Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 149 de 320.

09/10/2012 - Por mais

Por mais que eu peça, não atenda. Por mais que eu queira, não faça. Por mais que eu sonhe, não durma. Por mais que eu defenda, não absolva. Por mais que eu escreva, não leia. Por mais que eu vá, não venha. Por mais que eu aplauda, não se renda. Por mais que eu me ofereça, não me devore. Por mais que eu grite, não escute. Por mais que eu brigue, não se envolva. Por mais que eu chame, disfarce. Por mais que eu dance, não acompanhe. Por mais que eu esperneie, não ceda.

Por mais que eu negue, confirme. Por mais que eu rasteje, voe. Por mais que eu suba, desça. Por mais que eu escureça, ilumine. Por mais que eu espinhe, floresça. Por mais que eu prometa, não cumpra. Por mais que eu abandone, agarre. Por mais que eu enlouqueça, fique lúcida. Por mais que eu atropele, socorra-me. Por mais que eu perdoe, peque. Por mais que eu abstraia, concretize. Por mais que eu pinte, borde. Por mais que eu regre, quebre. ...
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08/10/2012 - Mudanças

Muda o passo. Muda o ritmo. Muda a estação. Muda o dia. Muda a lua. Muda a roupa. Muda o sonho. Muda a fome. Muda a casa. Muda a rua. Muda o veredito. Muda a dor. Muda o batom. Muda a manchete. Muda a previsão. Muda o vento. Muda a maré. Muda o santo. Muda o sonho. Muda o lençol. Muda o tempero. Muda a cidade. Muda a saudade. Muda a roda. Muda o traço. Muda a intensidade. Muda a pressa. Muda a página. Muda a profundidade. Muda o exemplo. Muda a decoração. Muda o jardim. Muda o sim. Muda o não. Muda a fama. ...
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Comentários (1)

07/10/2012 - Depois do voto...

Depois do voto, ele lhe dá de ombros, ela lhe vira a cara. Depois do voto, eles vão à farra. Depois do voto, ela lhe esquece, ele lhe empobrece. Depois do voto, ela diz não, ele não se lembra de promessa. Depois do voto o poder sobe à cabeça das autoridades. Depois do voto há duas cidades, a deles e a sua. Depois do voto, as máscaras caem e a face fica nua. Depois do voto, a mentira fica mais forte. Depois do voto, de nada vale reclamar da sorte.

Depois do voto, ele lhe cospe, ela não se preocupa com sua tosse. Depois do voto, eles são farinha do mesmo saco. Depois do voto, o que reluzia ouro brilha opaco. Depois do voto, ela lhe engana, ele não lhe chama. Depois do voto, ela não caminha na rua, ele lhe mostra a realidade mais crua. Depois do voto, ela não entra na sua casa, ele só se atrasa. Depois do voto, ele não come mais do seu feijão, e ela tem horror ao perfume do povão. ...
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06/10/2012 - Identidade nas mãos

O que eu trago nas mãos diz muito mais sobre mim do que meu rosto. Quase sempre elas caminham vazias, porém fartas de linhas, e caminho e destinos. A minha alma é impregnada de profecias, de possibilidades, de adivinhações. Mãos tão calejadas quão um coração apaixonado, que trabalha sem parar em nome de um amor maior. Mãos que se dão às outras mãos como eu me dou às ilusões, de forma total.

As minhas mãos trazem papeis, pedaços de jornais, manuscritos apocalípticos, páginas sagradas e capítulos de romances. Esse sou eu – escritos, ditos e não ditos. As minhas mãos trazem uma aliança quadrada, pois o amor que sinto tem os lados paralelos dois a dois. O amor que sinto não tem uma única forma, pois todo quadrado é também um retângulo e um losango. Além do mais, os quadrados são mágicos. ...
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05/10/2012 - Deus, refaça-me

Deus, por tudo o que é de deus, tira de mim todo peso desnecessário. Aparta de mim todas as lembranças inúteis, todas as memórias fúteis, todo o passado mergulhado em vermute. Corta todas as raízes que insistem em me prender nesse chão. Desamarra todas as amarras que me amarram à cegueira da ilusão. Quebra todas as correntes que me rendem à escravidão. Expurga de mim toda teoria barata, toda filosofia acadêmica, toda fantasia em cascata, toda poesia endêmica. Deus, por favor, pelo que lhe resta de amor à humanidade, acaba de uma vez por todas com todos os laços e bagagens que só fazem me segurar nessa terra de adeus e saudade. ...
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04/10/2012 - Pleonástico

