acostumou a se chamar de saudade. Ah! Como é triste o vento de agosto. Ah! Como dói o vento de agosto. Ah! Como grita o vento de agosto. Como é difícil estar longe quando se é tão perto.
Hoje, a lembrança fica ainda mais forte. Hoje, em tudo há um quê de falta. Falta um abraço, um beijo, um olhar... Mas nessas faltas, tudo se faz presença. Um sabor, um texto, um gesto... Dos detalhes mais simples faz-se o encontro. Hoje, vou ligar aquele radinho de pilha. Hoje, talvez eu faça carne moída. Detalhes... E são tantos encontros no espelho. As imagens se confundem. E é como se nos encontrássemos para além do espelho. Eis a beleza do sentimento. Ele existe para além do físico, do palpável, do concreto. ...
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