Hoje eu acordei no escuro, no amanhecer do dia, com vontade de subir pra cima depois que terminasse de descer pra baixo. O noticiário me trazia a notícia, num panorama geral, de que um desconhecido anônimo teve uma hemorragia de sangue. Sim, ele sangrava sangue. Era chocante, mas era preciso encarar de frente essa realidade ou fugir para outro lugar. Outra informação me informava que o velho almirante, de idade avançada, ficara cego dos olhos. “Que tristeza”, sussurrei baixinho. O pior é que há muitos anos atrás, navegando pelos países do mundo, esse almirante da marinha já havia ganhado de graça um infarto do coração. Maluco da cabeça, um vizinho, que é viúvo da falecida, tentou suicidar a si mesmo. Porém, quando entrou pra dentro de casa decidiu adiar seus planos para depois. O que leva uma pessoa humana a fazer isso? Será falta de unanimidade de todos? ...
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03/10/2012 - E o meu texto saiu por aí...

O texto do dia sumiu. Depois de arrematado e perfumado, desapareceu sem deixar pistas. Onde eu coloquei esse texto? Eis a pergunta que não me deixava em paz. Não me lembrava de onde havia posto aquelas linhas recém-nascidas. Para mim, elas fugiram pela noite alta. Ainda mais porque sempre tenho o cuidado de dar asas às palavras. Poderiam estar no jardim, no alto de uma árvore, submersas na piscina, no ninho de um pássaro, no piscar de um vaga-lume, na curva da lua, nas garras do vento, nos passos de um baile, na fenda de um vestido......
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02/10/2012 - Meu coração ancestral

Meu coração ancestral anda pelos céus de Luanda e pelos mares de Portugal. Meu coração ancestral tem raízes negras, imperatrizes brancas, felizes caboclas e uma boca que fala uma língua cada dia mais louca. Meu coração ancestral é forjado nos tambores do carnaval, nos suores do canavial, nas cores do cafezal. Meu coração ancestral, símbolo de resistência e fé, beija os pés da santa, encanta-se com a magia de uma mulher e bate no ritmo do candomblé.

Meu coração ancestral traz em seu pulsar mais visceral a mistura do doce dos engenhos de açúcar e dos temporais e do sal do choro das portuguesas do cais e das escravas que trazem tristeza e beleza num corpo coberto de sinais. Meu coração ancestral se rende ao instinto animal de ora atacar ora se esconder ora fugir. Meu coração ancestral é negro, branco, mulato, vermelho, azul, verde, grená como um sabiá camaleão, um pássaro místico do ar......
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01/10/2012 - Fechamentos

O pássaro fechou as asas. O teatro fechou as cortinas. A mulher fechou os botões. A nuvem de chuva fechou o céu. O carro fechou a moto. A polícia fechou o cerco ao bandido. A moça fechou a janela. O garçom fechou a conta. A primavera fechou o inverno. Vermelho, o semáforo fechou a passagem. O medo fechou o futuro. O coração zangado fechou o tempo. A mãe-de-santo fechou seus caminhos.

O coveiro fechou o caixão. O ator fechou mais um contrato. O espertalhão fechou o jogo. O manifestante fechou a rua. A falência fechou as portas. A dieta lhe fechou a boca. A fé fechou sua visão. Com sono, a menina fechou o livro. A bolsa fechou em alta. O político fechou com outro político. O sanfoneiro fechou a sanfona. O beijo fechou seus olhos. O vento fechou as feridas. A morte fechou a prosa. ...
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30/09/2012 - Dúvidas frequentes

Para onde vai? De onde vem? Será minha? Serei seu também? Quando acorda? Onde mora? Ainda chora? Será adeus? Será pra sempre ou vai embora? Crê em Deus? Favorece a quem? É de ninguém? Por onde voa? Já caiu em si? Atende por sabiá, cotovia ou bem-te-vi? Tem fome de quê? Paga para ver? Será que dorme? Esconde-se, encara ou foge? Vive por bem ou na marra? Ama ou odeia? O que sonha, deseja, pleiteia? Comédia, suspense ou drama? Qual o último capítulo da sua trama?

Quer o quê? Escreve ou lê? Compra, vende ou doa? Veste cor vermelha, laranja ou azul? Passeia pela lua, pelo morro ou pela zona sul? Será que pede socorro? Segue qual calendário? É de leão, escorpião ou aquário? Quer ser enterrada, cremada ou devorada? Canta para a plateia ou para o espelho? É de maré-baixa ou maré-cheia? Escurece ou clareia? Beijos na boca, nos pés ou nos joelhos? Sem pressa ou aos atropelos? Ama ou põe de cama? Ficção ou realidade? Será a anti-saudade?


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